A vida dos três-maienses pelo mundo afora

Funcionário da John Deere, Marcos Thiel, 33 anos, e a esposa Camila Menin Thiel, 32, moram na Alemanha desde o início de 2021. Em fevereiro desse ano, nasceu Helena, a primeira filha do casal

A vida dos três-maienses pelo mundo afora
Marcos Thiel e a esposa Camila Menin Thiel

Desde fevereiro de 2021, Marcos Thiel, 33 anos, e a esposa Camila Menin Thiel, 32, estão morando na Alemanha. A ida para o país europeu se deu através de oportunidade profissional – Marcos é Scrum Master da multinacional John Deere. “Sou responsável por guiar meus times de desenvolvimento de softwares a utilizar uma metodologia ágil, que faz parte de uma estratégia de transformação digital na empresa”, explica. O casal mora em Mannhein, uma cidade com cerca de 300 mil habitantes, no estado de Baden-Württemberg. 

Ele diz ainda que a busca por experiências pessoais também foi levada em conta na decisão de sair do Brasil. “Sempre tive curiosidade de ver como é a forma de viver e trabalhar em outro país, com língua e costumes diferentes dos nossos. Acredito que essa troca de experiência é muito valiosa para nossa vida”, declara.

Filho de Peter Thiel e Ines Thiel, Marcos cursou o ensino médio na Setrem. Foi estagiário de TI em Horizontina, e após se mudou para Canoas para trabalhar e seguir os estudos na área. Lá iniciou o curso de tecnólogo em Redes de Computadores, pela Ulbra Canoas, concluído em 2010. Logo após, iniciou MBA em Gerenciamento de Projetos pela Unisinos que foi concluído em 2012. 

Em 2014, Marcos retornou a Três de Maio quando fez mais um MBA, desta vez em Gestão de Pessoas e Coaching, pela Unijuí. “Durante esse período, demonstrei interesse em ter uma experiência no exterior e assim essa oportunidade se tornou realidade”, relata.

Camila é filha de Jaime Menin e Ariete Menin, fez ensino fundamental no Colégio Cristo Rei, em Horizontina, e o ensino médio no Colégio Dom Hermeto. É formada em Psicologia, pela Unisinos de São Leopoldo. Em 2015, concluiu MBA em Gestão Estratégica de Pessoas, pela Fundação Getúlio Vargas - FGV de Passo Fundo. Em 2020, concluiu a pós-graduação em Psicologia Positiva, pela PUC de Porto Alegre.

No Brasil, Camila estava trabalhando em uma indústria em Três de Maio e nos finais de semana, trabalhava como maquiadora, atividade que continua a  exercer na Alemanha para algumas clientes brasileiras. 

Casados desde 2015, o cachorro Scooby foi junto para a Alemanha. Em fevereiro de 2022, nasceu a primeira filha do casal, a linda Helena Menin Thiel.

 

País com normas rígidas e inverno 'cinzento' 

Para o casal, as regras na Alemanha são as maiores diferenças entre Brasil e Alemanha. “O país é muito regrado e organizado. Desde atravessar a rua até para ter um animal de estimação existem normas”. 

A burocracia também foi uma das maiores dificuldades do casal ao chegar na Alemanha. "Aqui é preciso fazer registros de tudo. Registro pessoal na prefeitura, registro de residência, registro do cachorro (sim eles pagam imposto na Alemanha), carteira de motorista.... e os inúmeros seguros. Tivemos muita ajuda da empresa, mas sempre tem algo 'novo' que você precisa fazer para estar regular no país”, conta Marcos.

Com tantas normas, que devem ser cumpridas, o casal estranhou no início. "Nosso 'jeitinho brasileiro' de resolver as coisas não funciona aqui. Então, às vezes, cabe a nós refletir que não estamos no nosso país de origem e devemos respeitar e seguir as regras do país onde estamos no momento”, complementa.

Quanto ao idioma, o casal diz que a cada dia acaba aprendendo um pouco mais, porém leva um tempo. 

O clima também é diferente, e a região onde o casal mora é uma das mais 'quentes' da Alemanha, então o frio não chega ser a principal diferença. Mas há semanas cinzentas sem sol durante praticamente todo o inverno.

Conforme o casal, as estações são bem definidas. Uma primavera muito florida, verão quente e o outono é lindo com as árvores de folhas amareladas. No inverno temos neve (não muito em Mannheim, mas nas cidades vizinhas)”.

