ECOS DO TEMPO: Ivone Mayer Perotti: Uma mulher que acredita na lei da reciprocidade: tudo de bom que desejamos aos outros, recebemos de volta

Uma mulher magrinha, aparentando fragilidade, cabelos grisalhos, com uma bolsa de tecido entre as mãos, chegou apoiada pela cuidadora para a entrevista. Sentou, sorriu, cruzou as pernas e colocou a bolsinha em seu colo. Unhas pintadas, batom nos lábios e uma elegância rara. Seus olhos azuis brilhantes sorriam. Um sorriso encantador. A entrevista iniciou com o nome, data de nascimento e idade. "Sou IVONE MAYER PEROTTI, nasci em 1º de maio de 1943, tenho 82 anos", disse sem hesitar.
Depois falou sobre a rotina diária no Lar. "Quando acordo de manhã, me maquio, me perfumo. Dou um beijo em cada uma das cuidadoras e digo "Deus te abençoe” e com esse gesto diz que quer agradecer, e quando deseja coisas boas para os outros recebe de volta. “Porque eu tenho o costume com meus filhos de dizer 'Deus te abençoe' ou 'Deus te acompanhe'.
Diz que pela manhã diariamente faz o terço da libertação. Reza pela família e para uma menina, filha de uma funcionária, que está doente. À noite costuma rezar pela sua saúde, agradece a Deus pela vida e diz que se sente muito bem.
E com toda segurança nas palavras, Ivone continuou. "Me sinto muito bem no lar, tenho com quem conversar, as “gurias” são maravilhosas. Comida boa, me servem, que sobra. Tem sobremesa todos os dias”, diz sorrindo. “Tem frutas todas as manhãs”.
A história de Ivone começou em Independência, cidade onde nasceu, lembrando que aquela época pertencia a Três de Maio. Lembra com carinho da sua infância, dizendo que os pais foram maravilhosos. A família Mayer se reunia para festejar datas comemorativas, Natal e Ano Novo. Eram quatro irmãs, uma já falecida. Lembra que o pai, Fridolino, fez um carrinho com rodas e brincava juntamente com a irmã Irene (in memorian), que desciam um cerro alto. A mãe Ida fazia bruxinhas, pois nunca teve bonecas.
Quando criança e sendo a mais velha, ajudava nos afazeres de casa, mas ainda não sabia o que queria ser quando adulta, somente que iria trabalhar. Seu pai Fridolino, trabalhou por 45 anos no Frigorífico Stahl e aos 11 anos, Ivone, após a aula - que era pela manhã, ajudava a desossar carnes no frigorífico, sempre sob os olhos atentos de seu pai. Estudou até a quinta série. Casou aos 20 anos. A filha Ivane nasceu em Três de Maio com os fogos e o sino batendo a meia-noite, do dia 1º de janeiro. Três anos depois, nasceu o Marcelo. Quando a Ângela nasceu a família morava em Porto Londero, interior de Dr. Maurício Cardoso.
Casada e com três filhos, Ivone deu aula de culinária e fazia bolos até para casamentos. Foi promotora de vendas da Cristian Gray por 15 anos e Stanley, na época produtos de casa e cosméticos. Comprou um Fusca para suas viagens pela região, mas devido um acidente de trânsito, perdeu o Fusca para suas entregas, tendo então que vir morar com a família em Três de Maio.
Já na cidade, trabalhou na empresa Cereser, depois no Dirceu Franco, ambas sendo lojas de roupas. Também trabalhou na Secretaria da Saúde na gestão do prefeito Pedro Fischer e aos 60 anos se aposentou, quando enfrentou uma depressão, buscando no Reiki sua cura, tornando-se reikiana para auxiliar pessoas que precisavam de ajuda. Participava do clube de mães do Pacelli, onde viajaram muito. Nestas viagens, sempre 'aprontava alguma peraltice'. Se vestia de noiva, às vezes colocava peruca, saia curta e meias cítricas coloridas, outras vezes se vestia de homem, só para fazer graça e se divertir junto as amigas. Ela diz com orgulho, que nunca ninguém a reconhecia, somente a amiga Lurdinha Bender sabia das “artes”. Contava muitas piadas, visitava amigas, e se pudesse voltar no tempo, viajaria mais.
Em 2011, ficou 44 dias internada no hospital, onde estava desenganada, teve pneumonia, infarto, AVC, e uma doença rara que se tornou sistêmica. Mas não desistiu e lutou pela vida.
Por um longo período ficou fazendo fisioterapia, pois teve que reaprender tudo - comer, falar, caminhar e até escrever. Mais tarde, juntamente com seu marido Pedro (in memorian), foi morar em Santa Rosa para sua filha, que é sargento da Brigada Militar, poder auxiliar nos cuidados necessários, mas devido sua profissão, não tinha horários fixos, então Ivone se sentia muito sozinha, mesmo tendo uma cuidadora, por isso optou em vir para o lar aqui em Três de Maio.
Ivone fala com muito orgulho da sua família. Sua filha Ivane é escritora e professora em universidades, seus netos Deniele Naiara e Eduardo Miguel (filhos da Ivane) já são formados, e doutores em suas áreas. Seu filho Marcelo trabalha como motorista, seguindo a profissão do pai e é muito feliz. A filha Ângela tem dois filhos. Matheus Henrique que estuda Florianópolis/SC e Thiago Augusto que ainda é menor e estuda em Santa Rosa. "Agora, minha filha Ângela, ou Sgt Perotti, é responsável pelo Pelotão Mirim da Brigada Militar de Santa Rosa", diz com orgulho.
Ivone conta um fato que ficou marcado para sempre. "Numa noite, a Ângela, levou as crianças para o circo, e eu fui junto, me diverti muito, fiz amizade com as crianças e um menino muito querido ficou abraçado em mim, e eu ficava fazendo carinho e pediu para ser meu neto...risos......já fui visitar as crianças no pelotão porque sempre perguntam por mim, e isso me deixa muito feliz e realizada", conta com riquezas de detalhes.
Agora, no lar, Ivone também se sente muito feliz. Recebe várias visitas - suas amigas da época do clube de mães, suas vizinhas do bairro Santa Rita, inclusive reencontrou parentes que trabalham no lar.
Ivone deixa como conselho para os jovens: Sempre estudar, ler muito, trabalhar e nunca desistir.
Ao terminar a entrevista, agradeceu e se despediu com um beijo carinhoso em cada uma - Amara, Ivete e Miréia, não esqueceu dee desejar "tudo de bom, Deus te abençoe".
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