TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - A EMANCIPAÇÃO

A EMANCIPAÇÃO
O primeiro a defender a emancipação de Três de Maio foi Monsenhor Vicente Testani, em 1948, e a ideia foi sendo amadurecida na varanda da Farmácia Buricá de Egon Kath, situada ao lado do escritório contábil de Walter Ullmann (Lat. -27.781031 Long. -54.235027), onde era pontual o horário de encontro de diversos cavalheiros que se reuniam no local nos fins de tarde para tomar chimarrão e conversar. Entre estes estavam Walter Ullmann, Dr. Brutus Portinho Nessi, Luiz Bonamigo, Felipe Anibaldo Portz, e o próprio Egon Kath.
A ideia era emancipar o distrito anexando junto a ele o distrito de Horizontina e também os territórios de Independência e São José do Inhacorá – que a época pertenciam a Santo Ângelo -- e ainda Ivagaci (hoje Boa Vista do Buricá) pertencente ao município de Três Passos.
A proposição era ousada, mas foi bem justificada alguns meses depois, em plena campanha de emancipação no Jornal do Dia de Porto Alegre, quando em uma extensa matéria foi dada a seguinte explicação: “Uma das mais importantes vantagens que advirá para os distritos que formarão o novo município de Três de Maio é, sem dúvida, aquela que diz respeito à distância das sedes de suas comunas. Basta considerar o seguinte: os habitantes de Independência, para alcançarem a cidade de Santo Ângelo, têm que percorrer 75 quilômetros, ao passo que, para irem a Três de Maio, há uma distância de menos de 10 quilômetros. De São José do Inhacorá a Santo Ângelo tem 100 quilômetros, ao passo que a Três de Maio apenas 16 quilômetros. De Ivagaci a Três Passos existe uma distância de 65 quilômetros, e a Três de Maio, somente 24 quilômetros. De Horizontina a Santa Rosa o percurso é de 48 quilômetros; sendo que até Três de Maio são apenas 24 quilômetros”.
Mesmo assim, muitos moradores estavam receosos em apostar nesta empreitada, e foi então que decidiu-se organizar uma festa para arrecadar fundos e afastar a ideia de muitos de que a separação de Santa Rosa poderia ser algo pernicioso para todos.
A festa aconteceu no dia 23 de janeiro de 1949 e foi assim retratada por um jornal local e republicada pelo Jornal do Dia de Porto Alegre em sua edição de 09 de fevereiro de 1949, sob o título “Grande festa pró-emancipação”: “Há muito tempo, está se articulando nesta localidade um movimento pró-emancipação deste distrito, que pretende desmembrar-se de Santa Rosa para constituir igualmente um município. Agora é uma comissão que intensifica incansavelmente o movimento. Domingo, dia 23 do corrente, foi realizada aqui, uma bem concorrida festa pró-emancipação. Os festeiros foram os Srs. Luiz Bonamigo, Walter Ullmann e Felipe Anibaldo Portz, coadjuvados por diversas comissões. A Banda Musical do Ginásio Dom Hermeto José Pinheiro e um bem aparelhado serviço de alto-falantes abrilhantaram magnificamente a festa. A mesma esteve animadíssima, pois a população em sua maioria dela participou."
A repercussão desta notícia foi grande. O Governador do Estado, Valter Jobim, que estava em Tuparendi para a inauguração do novo hospital daquela localidade, chegou a comentar sobre o assunto, quando perguntado por algumas pessoas que o cercavam: “O município de Santa Rosa é tão grande, tão rico e populoso que dá margens a tais aspirações, e, se elas viessem a realizar-se, isto aqui se tornaria um viveiro de municípios”.
Um jornalista do jornal A Serra, de Santa Rosa, ouviu o comentário do Governador e na edição do jornal de 31 de março de 1949, escreveu o seguinte texto que ilustra bem o sentimento que pairava nas ruas de Santa Rosa sobre a possibilidade de emancipação de Três de Maio: “Este comentário do Governador encerra em si uma verdade que envolve, ao mesmo tempo, uma grande ameaça para a comuna: o retalhamento de seu território, o desmembramento de distritos importantes e a redução de sua grandeza territorial e econômica”, e afirmava ainda “Estamos assistindo a grande ofensiva de emancipação que está fazendo o importante distrito de Três de Maio. Não negamos àquela população trabalhadora e dinâmica o direito que tem de ser emancipada, de separa-se de Santa Rosa e tornar-se autônoma, fazendo um corte na comuna a que ainda pertence, mas pensamos que desejar aquela mesma população, por intermédio de seus líderes, mutilar a terra-mãe com a anexação do distrito de Horizontina, é querer demais, é pretender esfacelar o município de Santa Rosa e menosprezar o seu próprio nome, que hoje para jubilo de todos os santa-rosenses é um dos mais admirados do nosso Estado”.
Os gritos de emancipação já podiam ser ouvidos em outros distritos também, como na Vila Guaramano (hoje Guarani das Missões), e não havia mais volta, as lideranças do movimento já eram conhecidas e outros mais se juntavam a todo o momento, mesmo aqueles que antes eram contrários à ideia.
Então, para fazer frente à intensa artilharia que era desferida por Santa Rosa através de seus jornais, a comissão pró-emancipação decidiu iniciar uma guerra de propaganda em jornais de Ijuí e Santo Ângelo, a fim de não perder todo o apoio já conquistado para a causa.
