Golpe do Nudes: número de casos caiu em 2022, mas é preciso ficar atento aos golpistas na internet
Em 2021 foram 16 registros na Delegacia de Polícia de Três de Maio. Em nove meses de 2022, foram quatro ocorrências registradas, uma redução de 75%. Apesar da diminuição dos casos, a subnotificação é recorrente. ‘Muitas vítimas não fazem boletim de ocorrência por vergonha ou medo da repercussão no meio familiar’, diz o delegado João Vittório Barbato
Golpistas se passando por mulheres jovens e com interesse em conversar com homens em busca de relacionamentos virtuais. Mensagens por meio de aplicativos, com o intuito de agradar a vítima e com envio ou troca de fotos íntimas. Assim se apresentam os diálogos entre estelionatários às vítimas do chamado ‘Golpe do Nudes’.
É recorrente a divulgação na imprensa de notícias dando conta de vítimas que depositaram grandes quantidades de dinheiro em contas sob ameaças. Segundo levantamento da Polícia Civil de Três de Maio, no ano de 2021, foram 16 registros desse golpe. Entre janeiro e outubro de 2022, são quatro ocorrências registradas – uma redução de 75% até o momento. Contudo, há registro na região de um caso recente em que uma vítima chegou a transferir R$ 200 mil ao cair neste golpe.
Em entrevista ao Jornal Semanal, o delegado João Vittório Barbato acredita que o número de casos deste tipo de crime deve ser superior ao registrado. “O número de casos de pessoas que cai neste golpe é bem maior, porque muitos acabam ficando com vergonha de ter caído no golpe e até com medo da repercussão no meio familiar. Por exemplo: um cara que é casado, fica com medo de que a mulher fique sabendo e a vítima nem faz o registro. Ou até, diante do pavor que sentiu, pensando que efetivamente havia algum policial envolvido, fique com medo de represálias, o que não ocorre por parte desses meliantes”, explica.
Conforme o delegado, as tentativas de golpes são ainda mais corriqueiras. “Estima-se que dezenas de pessoas que são contatadas acabam não registrando por não ter ocorrido o crime, mas siginifica um grande número de tentativas”.
Geralmente as vítimas são homens, na maioria com mais idade
Barbato comenta que as vítimas são praticamente todas do sexo masculino. “Normalmente são pessoas de mais idade. A partir dos 40 anos, há um maior número de vítimas, mas já aconteceu de jovens também caírem nesse golpe”, diz.
De acordo com delegado, normalmente se lida com a vaidade da vítima. “A vítima, muitas vezes, acaba sendo atraída pelo contato de golpistas se passando por meninas jovens e a pessoa fica envaidecida, aguçando a imaginação e em razão disso, a vítima acaba mantendo esse contato. Recebe fotos íntimas desse contato (golpista), inclusive podendo fornecer fotos íntimas suas para o golpista, fazendo uma troca”, contextualiza. Ele complementa ainda que “esse tipo de conversa é muito rápido”. Às vezes começa com um contato no Facebook, e rapidamente pede um contato via WhatsApp e já quer trocar fotos. São coisas que ocorrem muito rapidamente e a vítima acaba se envolvendo, sem perceber que é uma cilada”.
Após o contato, criminosos partem para a extorsão
Em um segundo momento, os golpistas começam a extorquir a vítima. “O golpista se utiliza de vários artifícios. Se passando por uma pseudovítima, ou entrando uma terceira pessoa na conversa dizendo que a menina se suicidou, ou que teve algum prejuízo sério, e começam a pedir vantagens financeiras”, detalha.
Já houve casos em que a quadrilha utilizou de cenários falsos, com uso de banners, fazendo alusão a uma delegacia de polícia, realizando uma encenação com um pseudodelegado, às vezes utilizando de dados de delegados que realmente existem, forjando que a vítima estaria respondendo a um processo criminal, para que obtenha dinheiro para encerrar os processos.
Os golpistas, normalmente são de Porto Alegre ou região metropolitana, ou ainda de outros estados, tendo inclusive integrantes de quadrilhas comandando de dentro de presídios.
Delegado da Polícia Civil de Três de Maio, João Vittório Barbato
Vítimas devem registrar ocorrência se efetivarem transferências em dinheiro
O delegado Barbato reforça que no momento em que vítima cai no golpe, precisa pegar os extratos bancários e comparecer à Polícia Civil para realizar o registro. “Na medida do possível, ir até o banco, ver até que ponto é possível fazer uma reversão daqueles depósitos, ou bloqueá-los, à medida que a pessoa não consiga retirar na ponta, para tentar diminuir o prejuízo. Depois ir atrás para uma responsabilização criminal”, pondera.
Com a alteração da lei (n° 14.551/2021), as investigações de crimes de violação de dispositivo informático, furto e estelionato cometidos de forma eletrônica foram modificadas. Para o delegado, a alteração tornou a investigação mais demorada. “Hoje, a investigação tem que ser feita no local onde está a vítima do estelionato. Muitas vezes o golpista é de Goiânia, e isso dificulta a nossa investigação. É preciso instaurar o inquérito, tem que ir atrás para onde foi o depósito, muitas vezes são contas em bancos digitais, sem a agência física. Às vezes, no mesmo golpe, o estelionatário pede vários depósitos, todos em contas diferentes, inclusive para estados diferentes, utiliza de contas de pessoas ‘laranjas’, que deram o nome para a conta, mas que não tem nem noção de que se trata de um golpe. E no que entra o dinheiro a quadrilha efetiva o saque”, detalha.
Na avaliação do delegado, se a investigação fosse realizada onde se obteve a vantagem, a polícia daquele local poderia ter mais chances de buscar um telefone ou um computador. “São investigações muito demoradas, envolvem precatórias para outros estados, oitivas de pessoas para outros estados. É bem frustrante a investigação nesse tipo de golpe e, muitas vezes, você não descobre os golpistas, ou descobre e a pessoa é um ‘laranja’”, explica.
Mesmo assim, o delegado salienta que “é importante que a pessoa preserve todos os contatos, tanto do WhatsApp ou do Facebook, as conversas, e isso vale para qualquer tipo de golpe. Tudo o que disser respeito ao golpe, tem que ser preservado, como forma de prova”.
Fique atento ao contato de estranhos
Para Barbato, a identificação desse tipo de golpe passa por questões óbvias. “Quando as coisas são muito fáceis. Por quê uma menina de 17, 18 anos vai fazer um contato com alguém de 60 anos, para trocar intimidades? Por quê ela não vai fazer isso com um menino da idade dela? E mesmo assim, existem jovens que caem no golpe. Então a pessoa sempre tem que desconfiar quando uma coisa que aparece do nada”, orienta e complementa: “não somente neste tipo de golpe, mas em qualquer golpe que ocorre por meio da internet, é importante que as pessoas bloqueiem esses contatos estranhos, ou de contatos de pessoas que realizem ofertas muito fáceis”, salienta.
Barbato acrescenta que “tudo que é muito fácil, que acontece do nada, a pessoa tem que desconfiar. Quando a pessoa não tem muita intimidade com esse tipo de contato eletrônico, procure alguém da família que tenha mais conhecimento. Pois é preciso ter muita cautela, principalmente quando envolve transferência de dinheiro, inclusive nos golpes em que estariam se passando por algum familiar ou amigo, para obter alguma vantagem”.









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