Lajeado Cachoeira: Cinco toneladas de lixo em apenas dois quilômetros
Aparelhos de TV, monitores, cadeiras e centenas de peças de roupas estão entre os inúmeros objetos descartados irregularmente no Lajeado Cachoeira. Na ação realizada no último sábado, em pouco mais de dois quilômetros – a extensão total é cerca de 15km – foram recolhidas cinco toneladas de lixo por um grupo de voluntários. A ação integra o Projeto de Revitalização e Preservação do Lajeado Cachoeira, que é conhecido pelas suas belezas naturais
Voluntários tiram 5 toneladas de lixo do Lajeado Cachoeira
Ação integra o projeto de revitalização e preservação do riacho que é conhecido pelas suas belezas naturais
Quem passou pela praça Henrique Becker Filho, de Três de Maio, até a última quarta-feira, 25, ficou se perguntando de onde saiu todo aquele lixo que estava exposto no local. Eram nada menos que cinco toneladas de resíduos sólidos recolhidos do Lajeado Cachoeira, no último sábado, dia 21. A iniciativa integra o Projeto de Revitalização e Preservação do Lajeado Cachoeira, idealizado pelas empresas Infrasul e Schlosser, com apoio técnico da Caé Assessoria Ambiental, de Santa Rosa, e dezenas de voluntários.
De acordo com Marcelo Fábio Ohlweiler, sócio e administrador da Infrasul, todo o material foi recolhido em um trecho de apenas dois quilômetros - passando pelos bairros Pedreirinha e Carolina até a cascata. “Devemos ter recolhido somente um quinto do lixo, em apenas três horas, com a participação de 90 voluntários”. Marcelo explica que a ação superou as expectativas e que não foi recolhido mais porque faltou estrutura. “Nós não acreditávamos que conseguiríamos tudo isso. Na hora, tivemos que improvisar muita coisa. Se tivéssemos mais um caminhão, teríamos recolhido umas 10 toneladas”, destaca. Segundo ele, a ideia é fazer mais três ou quatro ações desta para reduzir o lixo no local. Uma delas deve ser realizada no mês de dezembro.
A ideia de expor o lixo recolhido no centro da cidade foi uma forma de sensibilizar a comunidade. Os resíduos sólidos recolhidos foram destinados para uma empresa de recolhimento que fará o processo de destino final.
Sobre a sensação de ver todo aquele lixo, Marcelo conta que ficou emocionado. “Poder ver o resultado do trabalho é gratificante. Nós precisamos de mais pessoas, mais empresas, mais voluntários que pensem dessa forma. Nós como empresa, tanto a Infrasul, quanto a Schlosser, vamos apoiar outras campanhas também. Não precisamos ser os idealizadores. Entendemos que se cada um conseguir motivar uma ação que traga retorno para a sociedade, teremos, com certeza, um município muito mais desenvolvido e muito mais próspero”, justifica. Para Marcelo, a união da comunidade é fundamental para motivar e resolver problemas que o poder público não consegue resolver sozinho.
Como surgiu o projeto
Marcelo Fábio Ohlweiler, sócio e administrador da Infrasul, é um dos idealizadores do projeto
O projeto teve início há cerca de cinco meses. “A ideia nasceu dos nossos passeios de bicicleta aos finais de semana”, conta Marcelo. Ele explica que a região que o Lajeado Cachoeira percorre é um local que todos os ciclistas conhecem pelo passeio chamado ‘caminho das cascatas’, devido às quedas de água. “É um lugar que tem sua beleza natural. O pessoal acaba tirando fotos. Só que junto dessa beleza natural foi encontrado lixo de todo tipo. E isso começou a incomodar. Como sou ciclista e o Rafael Schlosser, proprietário da Schlosser Digital, também é, juntamos um grupo de amigos e começamos a discutir o que poderíamos fazer para melhorar isso”, conta.
Das conversas, surgiu a ideia de buscar apoio de outras empresas para ajudar a resolver a questão. “O projeto em si nasceu dessa forma. Começamos a nos reunir, fazer postagens e tudo começou a acontecer”, relata. O grupo fez um mapeamento dos pontos mais críticos do riacho. Professores, que já faziam caminhada ecológica com os alunos, começaram a ajudar e o projeto começou a tomar corpo. Inclusive empresas de engenharia ambiental começaram a entrar em contato para auxiliar no projeto.
