A história de Leandra: a menina que cresceu no convívio da família biológica e da família adotiva

Leandra Pipper, 24 anos, foi gerada por Marli Terezinha Alcântara Rodrigues Hoisler, e, aos cinco anos, foi adotada por Vera Pipper. Mesmo com a adoção, Leandra nunca deixou de conviver com sua família biológica. O convívio com as duas mães é um exemplo de lição de amor, cumplicidade, que une laços de sangue e de coração

A história de Leandra: a menina que cresceu no convívio da família biológica e da família adotiva
Leandra Pipper, 24 anos, com filhinha Maria Luíza, a mãe biológica Marli Terezinha e Vera Pipper, a mãe adotiva

Ser mãe é algo difícil de explicar e, mais ainda, de ser. Ultrapassa o entendimento e a razão humana, pois uma criança não é gerada somente no ventre, mas também no coração. A maternidade envolve sonhos e desejos, planos, dedicação, responsabilidades, e muitos desafios. É uma missão que envolve amar, cuidar, proteger.

Neste dia das mães, o Semanal conta a história de uma filha, e suas duas mães: a biológica e a adotiva. Leandra Pipper, hoje com 24 anos, foi gerada no ventre de Marli Terezinha Alcântara Rodrigues Hoisler, mas, aos cinco anos, no ano de 2002, foi adotada por Vera Pipper, que recorda a emoção e não sabe definir “o sentimento inexplicável”, ao decidir pela adoção da menina. 

Mesmo Vera já sendo mãe de dois meninos na época –, a moradora de Independência, inspetora de polícia aposentada, hoje com 64 anos –, sempre teve o sonho de ter uma filha. Para ela, a adoção de Leandra foi como um presente de Deus para a sua família. E os laços que unem mãe e filha do coração, são ainda mais fortes com a convivência de Marli, a mãe biológica de Leandra.

Por parte da mãe Marli, Leandra tem seis irmãos, Marlize e Isabel (em memória), Mateus, Michele, Maicon e Kelly. Já da mãe Vera, são dois irmãos, Jonadan Cândido e Natan. Com 24 anos de idade, Leandra é formada em Radiologia, pelo Centro Universitário UNIFACVEST, Lages-SC, cidade em que morou de 2017 até metade de 2021, quando voltou para Independência.

Nessa reportagem especial, conheça a história de amor, que envolve as duas mães e a filha Leandra, que hoje também é mãe, de uma linda menina de dois anos de idade, chamada de Maria Luíza Pipper Costa.

 

Amor que nasceu ao ver Leandra pela primeira vez

No ano de 2002, Vera recebeu a visita de seu irmão Vilmar Pipper. Ele estava acompanhado de uma linda menina, de cinco anos, chamada Leandra, neta de Maria da Conceição Alcântara Rodrigues, esposa de Vilmar. Na época, a criança morava com a avó.

Vera revela que, quando viu aquela menina linda e carinhosa, teve um sentimento indescritível. “Sempre tive um sonho de ter uma filha, e quando vi a Leandra esse sentimento explodiu em mim”, recorda.

Como Leandra ficava sob os cuidados da avó e Marli tinha mais filhos para criar, Vera viu ali uma oportunidade de adotar a menina. Passado um tempo, Vera foi conversar com Marli, que concordou com a adoção.  Então, ela encaminhou o processo de adoção, que foi tranquilo e rápido. 

Marli conta que que a proximidade de Vera e Maria Conceição foi fundamental. “Se fosse uma pessoa estranha, de outra cidade, eu não teria a mesma reação”.

Na época, o processo de adoção era diferente de hoje em dia. Não havia a necessidade do curso obrigatório de preparação psicossocial e jurídica para adoção e outras legislações que foram aprimoradas ao longo dos anos. A concordância da mãe biológica foi fundamental para o processo de adoção. 

Uma coincidência que une a história de vida de Leandra. Marli havia registrado Leandra como mãe solteira, ou seja sem o nome do pai na certidão de nascimento e Vera, quando registrou Leandra como sua filha, também registrou apenas com o nome da mãe. “O que eu não vou esquecer jamais é que nos primeiros dias ela olhou para mim e perguntou se podia me chamar de mãe. E eu fiquei com tanta felicidade, muito emocionada”, lembra Vera.

Sobre adoção, ela diz que quem tiver a oportunidade e a possibilidade de adotar, deve fazê-lo, porque é uma bênção. “Eu só cresci ao longo desses anos e só tenho a agradecer a Deus por ter colocado a Leandra em minha vida”, diz a aposentada.