 

Receptividade com os estrangeiros

Existem muitos estrangeiros vivendo na Alemanha e o número aumenta a cada dia. Marcos conta que há muitas oportunidades de trabalho e a qualidade de vida também é um atrativo para morar lá. “As novas gerações estão mais acostumadas com os estrangeiros e são bem receptivos. Os idosos são mais conservadores e fechados. Como ainda não dominamos totalmente a língua alemã, dificulta a interação com os mais velhos. Em geral eles levam mais tempo para ganhar confiança”, explica.

 

Carga horária de trabalho menor e mais tempo livre

A rotina de Marcos é a mesma que tinha no Brasil. “A diferença é que a carga horária de trabalho é menor na Alemanha, sobrando mais tempo para outras atividades como estudo, lazer ou prática esportiva”, destaca. 

Durante a semana, no tempo livre o casal aproveita para passear pelos parques da cidade. "Nos finais de semana saímos para cidades vizinhas ou nos reunimos com os amigos”, relata Camila. Ela também conta que existem muitos lugares bonitos para conhecer por lá. “Desde pequenas cidades com arquitetura típica alemã até pontos turísticos. Aqui as pessoas também têm o costume de praticar hiking (caminhada na natureza) ou ciclismo nas florestas, o que achamos muito legal”.

 

Gasto com moradia pesa no orçamento

"Os maiores gastos são com   moradia; tanto para quem mora de aluguel ou para quem for adquirir um imóvel. Nos últimos dois anos de pandemia esses valores subiram em torno de 20%. Aluguel é o maior gasto no orçamento”, revela o casal.

Os gastos com alimentação não são tão elevados, bem como com internet e energia elétrica, quando comparados ao salário mínimo local. O valor médio da hora de trabalho está em torno de € 10,00 (cerca de R$ 55,00). Porém, o três-maiense explica que existem diferentes tipos de contrato de trabalho. “Alguns com carga horária maior; outras com carga horária menor. Então o valor pode variar. Mas o valor gira em torno de dez euros a hora”, detalha.

Além do custo básico, o casal relata que alguns seguros também são recomentados: o da casa; seguro a terceiros (quando você causa um dano a alguém);  e o seguro pet (caso você tenha algum animal de estimação).

Um gasto a mais que o casal tem no país europeu é com aquecimento da residência – que pode ser elétrico, gás ou a óleo –, e com preços variados, que precisa ser colocado no orçamento do mês.

 

Seguro para saúde é essencial

Para morar no país, o seguro de saúde é obrigatório. Porém, o atendimento para quem não tem um seguro não é negado nos hospitais, mas a cobrança é feita posteriormente, e o valor pode ser bastante alto. “Quem viaja para a Alemanha a turismo também precisa ter um seguro saúde que cubra os custos no caso de alguma emergência”, alerta.

Ele frisa que a medicina local é mais reativa do que preventiva. “Eles orientam a utilizar ao máximo medicamentos naturais. Não tivemos nenhuma experiência negativa com a saúde por aqui; sempre tivemos um bom suporte”, afirma.

 

Transporte público sem catraca e cobrador

É possível ir a qualquer lugar de trem, inclusive para fora do país. Também existem muitas ciclovias na Alemanha e os ciclistas são muito respeitados por lá. “Muitas pessoas utilizam a bicicleta como meio de transporte, inclusive para levar as crianças para a escola”, salienta.

O casal não teve dificuldades em andar com o carrinho de bebê no transporte público, pois os trens e ônibus possuem acesso para cadeirantes, que funciona muito bem. O transporte público não possui cobradores ou catracas. “Você compra o bilhete de passagem e entra no trem. É um sistema de confiança. Algumas vezes um fiscal entra no trem ou ônibus e pede pela passagem e caso não tiver você paga uma multa de 60 euros”, diz.

 

Marcos e a esposa Camila Menin Thiel, com a filha Helena, que nasceu em fevereiro deste ano, na Alemanha

 

Licença-maternidade de 14 meses e pode ser dividida entre os pais 

Pais da pequena Helena, o casal fala das diferenças entre o Brasil e a Alemanha ao ter um filho. Diferenças que vão desde o acompanhamento na gestação; no nascimento do bebê e, principalmente, na licença-maternidade que pode ser dividida entre o casal, e que pode ser por um período de 14 a 36 meses. 