Mais do que recolhimento de lixo
O projeto visa muito mais do que o recolhimento de lixo. Passa pela conscientização, educação e um trabalho junto a administração municipal. “Recolhimento de lixo todo mundo já fez. Nosso projeto vai muito além. O recolhimento faz parte do processo, mas precisamos trabalhar junto com a municipalidade nas questões de tratamento de esgoto, que é algo que sabemos que não será de uma hora para outra. E, também para evitar que o lixo chegue lá, porque nem todo o lixo que está lá é da comunidade ribeirinha”, enfatiza.
Entre as soluções apresentadas pelo projeto estão: contenções com redes nos bueiros, contenções através de bueiros cestos, o bueiro ecológico. “É uma série de coisas que dá para trabalhar com a municipalidade no desenvolvimento do sistema sustentável. “Precisamos pensar em ações para que o projeto consiga ganhar corpo e consistência. São empresas tecnicamente pequenas que estão fazendo o projeto, e é possível, através da união de todos, obter um bom resultado”, ressalta.
Engajamento das pessoas da comunidade
O projeto inclui, ainda, trabalho educacional na comunidade. Nos bairros Pedreirinha, Carolina e Oriental já foram distribuídos flyers sobre o Lajeado Cachoeira e a importância de descartar o lixo nos locais adequados. Instituições de ensino também foram procuradas para trabalhar a questão educacional.
Também faz parte do projeto a campanhas de plantio de árvores para recuperar a mata ciliar no percurso do rio “É a sementinha pequenininha que estamos plantando”, explica Marcelo.
Como participar
Toda ajuda é bem-vinda. Para participar do projeto, basta entrar em contato preenchendo um formulário na página Facebook.com/LajeadoCachoeira ou através do WhatsApp da Infrasul, 3535-3984.
Projeto conta com apoio de empresa de assessoria ambiental
Quantidade de lixo no leito e nas margens do rio impressionou profissionais da área
A equipe da Acaé Assessoria realizou todo o levantamento técnico do local
A Acaé Assessoria Ambiental, de Santa Rosa, está participando do projeto de revitalização e preservação do Lajeado Cachoeira. Segundo a bióloga Carine Zambonato, o convite para integrar o projeto partiu de um de seus idealizadores, Marcelo Ohlweiler. “Fomos convidadas a participar do projeto, tomamos conhecimento do mapeamento que já havia sido executado pela empresa Geoe Topografia e Engenharia e, ao realizar a visita na área, identificamos a necessidade da realização de um diagnóstico socioambiental e definir ações de curto, médio e longo prazo, tendo em vista os impactos ambientais observados". A bióloga revela que foi encontrado grande quantidade de resíduos: entre odor; esgoto urbano, que é lançado no curso hídrico; a proximidade de moradias com o curso hídrico; a ocupação da área de preservação permanente (APP), tanto urbana quanto agrícola; o baixo volume de água, entre outros.
Após a identificação dos problemas sociais e ambientais, de acordo com Carine, o grupo buscou empresas e instituições parceiras para realizar diversas atividades, que vão além de campanhas de recolhimento de resíduos. "Entre as ações está identificar a origem dos resíduos que estão sendo lançados no curso hídrico; definir pontos de coleta de água para análise em laboratório; firmar parceria com instituição que possa realizar o monitoramento da qualidade da água; identificação dos pontos de lançamento de esgoto; mapeamento das áreas de preservação permanente (APP’s); elaboração de programa de educação ambiental; firmar parceria com o órgão público municipal e propor a regularização fundiária para a adequação da ocupação irregular através de programas governamentais como o REURB, por exemplo. Essas são apenas algumas ações identificadas durante o diagnóstico preliminar. Até a conclusão deverão surgir novas proposições”, explica.
Os maiores desafios
Para a equipe da Caé, o maior desafio do projeto é recuperar o rio em condições que possibilite as pessoas usufruírem dos espaços, podendo banhar-se nas águas do Lajeado Cachoeira, ou seja, devolver as condições originais do recurso hídrico.
