TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - A RÁDIO COLONIAL

TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - A RÁDIO COLONIAL

A RÁDIO COLONIAL

Na década de 1950, o rádio no Brasil passou por um momento de grande crescimento e consolidação, marcando a sua chamada "Era do Ouro", e foi em princípios desta década que Germano Dockhorn, destacado empresário da Vila Três de Maio e ex-vice prefeito de Santa Rosa, com o apoio de Getúlio Vargas, elegeu-se deputado federal, atuando no Congresso Nacional no Rio de Janeiro de 1951 a 1954, período em que angariou diversas conquistas para a região. 
Neste período também, viabilizou a concessão de um canal de rádio que pudesse transmitir assuntos de interesse local e aproximar mais uma parcela da população rural espalhada pelo amplo território do município ao qual Três de Maio fazia parte. 
Assim, em 25 de fevereiro de 1955, três dias antes da instalação do município de Três de Maio, era assinada pelo Ministro de Viação e Obras Públicas, Rodrigo Otavio Jordão Ramos, a portaria de n° 189, que autorizava a Rádio Colonial Ltda instalar uma estação radiodifusora de ondas médias, com uma potência de 100 watts, na frequência 1490 KHZ. No entanto, a emissora ficaria sujeita à possível interferência noturna de uma emissora de Uruguaiana, já que esta operava na mesma frequência, porém, com a potência de 5 kw.   Em 5 de março daquele ano, já era publicado no Diário Oficial da União a Portaria n° 189, que abriu a caminhada da Rádio Colonial Ltda. 
As primeiras instalações da emissora estavam situadas num prédio localizado na mesma esquina onde atualmente existe a rádio, só que na época, pertencente a José Alfredo Gallas. Logo a rádio começou a funcionar em caráter experimental, tendo como seu primeiro locutor, Elmer Glienke, oferecendo músicas com dedicatórias para aniversariantes, noivos e enamorados, através de bilhetes que eram levados até a rádio, pagando-se uma pequena taxa para a veiculação da mensagem. Após mais de um mês operando desta forma, a emissora foi colocada no ar, em cunho oficial, no dia 3 de maio de 1955, e seu primeiro diretor foi o advogado e jornalista Bruno Dockhorn, filho de Germano Dockhorn. 
Com a intenção primordial de levar entretenimento e assuntos de interesse aos moradores da região, que em sua maioria eram agricultores, foi dada a emissora o nome de “Rádio Colonial”, nome com o qual a imensa maioria de seu público se identificava. Quando instalada a antena de seu transmissor, por um técnico vindo do Rio de Janeiro, chamado Omero Simon (o mesmo que instalou também a Rádio Guaíba), este esqueceu-se de avisar que os cabos de sustentação da antena necessitariam ser regulados de tempos em tempos, e uma noite, durante um temporal com muitos raios, a antena dobrou em dois lugares e quase veio ao chão, quando então a rádio ficou por um dia inteiro fora do ar, até que um técnico de Três Passos veio para consertá-la. 
Com a rádio já em plena atividade, Germano Dockhorn começou a organizar melhor as coisas. Trouxe para trabalhar com ele os locutores Mauro Dockhorn de Azevedo, Adalberto Schmidt e Ubirajara Lopes, de Ijuí, e colocou como seu gerente comercial o Sr. Amauri Pinheiro, que ficou responsável por vender os espaços na programação e organizar as propagandas do comércio. Logo entrou também no quadro de locutores a Sra. Iolanda Bombardelli, primeira locutora mulher da rádio. Com o passar do tempo, começaram a aparecer vários outros locutores de fora, que vinham, trabalhavam, ganhavam prestígio na cidade, não pagavam entrada nos bailes nem no cinema, compravam fiado pelo comércio, namoravam as moças solteiras, e depois de  algum tempo, se iam embora, deixando pelos cantos algumas moças iludidas chorando, e às vezes, alguns comerciantes também.  
