Crimes de estelionato crescem 337% e idosos são as principais vítimas de golpes

Em 2023, foram registradas 152 ocorrências, um caso a cada dois dias no município

Crimes de estelionato crescem 337% e idosos são as principais vítimas de golpes

Os crimes de estelionato no município de Três de Maio quase se triplicaram nos últimos cinco anos. Em 2023, foram registrados 152 casos do crime, 337% a mais do que em 2018, quando ocorreram 45 registros. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul. 

No ano passado, foram em média 12 casos por mês, um a cada dois dias. Em relação a 2022, houve um aumento de 17%, quando foram registrados 126 casos.

Para falar sobre o assunto, o Jornal Semanal, entrevistou o delegado João Vitório Barbato, Delegado da Polícia Civil de Três de Maio, que aponta os motivos e o perfil das vítimas aqui no município.

 

Delegado João Vitório Barbato 

 

Semanal: A que o senhor atribuiu o aumento nos crimes de estelionato no município?

Delegado João Vitório Barbato: O que aconteceu no município não é diferente do resto do país. O que fez aumentar foi a facilidade dos meios de comunicação, especialmente, as redes sociais e Whatsapp, que permitem que esses indivíduos alcancem um grande número de pessoas para captar as suas vítimas.

Quais práticas desse crime são as mais comuns?

Os golpes são os mais variados. Tem todo o tipo, não existe um especificamente que seja o mais comum, mas normalmente acontece é que o criminoso lida com a ganância da vítima ou com seu ego. Ele cria situações ou a engana propriamente, quando ele faz se passar por outra pessoa, pedindo ajuda emergencial. A filha ou filho que liga para a mãe dizendo que houve problema no celular e aí a pessoa acaba caindo no golpe e nesta questão é pelo afeto, querendo auxiliar a sua pessoa mais próxima.

Existe um perfil típico de vítima?

O perfil da vítima é normalmente mais idoso, que tem pouco contato e mais dificuldade com o manuseio das redes sociais e uma certa ingenuidade. Mas, na verdade, alcança todas as pessoas incautas que querem obter uma vantagem ou que tem o seu ego massageado, no caso de homens mais velhos que pensam estar em contato com meninas jovens ou que querem adquirir bens abaixo do preço de mercado e acabam atraídos por este tipo de golpe.

Como as investigações são conduzidas?

São investigações bastantes difíceis de serem realizadas, porque normalmente os autores desses fatos residem bem distantes e estão acobertados por um certo sigilo. Eles entram em contato com as vítimas de presídios, normalmente de outros estados. Então, inicialmente, há necessidade de representação por parte da vítima, porque para crimes de estelionato precisa dessa autorização da vítima. A partir daí, nós buscamos os dados cadastrais da origem dessas ligações, para onde são feitos os depósitos em dinheiro. A partir daí fazemos a investigação, que é demorada e o sucesso é muito baixo.

É possível identificar os estelionatários?

Os suspeitos, em via de regra, são identificados. Mas, geralmente, os recursos vão para pessoas que agem como laranjas. Tem também o caso em que é o mesmo golpe, mas foram feitos dois a três depósitos que foram para lugares ou estados diferentes. Até há identificação dessas pessoas, mas é difícil de alcançá-las.

Como a vítima de estelionato deve preceder?

A vítima precisa registrar uma ocorrência policial, que pode ser feita inclusive online. Ela precisa juntar o que tem de documentação, os contatos que fez, as contas que foram feitas,  os depósitos e eventuais conversas que teve com os meliantes e informar se ela tem interesse em representar para ser feito um procedimento policial. Para pessoas acima de 70 anos, é obrigatório que se tenha investigação. A partir daí se abre o inquérito e começa a busca de informações dos suspeitos. 

Quais as dicas para não cair em fraudes?

As pessoas devem primeiramente desconfiar de situações fáceis demais, de bens que estão muito abaixo de valor de mercado, de pessoas que se colocam no meio de uma negociação ou querem gerenciar negociações entre pessoas de forma desnecessária. Procure não passar senhas e informações pessoais para pessoas que não conheçam. As instituições bancárias não fazem esse tipo de pedido e se houver alguma desconfiança, entre em contato com a sua instituição bancária para ver o que está acontecendo.

Como o cidadão pode colaborar na prevenção ou identificação de atividades fraudulentas?

A comunidade pode colaborar difundindo essas formas de prevenção e ao verificar que uma pessoa está caindo num golpe, tentem dissuadi-las que elas não façam isso, pois muitas pessoas correm aos bancos para fazer transferência.

Quais as penas para quem comete este crime?

As penas variam de quatro a oito anos de reclusão, além de multa, quando o crime é cometido de forma eletrônica.

Como o senhor avalia essa pena? 

Considero a pena severa e adequada.  No entanto, a única ressalva que eu faço é que houve uma mudança legislativa há pouco mais de dois anos que determina que a apuração seja feita onde mora a vítima, isso acaba dificultando bastante a apuração desse tipo de golpe, porque muitas vezes o autor comete diversos golpes, em diferentes lugares do Brasil. O interessante seria que a apuração ocorresse no domicílio onde é obtida a vantagem, mas, infelizmente, houve essa modificação, o que acaba dificultando bastante a apuração.