Outro desafio é a mobilização e sensibilização social, de forma que as pessoas desenvolvam consciência sobre a necessidade de adotar práticas domésticas e cuidados com o local; agregar mais pessoas à causa ambiental e ao projeto de revitalização do Lajeado Cachoeira; envolver os órgãos públicos no planejamento e execução das atividades; ter disponível toda a infraestrutura necessária para a execução das atividades propostas e manter as pessoas envolvidas com o projeto.
Quantidade e variedade de material descartado
Sobre as cinco toneladas de lixo recolhidas no último sábado, Carine se disse surpresa. "Comum é não ter resíduos nos cursos hídricos. Eventualmente nos deparamos com situações parecidas, principalmente em cursos hídricos que passam por dentro das áreas urbanas. Porém, esse volume de resíduos recolhido no último sábado, nunca tínhamos presenciado uma situação como essa", relata.
Sobre o sentimento com a ação feita, a equipe relata que é de alegria ao ver a quantidade de pessoas mobilizadas pela causa, "com sensibilidade suficiente para se colocar no lugar do outro, misturado com a tristeza por ver a situação e saber que o local vem sendo negligenciado por tanto tempo". "Não conhecíamos o Lajeado Cachoeira e, portanto, desconhecíamos a situação em que se encontrava. Parte do nosso dever foi cumprido, porém sabemos que ainda temos um longo caminho pela frente", finaliza.
Voluntários se engajaram na campanha
Alunos e professores da escola Castelo Branco atenderam ao chamamento dos organizadores e aderiram à campanha
"Eu acho muito legal estar aqui, porque é muito importante para o meio ambiente. Aqui tem muito lixo, e eu acho que não vamos conseguir limpar tudo. Também fico triste porque não sei se as outras pessoas irão cuidar, mas estou feliz por estar ajudando."
Elisa Petry Signori, 9 anos
“É a primeira vez que eu participo de um projeto de recolhimento de lixo, é algo muito interessante, e pelo o que estamos vendo aqui, algo muito necessário. Ao chegarmos ao local conseguimos ver muito lixo, então acho que este projeto é algo muito positivo.
O que estamos fazendo aqui é importante se tiver frutos, se mais pessoas acharem interessante e se mobilizarem. As pessoas não precisam vir até aqui limpar/recolher, mas precisam cuidar, colocar o lixo no lugar certo, isso já ajudaria muito”.
André Schmitt, 33 anos
"Estamos muito surpresas com a quantidade de lixo que encontramos, mas estamos felizes por estarmos contribuindo com a comunidade e com o meio ambiente. Este projeto é muito importante, estamos tentando dar o exemplo para as pessoas se interessarem por esta causa, se mobilizarem e onsequentemente contribuírem.
Este espaço pode ser muito bonito, inclusive, a sociedade poderia frequentá-lo, como um espaço de lazer. Em nossa opinião, para conscientizar a população a não jogarem o lixo na mata ciliar e no curso d´água, teria que ter a notificação de cada família para levar uma penalidade (multa), se aumentar o lixo nas áreas do trajeto do Lajeado Cachoeirinha, onde realizamos a limpeza”.
Eduarda Luiza Gohlke, 17 anos e
Kelly Beatriz Bonmann, 18 anos
“Eu estou espantada com o tanto de lixo que encontramos, já é a segunda vez que eu participo de um projeto como esse, e sinto que as pessoas ainda não estão conscientes deste processo de limpeza.
Com a pandemia, acredito que a sociedade tem começado a analisar e a sentir que precisamos de mais espaços de natureza. Com este projeto, estou confiante de que as pessoas cuidem mais, porque tem vários setores envolvidos, tanto comércio, como os professores e alunos,e consequentemente acaba chamando mais atenção para a conscientização.
A participação dos jovens é muito importante, porque é a partir de ações como essas que a mudança irá acontecer”.
Jucelia Lori da Silva Hubner, 52 anos
“Estar aqui é uma experiência única, eu gosto muito deste tipo de projeto, principalmente projetos ambientais e sociais e como eu vi a publicação no facebook, resolvi participar. Eu já havia feito este trabalho antes, quando estudava no colégio Dom Hermeto, nós limpamos este mesmo rio, e eu já esperava encontrar todo esse lixo de novo aqui. Acredito que as coisas só irão melhorar quando as pessoas se conscientizarem e também quando tiver mais investimentos nesta parte de reciclagem e na produção de materiais que não sejam plásticos”.
Guilherme Ricardo Hubner, 25 anos
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