O jornal Correio Serrano, de Ijuí, de 6 de abril de 1949, trouxe a seguinte nota: “A comissão pró-emancipação deste Distrito está trabalhando incansavelmente em colher assinaturas dos eleitores favoráveis a esta aspiração, pois a emancipação é nada menos que uma reivindicação justa e necessária, que Três de Maio pretende há muito tempo”.
A intenção de emancipação do distrito foi protocolada junto a Assembleia do Estado com uma justificativa que mostrava a dificuldade de Santa Rosa em administrar todo o seu território. Logo conseguiu-se a aprovação da Assembleia Legislativa do Estado para a implantação de um plebiscito com a intenção de verificar qual era a vontade do povo morador das áreas em questão.
Então a agitação aumentou mais ainda e alguns dias depois, em sua edição do dia 9 de agosto de 1949, o jornal Correio do Povo, trouxe a seguinte matéria: “Com a aproximação do plebiscito pela emancipação de Três de Maio, movimentam-se intensamente inúmeras comissões pró e contra, nos Distritos a serem anexados ao novo município. Quase diariamente caravanas percorrem o interior destes Distritos, desenvolvendo assim uma ampla campanha, na qual tomam parte pessoas de todas as camadas sociais, e mesmo, funcionários de repartições municipais. Em Horizontina, por exemplo, o Sr. Subprefeito luta tenazmente pela conservação daquele território junto ao município de Santa Rosa. Em Santo Ângelo, o próprio Prefeito Municipal percorre pessoalmente os Distritos de Independência e São José do Inhacorá, incitando a população destes territórios a não apoiar o desmembramento. Aliás, o mesmo Prefeito, em carta dirigida à Câmara Municipal, considerou inconstitucional a Lei n° 534 da Egrégia Assembleia Legislativa do Estado, que autoriza o plebiscito para a formação do futuro município de Três de Maio”.
A maioria dos Subprefeitos eram contra a emancipação, e por isso, excetuando-se Três de Maio, nos outros Distritos não se podia prever qual seria o resultado.
Antes de sua viagem para a Europa, onde viria a falecer no dia 09 de janeiro de 1955, o Padre Vicente Testani, acompanhado pelo padre Antônio Ronchi e do procurador da corrente emancipacionista, Dr. Jamil Aiquel, foi visitar a redação do Jornal do Dia, e lá, o religioso que tantas conquistas alcançou para Três de Maio, e que já se encontrava com sua saúde bastante debilitada, proferiu as suas últimas palavras em defesa do distrito, dizendo: “Esta é uma das campanhas mais justas e merecidas”.
Até que finalmente, no dia 25 de setembro de 1949, realizou-se o plebiscito.
A apuração foi efetuada em Santo Ângelo, e de acordo com a cópia da Ata constante do Processo n° 1.373/54, da Assembleia Legislativa do Estado, fls 370/373, existente no Arquivo Público do Estado, o resultado foi o seguinte: São José do Inhacorá: Votos sim: 907 - Votos não: 1.128. A ata explica: “Com a votação verificada neste Distrito, e em face do disposto no artigo 19, inciso I, da Lei n° 534, de 31 de dezembro de 1948, não poderá o Distrito de São José do Inhacorá integrar o pretendido município de Três de Maio”.
Independência: Votos sim: 760 – Votos não: 672. Continua a ata: “Na conformidade com o artigo 5° da Lei n° 534, já mencionada, Independência não poderá ser incorporada ao pretendido município de Três de Maio, uma vez que o município de Santo Ângelo teria quebrada a sua continuidade territorial, pois que, entre o Distrito de São José do Inhacorá e o resto do território deste município, se interpõe o referido subdistrito de Independência”.
Horizontina - Votos sim: 549 - Votos não: 1.352. Ivagaci - Votos sim: 587 - Votos não: 556. Três de Maio - Votos sim: 1.162 - Votos não: 7. A ata conclui: “Em face dos resultados obtidos e das considerações já expendidas com apoio na Lei n° 534, somente restam, para constituir o município de Três de Maio, o próprio Distrito de Três de Maio e o de Ivagaci, uma vez satisfeitas as exigências legais”.
Desta forma, como a constituição do Estado previa como condições essenciais para a criação de um novo município a população mínima de 20 mil habitantes e receita tributária anual não inferior a seiscentos mil cruzeiros, mesmo tendo a população total de Três de Maio e Ivagaci somado 60 habitantes a mais que o exigido por Lei (Três de Maio 12.810 hab. e Ivagaci 7.250 hab), a receita tributária anual acabou ficando em apenas Cr$ 505.157,20, e por isso, não alcançou o mínimo necessário exigido por Lei.
Portanto, nesta primeira tentativa, o distrito de Três de Maio não conseguiu se emancipar.
Participou das pesquisas para elaboração deste artigo o Dr. Prof. Leomar Tesche.
Até a década de 1950, o Distrito de Três de Maio não possuía nenhuma de suas ruas calçadas e os moradores se sentiam esquecidos pela administração municipal de Santa Rosa . O registro mostra os moradores reunidos frente à igreja matriz católica no Dia do Motorista, em 1949
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