A vida dos três-maienses pelo mundo afora
A três-maiense Aline Francieli Griebler, 32 anos, vive em Portugal há 6 anos. Mudou-se para o país europeu para cursar Mestrado em Psicologia e trabalhar na área. “Nunca tinha pensado em sair do país até viver a experiência do intercâmbio em 2011 e 2012. Depois disso, morar fora do Brasil era apenas uma questão de tempo”, diz a jovem três-maiense que vive na cidade do Porto, uma importante cidade costeira da região noroeste de Portugal, distante cerca de 315 km da capital Lisboa. No momento, Aline não pensa em voltar a viver novamente no Brasil.

Filha de Delcio Griebler e Marilene Didio, Aline cursou Licenciatura em Psicologia pela Setrem, concluída em 2013. Entre os anos de 2011 e 2012, ainda durante o curso, Aline passou por uma experiência que mudou a vida: um intercâmbio de um ano na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Assim que concluiu o curso superior, a jovem iniciou de imediato uma especialização em Problemas do Desenvolvimento Infantil e Adolescente, além de um curso de formação em Tanatologia, concluído em 2016.
Então, Aline decidiu fazer mestrado e dar continuidade a sua carreira profissional fora do país. Chegou a Portugal no ano de 2016. “Sem dúvida, Porto foi a minha escolha. Além de ser apaixonada pela cidade, já conhecer a cidade e ter deixado amigos queridos da época do intercâmbio, fizeram o melhor lugar para recomeçar”, considera.
Como o país exige formação em mestrado para exercer a atividade de psicóloga, Aline iniciou o curso em Psicologia Clínica e da Saúde, na Universidade de Fernando Pessoa, formando-se em 2018.
A três-maiense em Highlands, na Escócia
Diferenças e semelhanças entre Brasil e Portugal
Para Aline, apesar do mesmo idioma que o Brasil, existem muitas diferenças na língua portuguesa falada no país europeu. “O modo de ser e de se expressar é muito diferente. O povo português, na sua grande maioria é mais reservado, menos afetuoso e bastante pessimista”, revela, ressaltando que comida tradicional portuguesa também é muito diferente. "Mas consegui me adaptar em pouco tempo. Aqui também há muitos restaurantes brasileiros".
Já o clima é bem parecido com o do Rio Grande Sul. “Contudo, os meses de inverno são muito mais extensos e o frio é contínuo nos meses de outono, inverno e metade da primavera”, revela.
Desafios e conquistas
Os trâmites para a legalização, o acesso aos serviços para estrangeiros, além das fronteiras foram os maiores desafios em solo português. Conseguir contrato de trabalho (equivalente à carteira assinada no Brasil) dependendo das áreas também não é nada fácil.. “Durante esses anos vivi um percurso de muita instabilidade em nível profissional. Uma das maiores conquistas é estar trabalhando na minha área – Psicologia –, ser valorizada e procurada pela qualidade do meu trabalho. Poder fazer a diferença na vida das pessoas é realmente o significado de sucesso para mim”, diz a três-maiense.
Saudades e rotina
Não estar mais vezes com a família e não participar de momentos importantes de seus familiares lhe rendem as maiores saudades. “Há dias que sinto vontade de receber o abraço de quem está há mais de 10 milhas de distância... não é fácil", complementa.
Apesar disso, ela costuma visitar o Brasil uma vez por ano. “Nesse ano ainda não foi possível, devido às novas responsabilidades profissionais que assumi e não tinha disponibilidade de dias de férias suficientes para realizar uma viagem tão longa”, lamenta a psicóloga.
“Sempre digo que ‘nunca se deve dizer nunca’, mas nesse momento não tenho nenhuma pretensão de voltar a viver no Brasil”. Mesmo assim, a jovem não sabe se permanecerá morando em Portugal, já que ela tem apreço por muitos países europeus e que oferecem melhores condições de trabalho.
Aline revela que a rotina de trabalho está bastante preenchida. “Trabalho numa instituição sem fins lucrativos com projetos financiados pelos Fundos Europeus. Realizo o planejamento e execução sessões do programa Bairros Saudáveis com crianças, jovens e adultos, nos empreendimentos sociais de Vila Nova de Gaia (cidade vizinha ao Porto).”
A três-maiense também realiza acompanhamento psicológico em projetos sociais e apoio domiciliário a idosos acamados, além de atender em seu consultório particular de modo presencial e online.
Saúde pública portuguesa
Aline conta que há muitas controvérsias quanto ao Sistema Nacional de Saúde (SNS). Mesmo assim, a experiência da três-maiense até hoje tem sido bastante positiva. “Todos os anos realizo exames de rotina sem nenhum custo. Tenho conseguido consultar e/ou entrar em contato com a minha médica de família com facilidade. Também sempre tive encaminhamentos rápidos em situações de doenças, com prescrição de exames, todos gratuitos", explica.