 

Convívio com a mãe e família biológica

Leandra ressalta que a mãe Vera sempre fez questão que ela tivesse contato com a família biológica, em especial com a mãe Marli. “A Vera sempre me explicou o porquê de eu morar com ela e que minha mãe Marli sempre estaria presente na minha vida. E assim foi e continua sendo até hoje”, revela a jovem. “Claro, que como criança, eu tive meus ‘desentendimentos internos’, fiquei confusa, mas como mencionei antes, minha mãe Vera sempre me explicou tudo, sanando minhas dúvidas”, diz Leandra.

 

A adaptação à família adotiva

Um ponto que Leandra teve mais dificuldade na infância foi em explicar para as pessoas a sua situação, em especial na escola. “Meus colegas me questionavam muito, ‘por que eu tinha duas mães?’; ‘Como assim?’; ‘Por quê?’. Às vezes a confusão deles me deixava confusa também, chegava em casa e tinha mil perguntas para a minha mãe Vera”, lembra.

Leandra fala que a mãe Vera sempre explicava o porquê de ela ter duas mães e o quanto era amada. “Ter que me explicar aos cinco anos de idade era um tanto complicado, com o tempo fui aprendendo. Como as perguntas sempre eram as mesmas, ficava mais fácil respondê-las”, conclui.

 

Lembranças da infância com as duas famílias

A jovem recorda das visitas que fazia na casa da mãe Marli quando criança. Encontrar os seus irmãos de sangue, abraça-los, brincar e comer a comida maravilhosa que sua mãe fazia e ainda faz. “Lembro-me de um aniversário que eu fui na casa dela, era da minha irmã mais nova, Kelly, inclusive tem fotos desse dia. Toda vez que olho sinto uma vontade de reviver aquele dia, estavam meus irmãos mais velhos; Michele, Mateus e minha adorada irmã Marlize (que infelizmente já nos deixou), meus tios, meu padrasto Samuel, sempre muito atencioso, e que ajudou minha mãe a fazer a festinha, foi um dia incrível, brincamos tanto que eu cheguei em casa e dormi direto”, relata.

Da família adotiva, Leandra fala das lembranças com seus irmãos Natan e Cândido e seu primo Mateus. “Uma das minhas lembranças marcantes é de quando comecei a ir na escola. Fui com meu irmão Natan e logo no meu primeiro dia fiz amizades, que inclusive levo até hoje, como minha amiga Sandriéli. Recordo-me que fui brincar na pracinha da escola junto dela e outras crianças, caí e machuquei meu joelho em uma “amarelinha” (tenho a cicatriz até hoje). Cheguei em casa feliz da vida e fui contar para minha mãe. Ela também ficou contente, disse que eu sempre teria amigos na escola e de fato, sempre tive, poucos, mas tive. Graças a esse meu primeiro dia de aula, eu ganhei um joelho machucado, amizades incríveis e ótimas recordações”, relembra.

 

Avó Conceição, uma terceira mãe

Para Leandra, a avó Maria da Conceição, hoje com 77 anos, foi e continua sendo muito importante na vida dela. “Não foi ela que me deu a vida, nem a que me adotou, mas que me deu muito amor e tanto me ensinou. Cuidou seus filhos e netos. Minha vó foi minha mãe juntamente com Marli e Vera. Ela é uma peça fundamental em minha vida, uma parte da minha base; sempre conto as histórias dela a minha filha e quando nos encontramos eu sinto que somos ligadas não só pelo tipo sanguíneo, mas pelo amor genuíno que temos uma pela outra. Ver ela e minha filha juntas é um verdadeiro presente de Deus, minhas duas Marias preferidas no mundo”, conta.

 

A mãe Leandra

Leandra agora é mãe. Maria Luíza Pipper Costa tem dois anos de idade. “Minha filha, Maria Luíza é o amor mais puro que eu já senti. Maria e eu temos nossa história, cheia de desafios e escolhas. É tudo o que eu sonhei. Ela é a página mais linda que Deus escreveu em minha vida. Maria mudou minha história para melhor. Nunca imaginei sentir algo assim. Hoje me vejo mais motivada a buscar o melhor, pois aquela menina está ali, precisando de mim. Eu busco dar o melhor exemplo a ela”, diz emocionada.

Leandra garante que vai passar os ensinamentos de suas mães e de sua avó. “Quero passar para minha filha esses princípios que elas me ensinaram”, considera.