ECOS DO TEMPO: "Costurando memórias com Dona Rosa"

ECOS DO TEMPO:
A Dona Rosa, como é carinhosamente chamada, nunca fez curso para costureira e nem tinha manual, mas pode-se dizer que era autodidata. Costurou até quando suas pernas permitiram

Dona Darlicia, mais conhecida como Dona Rosa – nome de flor e alma de guerreira – nasceu em Campo Novo, onde o céu é largo e a infância corria solta entre os milharais. Caçula de sete irmãos, ela cresceu num cenário onde sabugos de milho viravam bonecas e a vida ensinava a costurar os dias com coragem. Com apenas 1 ano e 8 meses, perdeu o pai. Um silêncio doído ficou em seu lugar. Mas a mãe, mulher forte como raiz de árvore antiga, criou sozinha os sete filhos, plantados num pedacinho de terra de sete hectares. 

Dona Rosa só foi até o terceiro ano da escola, mas aprendeu o que era essencial: ler, escrever e, acima de tudo, se virar. “Aprenda tudo, minha filha. A vida não dá ponto sem nó”, dizia a mãe. 

E foi assim, puxando linha com a vida, que ela se fez costureira – comprou uma máquina de costura e sem curso, sem manual, só na base da observação e do talento que costurou enquanto teve forças.

Na Colônia, onde o vento leva e traz recados pelas janelas, conheceu o amor da sua vida: o vizinho. Casaram-se, vieram morar em Boa Vista do Buricá e ali costuraram uma história de 42 anos de casamento, dois filhos e três netos. “Ele era um homem bom, trabalhador, ajudava em tudo. Até lavava a louça!”, conta ela. E com os olhos brilhando diz: “meu esposo é minha maior saudade”.

Hoje, aos 67 anos, mora no Lar Amigo dos Idosos. A casa dela em Boa Vista ainda existe, intacta, como uma fotografia viva. Mas foi no Lar que reencontrou a alegria de ter companhia e ouvir risadas nos corredores. “Aqui me sinto em casa. Lá eu estava muito sozinha”, confessa.

Teve de colocar uma prótese no joelho, e desde então andar sozinha ficou difícil. Mas nada impede sua alma de seguir leve, costurando lembranças com linha invisível.

Para os jovens, Dona Rosa deixa um recado:

“Respeitem os pais. Eles sabem das coisas. E quando forem casar, não é para largar depois de dois meses, viu? O casamento é feito pra durar.”

Dona Rosa, com seus tecidos de histórias, vai costurando a vida – ponto por ponto – com amor, sabedoria e uma agulha chamada esperança.
 

PROJETO ECOS DO TEMPO
APOIADORES:
Diretoria da Associação Tresmaiense dos Amigos dos Idosos
Amara Werle - Jornal Semanal 
Betina Cesa - Nossa Revista
Narjana Pedroso - 
@npagenciacriativa - gravação e edição dos vídeos
Luciana Thomé Chedid (Luka) Loja O Boticário  - cabelo e maquiagem 
Arlene Bender - entrevistas 
Miréia Bohnen - edição escrita das histórias 
OBS: as entrevistas e publicações foram autorizadas pelos familiares.