Mas não se sabe se por azar ou por vontades escusas, uma tragédia estava no caminho da Rádio Colonial em seus primeiros meses de existência, e vários acontecimentos suspeitos já indicavam que algo poderia acontecer a qualquer momento. Certa noite, a casa do transmissor, que sempre ficava chaveada, teve sua fechadura arrebentada por alguém que colocou lá dentro uma pilha de lenhas, mas que, por algum motivo, não chegou a conseguir acender.  Porém, na madrugada do dia 18 de agosto de 1956, um repentino incêndio destruiu completamente todas as instalações da emissora. A moderna aparelhagem, discoteca, arquivo, tudo virou cinzas em poucos minutos, sem que nada pudesse ser salvo. Quando o fogo foi notado, nada mais foi possível fazer, tal a violência das chamas, muito favorecidas em virtude da forte ventania que ocorria no momento. No prédio, estava instalado também o escritório de advocacia de Bruno Dockhorn, cuja biblioteca e outros pertences foram completamente devorados pelas chamas. Foi solicitada a vinda de peritos da Polícia Técnica de Porto Alegre para averiguações, porém, não se chegou a nenhuma conclusão. Mas apesar de tudo ter sido destruído, não faltou um só instante de colaboração do povo para recolocar a emissora no ar novamente. Foram trazidos alguns aparelhos de rádio de Três Passos e os munícipes fizeram empréstimos e doações de outras peças indispensáveis, além das doações de incalculável número de discos, de modo que, apenas dois dias depois, no dia 20 de agosto, a emissora já voltava a funcionar, mas em outro local, numa casa velha de madeira situada na Travessa Montevideo (atual Travessa Bruno Dockhorn), bastante próxima ao local do incêndio, onde permaneceu por cerca de dois meses até poder retornar para o antigo local, só que desta vez, em um prédio próprio.
 Em 1964, após o exílio do presidente da República a época, João Goulart, e a tomada do controle do país pelos militares, foi destacado para Três de Maio um pelotão de aproximadamente trinta soldados que se instalaram no prédio desativado da Cooperativa de Produtos Suínos de Buricá, situado na esquina da Avenida Santa Rosa com a Rua Horizontina. Os soldados fizeram inspeções por todas as repartições públicas do município e também na Rádio Colonial. Naquela manhã todos que estavam na rádio foram pegos de surpresa, e o jovem Honorato Foletto, de dezessete anos de idade, cunhado de Bruno Dockhorn, que naquele momento trabalhava como programador da emissora, vendo os soldados descerem dos veículos empunhando armas, por receio do que poderia vir a acontecer, fechou-se em uma sala e fingiu continuar tranquilamente com seus afazeres, torcendo para que ninguém o achasse lá dentro. 
Logo adentrou o prédio um grupo dos que pareciam ser os mais graduados, e sem quaisquer rodeios ou formalidades foram logo perguntando: “Quem responde pela rádio?”. Imediatamente apresentaram-se todos os funcionários e diretores que ali estavam no momento, e começou-se um rodízio de perguntas e questionamentos que foi gradualmente tornando o ambiente mais tenso. Enquanto isso, outros soldados passaram a inspecionar o local, e foi nesse momento que um deles abriu a porta da sala onde Honorato se encontrava, e este, sabendo que do lado de fora da sala haviam cerca de dez outros soldados munidos com fuzis e metralhadoras, respondeu ao soldado com um sorriso, fingindo tranquilidade: “Bom dia!”. O militar secamente o mandou sentar-se e enquanto lhe fazia perguntas, inspecionava calmamente todas as gavetas que encontrava. Em uma delas, achou algumas flâmulas de João Goulart e Leonel Brizola, políticos desafetos do regime, e neste momento lhe perguntou: “O que é isso aqui?”. Honorato respondeu: “Isso eram umas coisas que estavam penduradas na parede e foram colocadas aí!”. 
