A serenidade de Elsa: Há mulheres que não precisam dizer nada para ensinar tudo. Basta o modo calmo como vivem e o amor com que sempre cuidaram

A serenidade de Elsa:  Há mulheres que não precisam dizer nada para  ensinar tudo. Basta o modo calmo como vivem  e o amor com que sempre cuidaram
Elsa Ilga Krug Rubel, de 82 anos, vive há três meses no Lar dos Idosos

Quando conversei com Cláudio Rubel sobre sua mãe, percebi o carinho nas palavras e o respeito nas pausas. Ele falava com emoção e a cada lembrança vinha acompanhada de um sorriso.  Assim, entre memórias e gratidão, a vida de Elsa Ilga Krug Rubel, de 82 anos, foi sendo contada.

Elsa nasceu em Alegria, na localidade de Esquina Grápia. Filha de agricultores, cresceu entre o cheiro da terra e o som do trabalho no campo. Os pais lidavam com a lavoura, criavam gado e porcos para consumo, e os filhos — eram oito — aprendiam desde cedo a ajudar nas tarefas. Capinavam, plantavam, lavravam as terras. Todos participavam das lidas da lavoura.

Ele lembra que a mãe contava sobre os dias de frio intenso, das geadas que branqueavam o chão. Para se aquecer, recorriam ao fogão à lenha. Não havia energia elétrica, nem água encanada, e a roupa era lavada no rio. O mesmo rio era palco das brincadeiras mais simples e alegres. As crianças da vizinhança se reuniam, pulavam na água penduradas em um cipó, corriam e subiam em árvores.

Elsa estudou até a terceira série, aprendeu a ler e a escrever. Foi nos bailes da comunidade que conheceu o marido, aos 22 anos. Ela falava que, naquela época, poucos homens tinham coragem de tirar as moças para dançar — mas ele teve. E logo depois da dança, foi falar com o pai de Elsa para pedi-la em namoro.

Casaram-se e foram morar em Lajeado Engenho. Da união, nasceram cinco filhos: Arnildo, Herta Ivone, Arlete Teresinha (in memorian), Romildo (in memorian) e Cláudio. Vieram depois onze netos e treze bisnetos.

O casal seguiu a vida como agricultores. Elsa cuidava das tarefas domésticas, dos filhos e da horta. Fazia pão e comidas saborosas: sopa, carne assada e carne guardada na banha, como era costume na época.

A energia elétrica chegou bem mais tarde. A iluminação era feita com lampião. Religiosa, Elsa mantinha o hábito das orações. Em todas as refeições, os pais e os filhos rezavam juntos à mesa. Aos domingos, compareciam ao culto e Elsa participava das reuniões das servas. Os filhos frequentavam a escola dominical, e todos ajudavam nas festas da igreja.

Em 2001, Elsa e o marido mudaram-se para Três de Maio, depois que se aposentaram. Foram morar na Cohab. Mais tarde, em 2018, vieram morar próximos ao filho Cláudio. O esposo faleceu há oito anos. Ele era o provedor do lar, e todas as necessidades da casa eram providenciadas por ele.

Após a perda, Elsa sentiu muito. Durante um tempo, morou sozinha, com o auxílio constante de Cláudio. Um ano depois, percebendo que a mãe precisava de mais amparo, ele a trouxe para morar com ele. Foi nesse período que a saúde de Elsa ficou debilitada e começaram os esquecimentos.

Atualmente, Elsa está no Lar Amigo dos Idosos de Três de Maio, onde vive há três meses. Antes disso, esteve no lar de Maurício Cardoso. Os filhos perceberam que ela precisava de cuidados especiais. 

Cláudio a visita com frequência  e conta que ela sempre o reconhece. Diz que a mãe é uma pessoa reservada, dócil, e acredita que ela se sente bem onde está.

Segundo ele, Elsa sempre foi uma mulher tranquila, amorosa e cuidadosa. Fez tudo pelos filhos e acolheu os netos com alegria. A casa sempre esteve cheia de amigos, e nunca houve rancores ou brigas. Não saberia dizer qual amigo era o mais especial, pois eram muitos.

Elsa nunca se interessou pelas novas tecnologias e não se prendia muito à televisão. Gostava do seu espaço, do seu silêncio. Sempre respeitou a individualidade dos filhos — “ficava na dela”, como diz Cláudio.

Ele afirma que ter a mãe no lar traz tranquilidade, pois sabe que ela está bem cuidada e sente confiança na instituição. Ele e a esposa gostariam de cuidar dela em casa, mas reconhecem que não têm condições para oferecer os cuidados que ela precisa.

Cláudio fala da mãe com admiração. Diz que ela sempre foi batalhadora — fazia tanto o serviço de mulher quanto o de homem. A maior característica dela é a força.

E conclui, com emoção: “Não tem como não cuidar da mãe, pois ela sempre cuidou da família. Quero o melhor para ela, porque os pais sempre fizeram o melhor por nós.”

Enquanto ouvia o relato de Cláudio, vi em suas palavras o reflexo da vida de uma mulher simples e forte.

Elsa é dessas presenças que, mesmo em silêncio, continuam a ensinar — com a calma no olhar e a doçura de quem sempre viveu com fé, coragem e amor e deixa um ensinamento de que algumas histórias não se apagam — apenas mudam de voz.