Assim que o casal descobre a gravidez, recebe acompanhamento de um ginecologista. Ao longo da gestação é possível solicitar uma hebame, a doula como chamamos no Brasil. "O acompanhamento inicia já durante a gestação, com conversas sobre o parto e depois do nascimento ela auxilia os pais, passando alguns treinamentos de como agir com o recém-nascido".

No país, os médicos partem do princípio de que o parto será normal, somente caso seja necessário, é orientada a cesariana. Quando o parto é normal, é realizado pela hebame e um obstetra só observa. “O nosso parto foi feito por duas hebames e às vezes vinha uma médica obstetra para verificar se estava tudo indo bem”, revela o casal, salientando que o atendimento foi muito bom.

Após o parto, ela auxilia na amamentação e acompanha o recém-nascido pelo período de três dias no hospital (período que a mãe e o bebê ficam internados, quando tudo ocorre bem). 

Ao receber alta, a profissional segue acompanhando de perto o casal e o bebê, quase que diariamente. “Com o passar das semanas, ela acaba vindo com menos frequência, mas você pode chamá-la quando quiser”, contam.

Na alta hospitalar, o casal também recebe um caderno (tipo a caderneta no Brasil) com datas para o acompanhamento do bebê com o pediatra.

 

Filhos recebem auxíliodo governo atéos 21 anos

A licença maternidade/paternidade é concedida ao casal pelo período de 14 meses e que pode ser estendida para até 36 meses e ela pode ser organizada pelo casal como melhor entender.  "Por exemplo, a mãe pode tirar 12 meses e o pai dois".

Ao longo da licença, o governo dá uma ajuda de custo, de 300 a 1.800 euros (1.650 a 10 mil reais). Caso a pessoa não trabalhe, ela recebe 300 euros. Se trabalha, são 60% do salário até o teto de 1.800 euros. Mas se a licença for estendida para 36 meses, o auxílio é reduzido pela metade. Ao longo da licença, o empregador não paga o salário, somente garante o emprego do trabalhador.

Já a criança recebe um auxílio do governo até os 21 anos, de € 219 (hoje cerca de R$ 1.200,00).  Aos 21 anos, se estiver estudando ou morando com os pais, o auxílio é estendido até os 24 anos. 

 

Comunidade brasileira na Alemanha ajuda na adaptação

Para o casal, o grande número de brasileiros morando na Alemanha auxilia muito na adaptação ao país. “Há pessoas que estão há mais de 25 anos morando aqui, assim como recém-chegados. E essa conexão com outros brasileiros ajuda muito a compreender alguns processos do país”, comenta Marcos.

Ele também conta que existem organizações de brasileiros que realizam bazares para arrecadar dinheiro e doarem para instituições brasileiras.

 

Pesquise antes de morar no exterior

Marcos salienta que existem muitas oportunidades fora do Brasil. Ele aconselha que quem tem vontade de morar fora do país deve pesquisar sobre o assunto. “Hoje em dia tem muito conteúdo na internet para pesquisa. Converse com conhecidos que estão vivendo no exterior para saber mais sobre o país, para saber quais são os pontos negativos de se viver no país”, relata.

Para Camila ter uma experiência no exterior a fez evoluir muito como pessoa. “Mas acredito que passamos a valorizar muito mais nosso país e nossa cultura também”, observa.

 

No momento, o casal quer aproveitar a temporada no país

“Olhar para trás e ver tudo o que teve que ser feito. Você se sente orgulhoso de ter conseguido. Além disso, conseguir se comunicar com os nativos é uma conquista muita grande. Muitos alemães falam inglês, mas eles levam muito em consideração o esforço que você faz para aprender a língua deles”, revela Marcos.

A qualidade de vida, também é ressaltada pelo casal. "Aqui não faltam opções de lazer, principalmente espaços ao ar livre e sem a gente se preocupar com a segurança”.

Camila ressalta que conseguir se sentir em casa e acolhida pelas pessoas é algo que fez toda a diferença na chegada ao país. “Fizemos amizades logo que chegamos aqui e isso foi extremamente importante para nós”, diz. 

O casal ainda não sabe por quanto permanecerá no país europeu. “Temos planos de ficar alguns anos e aproveitar a experiência, mas ainda não sabemos até quando”. 

Eles já têm uma viagem marcada para o Brasil no terceiro trimestre deste ano. "Será nossa primeira ida ao Brasil desde que estamos aqui. Queremos encontrar familiares, os amigos e comer um bom churrasco", finalizam Marcos e Camila.