Em Portugal as famílias dispõem de um médico de clínica geral que os acompanha. Há um aplicativo por onde é possível contatar um médico, acessar a prescrições médicas, resultados de exames e certificados de vacinação.
"Para consultas com médicos especialistas, o encaminhamento é realizado pelo médico da família, que atende pela Unidade de Saúde da Família - USF. Dependendo da gravidade da situação, pode-se levar alguns meses. Eu tive apenas uma situação desse gênero e fiquei à espera cerca de 7 meses para ser chamada ao hospital, mas não era um quadro emergencial”, revela Aline.
Após os 30 anos, as mulheres são chamadas de tempo em tempo a rastreios para evitar alguns tipos de doenças, como o câncer do colo do útero.
Aline em Serra da Estrela, importante ponto turístico de Portugal,
localizado na região do centro do país
Custo de vida em Portugal aumentou muito nos últimos meses
O custo de vida das cidades maiores do país vem aumentando consideravelmente, sendo valor do aluguel o principal fator que tem pesado no bolso de quem vive em Portugal. Aline explica que um apartamento com um quarto no centro do Porto custa em média € 700,00 (cerca de R$ 3.690,00), no subúrbio € 400,00 (R$ 2.100,00) e em Lisboa os valores são ainda mais elevados.
A luz elétrica também é cara. “Como as casas não são preparadas para o frio, no inverno é necessário utilizar aquecedores, e a conta onde moram duas pessoas é de 70€ a 100€ .
Os preços do supermercado também têm subido com frequência desde o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, o que não era habitual, assim como os combustíveis, porém, os valores também baixam conforme a realidade econômica atual, registrando também deflações.
O salário mínimo português é um dos menores da Europa. Em 2022, passou para € 705,00 (R$ 3.715,00), e a média salarial no pais é de cerca de mil euros (R$ 5.270,00).
Receptividade aos estrangeiros
Portugal considera-se um país muito receptivo com imigrantes. Porém, na prática isso nem sempre acontece.
O país é escolhido por brasileiros e angolanos pela facilidade com o idioma. "Mas também vem muitas pessoas – a maioria aposentados – de outras regiões da Europa, como da França, Alemanha, Suíça que vêm pelo clima e pelo baixo custo de vida perante outros países com valor salarial mais elevado a Portugal.
Mercado de trabalho e relações de trabalho
A três-maiense destaca que atualmente existem muitas vagas de trabalho em setores como construção civil, hotelaria e restauração, contudo, são exigidas qualificações específicas, que muitas vezes dificulta a ocupação dos postos de trabalho.
O contrato de trabalho equivalente a carteira assinada brasileira possui uma carga horária de 40h semanais, com 22 dias de férias anuais, além de direito a subsídio de férias e de Natal, recebendo 14 meses de salário por ano. "Não é meu caso, tenho conhecimento de benefício equivalente ao fundo de garantia existente no Brasil.".
Os profissionais emitem um recibo mensal com o valor acordado com a instituição ou empresa pelo número de horas trabalhadas. É necessário deduzir a Segurança Social (cerca de 24,5%) e o Imposto de Valor Agregado - IVA (23%), sendo que algumas profissões são isentas, como a psicologia clínica. Quanto ao Imposto de Renda é de decisão do trabalhador independente, caso não faça, dependendo dos gastos que foram declarados, poderá ter que pagar uma diferença quando entregar a declaração anual. “Os encargos fiscais são bastante elevados em Portugal”, avalia a psicóloga.
Morar fora do Brasil exige resiliência e determinação
“O meu principal conselho para quem quer viver no exterior é ter resiliência e determinação. Não é fácil ser imigrante, não é fácil buscar o nosso lugar em outro país. Nem sempre somos tratados com o respeito que merecemos. É necessário saber filtrar muita coisa, adaptar-se à cultura e formas diferentes de ser e viver. No meu caso, admito que sou afortunada pois nesses anos todos tenho encontrado bons amigos no meu caminho e sempre foram uma fonte de apoio quando necessitei”, pondera.
A jovem acredita que todas as decisões que tomamos refletem em consequências positivas e negativas. "Cabe a cada um decidir o que vale a pena. No meu caso, adoro viver na Europa, gosto do estilo de vida europeu e principalmente da facilidade e rapidez que consigo estar em outros países. Sou uma amante de viagens, gosto de conhecer lugares, pessoas e culturas e pago o preço para viver esta realidade, mas é um 'preço' que até o momento considero valer a pena. Porque realmente o que faz sentido na vida nos acrescenta um valor imensurável!”, conclui Aline.
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