“As dificuldades emocionais de crianças e adolescentes são exacerbadas pelo estresse familiar, isolamento social, interrupção do convívio escolar e incerteza sobre o futuro”
Afirmação é da psicóloga Carina Mayer Mirowski. Ela também ressalta que a saúde mental de crianças e adolescentes foi afetada pelo longo tempo longe do ambiente escolar
Para falar sobre a saúde mental das crianças e adolescentes, que foi bastante afetada pelo longo período de restrições; isolamento social e longe do ambiente escolar, o jornal Semanal entrevistou a psicóloga Carina Mayer Mirowski. Ela aborda ainda a importância dos pais neste momento de volta às aulas presenciais e quais os sinais de alerta para buscar ajuda em atendimento especializado.
Saúde mental de crianças e adolescentes longe da sala de aula
Carina destaca que o ano de 2020 foi um ano muito desafiador para todos. Além da mudança de rotina e novos hábitos, afetou também outros setores como saúde, educação, organização financeira, entre outros. A psicóloga diz que os reais impactos sofridos pela pandemia ainda são desconhecidos porque o momento ainda está sendo vivenciado de forma adaptativa.
Dados de um resumo de políticas sobre a pandemia emitido pela ONU (Organização das Nações Unidas) no ano passado, mostraram que houve significativo aumento do sofrimento psicológico durante a pandemia. Tristeza pela perda de entes queridos, choque pela perda de emprego, isolamento e restrições de movimento, dinâmica familiar difícil, incerteza e medo pelo futuro. Segundo a ONU, as pessoas que mais precisam de ajuda são os profissionais de saúde, idosos, adolescentes, jovens e aqueles com condições de saúde mental preexistentes, além dos envolvidos em conflitos e crises.
“As dificuldades emocionais de crianças e adolescentes são exacerbadas pelo estresse familiar, isolamento social, interrupção da educação e incerteza sobre o futuro. O retorno às aulas presenciais de crianças e adolescentes trouxe para pais a incerteza de vivenciar esse momento de forma natural, pois muitas coisas trouxeram uma inadequação em sua rotina e consequentemente transmitem uma insegurança para os filhos que retornam a esse convívio social tão importante para o desenvolvimento”, diz.
Conforme a psicóloga, o distanciamento social também trouxe grandes prejuízos às crianças e adolescentes que demandam atendimentos especializados, principalmente aquelas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) que em sua maioria já possuem um prejuízo significativo de comunicação e interações sociais, pois além da necessidade de socialização por parte desses grupos, a estimulação necessária não foi possível para muitos durante esse período. “Portanto, pais que acompanham os mesmos, agora com a retomada das aulas presenciais precisam lidar também com o medo e a angústia da readaptação do filho no contexto social e escolar”, orienta.
Pais podem preparar os filhos psicologicamente para o retorno às aulas presenciais
A psicóloga explica que os pais podem auxiliar nesse momento de retomada das aulas presenciais, estabelecendo novamente uma rotina diária para auxiliar a criança ou adolescente a se organizar. “O compartilhamento e socialização é fundamental para crianças e adolescentes em sua estrutura psíquica, pois fornece trocas fundamentais para o aprendizado em diferentes áreas como atenção, cognição, assim como construção de relacionamentos e habilidades básicas sociais. No contexto que nos encontramos com limitações de relações é importante que os pais forneçam um espaço seguro para que a criança ou adolescente possa se expressar, falar sobre si e compartilhar coisas que deseja, minimizando esse impacto dos encontros sociais restritos nesse período, isso também contribuirá para momentos de controle de ansiedade gerada pelo mesmo fator”, justifica.
Carina lembra que educar e ensinar a criança ou adolescente sobre os sentimentos que está vivenciando nesse momento também é um auxílio muito eficaz para diminuição de ansiedade frente as situações que surgirem. Os pais podem buscar leituras e até mesmo auxílio psicológico para isso.
A importância de controlar a ansiedade de pais e filhos
Ansiedade, medo, insegurança, desregulação emocional são algumas demandas que crianças e adolescentes vivenciarão nesse momento de retorno ao convívio social e educacional tomado de cuidados e restrições. “A dificuldade em (re)estabelecer vínculos através das restrições e cuidados também é algo notável em ambientes escolares, visto que os mesmos precisam compreender e retomar dia a dia a importância do distanciamento social neste momento”.
Conforme a psicóloga, pesquisas mostraram uma alteração do sono de crianças e adolescentes neste momento, pois o período sem as aulas presenciais permitiu uma organização diferenciada, ou até a falta dela em ambientes domésticos, o que proporcionou que essa faixa etária opte em dormir mais tarde que o habitual. “A rotina faz parte da vida de crianças e adolescentes, e quando ela é alterada por algum fator, pode gerar sentimentos de desconfortos ocasionando momentos de tristeza, raiva e angústia”.
A psicóloga reforça a importância de momentos em família, com a prática de alguma atividade física que seja prazerosa para todos, como mais um método que pode ajudar na diminuição da ansiedade. Jogos e brincadeiras também são fundamentais para o desenvolvimento infantil. Também é importante a participação dos pais na vida escolar, oferecendo um ambiente seguro para que a criança ou adolescente possa desenvolver esse novo ciclo saudável. “Um sinal de alerta para os pais é quando os sintomas citados anteriormente estejam acarretando prejuízos em mais de uma área na vida dessa criança ou adolescente, então é fundamental que procurem um profissional para fornecer um auxílio mais adequado”.
Aumento na procura por atendimento
Após as medidas de restrições mais rígidas que passamos no último ano, a psicóloga revela que houve um aumento na procura de atendimento psicológico para crianças e adolescentes, pois a demanda agora torna-se familiar e não somente restrita a crianças e adolescentes. “As principais demandas apresentadas são ansiedade, sintomas depressivos, dificuldades emocionais, comportamentais e também agora, com o retorno das demandas escolares, identificam-se características de déficits intelectuais, o que precisa nesse momento um sinal de atenção para pais e professores para ser identificado e reavaliado”.
Atenção para comportamentos fora do habitual
Carina ressalta que quando a criança ou adolescente começa a demonstrar comportamentos fora do habitual, como raiva, irritação, choro intenso, isolamento, apego inseguro, a família deve ficar atenta e buscar ajuda. “A psicoterapia é um grande suporte no auxílio da família para um melhor manejo. Trabalha não somente focada no indivíduo, mas em todo o seu contexto familiar e social, auxiliando os pais a definir problemas, a aumentar os comportamentos desejáveis de seus filhos, associando o comportamento da criança às consequências parentais: controle da contingência auxiliando também a lidar com os comportamentos indesejáveis de seus filhos”, finaliza.
Confira a reportagem especial sobre a volta às aulas
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