Naquele tempo, era costume políticos entregarem flâmulas para outras autoridades políticas em eventos para os quais eram convidados, ou em visitas oficiais, e o proprietário da Rádio Colonial, Germano Dockhorn, que vinha de uma longa trajetória política, possuía várias delas. Além disso, era de amplo conhecimento que Germano Dockhorn possuía afinidades com o presidente da República João Goulart e com o deputado federal, Leonel de Moura Brizola, tendo Goulart, inclusive, visitado Germano em Três de Maio alguns anos antes de se tornar presidente, assim como também o então governador do Estado, Leonel Brizola, por ocasião da inauguração da Escola Normal Rural Getúlio Vargas, em 1959. 
Também, poucos meses antes, Germano Dockhorn havia acabado de deixar a prefeitura municipal de Três de Maio, após quatro anos como prefeito municipal (1960 – 1963), cargo para o qual havia sido eleito concorrendo pelo PTB, partido que o regime militar extinguiria em pouco tempo através do Ato Institucional n° 2. Talvez devido a todo este histórico do proprietário da rádio, o soldado pediu a Honorato que lhe entregasse a transcrição da programação da emissora entre a semana final de março e início de abril daquele ano, período em que os militares se insurgiram e tomaram as rédeas do poder no país.  
Honorato lhe respondeu que não possuíam a transcrição solicitada, e então, ele e Pereira Santos, que respondia naquele momento pela direção da emissora, foram conduzidos para a base dos militares a fim de serem interrogados e seus depoimentos registrados. Pereira Santos foi o primeiro a ser interrogado, e enquanto dava seu depoimento, Honorato ficava na antessala ouvindo o murmúrio das falas e o barulho da máquina de escrever que registrava todo o depoimento. 
Finalmente, após algumas horas, e tendo os militares descoberto que Honorato era menor de idade, desistiram de interrogá-lo, e os dois foram levados de volta à rádio, mas desta vez com os soldados mais tranquilos, fazendo comentários mais simpáticos com relação a cidade e seus moradores. 
A partir dali, foi necessário somente compreender e não escapar das regras do jogo que os militares estavam ditando para o país. Em 1969, devido ao falecimento do diretor Bruno Dockhorn, a gerência da emissora passou a ser conduzida pelo professor e também jornalista Miguel Puretz Filho, que permaneceu no cargo até 1974, quando então, o já experiente Honorato Foletto assumiu a função. 
Em 3 de outubro de 1976, o Ministério das Comunicações determinou à emissora a frequência de 1460 KHZ e 1000 wtts de potência, 01 kw. A partir de 1988 a Rádio Colonial passou a contar com três estúdios auxiliares, localizados respectivamente em Boa Vista do Buricá, Alegria e Independência. 
Em 1995, Honorato Foletto se aposentou e entregou o destino da emissora aos seus sobrinhos, Bruno Rogério Dockhorn e Ana Cristina Dockhorn, os quais continuam à frente da emissora até os dias de hoje. 
Em 12 de janeiro de 2018, a Rádio Colonial passou a operar em frequência modulada, com a inauguração da frequência 94,7 FM, e continua mantendo fielmente o seu compromisso inicial de animar, aproximar e informar a comunidade sobre os assuntos que são de seu interesse.

Revisão do Dr. Prof. Leomar Tesche, do Historiador Orlando Trage e de Honorato Foletto

 

Ano 1963 - Programa O GRANDE ESPETÁCULO apresentado aos domingos de manhã pelo locutor Hamilton Brasilia diretamente do palco do Cine Imperial. Tinha calouros e de tudo mais um pouco

 

Do alto a esquerda: não identificado, Joao Ubirajara Lopes, Bruno Dockhorn,  Mauro Dockhorn Azevedo, Dirceu Jaime Meurer, Miranda Herath, Zeno Eugênio Schaeffer, Hildor Wendlan, Brízida Foletto, Noemi Bonfada, Venilda do Carmo e Eldo Wotrisch