ECOS DO TEMPO: Uma vida de fé, amor e superação: a história de Helga Lúcia Ludwig Schneider

Helga Lúcia Ludwig Schneider, 87 anos, nasceu e cresceu em Lajeado Cachoeira, interior de Três de Maio, levando uma vida simples. Foi a caçula de oito irmãos – quatro homens e quatro mulheres – todos já falecidos. A história de Helga é contada pela filha Tânia, que com um brilho saudoso no olhar, diz que a infância da mãe foi marcada por brincadeiras ingênuas, como o pega-pega, o balanço improvisado nos potreiros e até os “trabuquinhos” feitos de taquara, que lançavam bolinhas de cinamomo.
Os estudos foram até o 3º ano no colégio das freiras, o atual Cooper Dom Hermeto. Ela ia para a escola montada em um cavalo petiço, junto de seu irmão. Esse detalhe, que ela repetia com emoção para os filhos e os netos, mostra a força e simplicidade de sua vida.
A filha conta que a mãe sempre foi muito trabalhadora: ajudava na lavoura, ordenhava vacas, cuidava da horta e do farto pomar. A vida no campo foi dura, mas também marcada por conquistas que fortaleceram a família. 'Ela dizia que gostava de pegar a enxada e capinar, como se fosse um gesto de amor pela terra que sustentava a todos', diz a filha, lembrando que a mãe se orgulhava de saber que seu pai (Jacó) ajudou a construir a Igreja Matriz, se unindo aos mutirões de trabalhos.
Em 1964, o destino a uniu a Ari Schneider, com quem teve três filhos – Odir, Tania e Valdir. A família foi crescendo, trazendo também os netos, Luis Eduardo (in memorian), Daiane, Bruna e Milena, que sempre encontravam em Helga o aconchego e o sabor das cucas, sopas e carnes assadas, acompanhadas do bom chimarrão servido pelo vô Ari.
Os relatos de Tânia revelavam a rotina de uma época simples, mas rica em afeto: o frio rigoroso aquecido pelo fogão a lenha, as roupas lavadas no rio e fervidas no tacho, a carne conservada na banha, o lampião iluminando as noites sem energia.
Helga era uma pessoa de fé, rezava todos os dias e devota de Nossa Senhora. Mas a vida também trouxe dores profundas, como a perda do neto Luís Eduardo em um acidente de trânsito, o câncer de intestino que ela venceu e mesmo na doença dizia: “não tenho doença, não tenho nada”, como forma de enfrentar as adversidades com coragem.
Ela veio para o Lar depois de um AVC. No início, se alimentava apenas por sonda, não falava e estava acamada. Há três anos no Lar, Helga apresenta melhoras. Voltou a se alimentar por via oral, consegue sentar-se e, mesmo sem falar, reconhece as pessoas que ama. Sempre que o esposo Ari chega para visitá-la, Helga reage com expressões de felicidade que não precisam de palavras para serem entendidas.
No fim da entrevista, ficou a sensação de que a história de Helga não é apenas dela, mas de uma geração inteira que construiu a vida com esforço e coragem, sem jamais desistir. Uma vida que, mesmo hoje em silêncio, continua falando por meio de gestos, dos olhares e das memórias guardadas com carinho por quem a ama.
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