Produção de suínos para abate no município cresceu mais de 40% no último ano
A produção saltou de 23.483 suínos em 2021 para 33.975 em 2022. No Estado, o crescimento foi 5,65% em 2022. Segundo ACSURS, foram mais de 11 milhões de suínos produzidos ao longo do ano. Santo Cristo foi o município que mais produziu na Fronteira Noroeste, sendo o 5º maior produtor do RS

O município de Três de Maio registrou um crescimento expressivo de suínos para abate no ano passado. A produção saiu de 23.483 em 2021 para 33.975 em 2022, ou seja, foram 10.492 suínos abatidos a mais (44,68%). O dado é da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS), divulgado no site da entidade no dia 27 de fevereiro. As informações utilizadas no levantamento são da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr), através da Seção de Epidemiologia e Estatística (SEE).
Mesmo com a grande ampliação na produção, Três de Maio é o 15° município da Fronteira Noroeste em maior número de suínos abatidos no ano. Em nível estadual, a produção três-maiense é a 114ª maior. Comparado ao ranking do ano anterior, o município subiu 20 posições.
O secretário de agricultura de Três de Maio, Moacir de Oliveira Carvalho comemorou o resultado apresentado pelo setor no município. “A secretaria atribui este resultado aos nossos produtores, que investiram na atividade nos últimos anos, incentivados pelos preços atrativos que o mercado vem oferecendo, impulsionados pela exportação, principalmente para países como Rússia e China”, pontuou Moacir.
O secretário destacou ainda que muitos produtores no município dobraram a produção de suínos para o abate. “Tem produtores que tinham plantel de 1.100 suínos e hoje são 2.200”.
Conforme Moacir, hoje a suinocultura é uma das atividades mais rentáveis para os produtores, comparada com a soja e o milho. “A produção de suínos deixa um percentual de lucratividade maior que a agricultura de grão. Também podemos dizer que a infraestrutura utilizada na suinocultura é menor do que para produzir grãos. Sabemos que ainda estamos engatinhando na suinocultura em nosso município, mas com certeza teremos um futuro próspero”, prevê o secretário.
Segundo o chefe do escritório da Emater/RS-Ascar, Leonardo Rustick, o crescimento na produção se deve principalmente aos produtores que trabalham no sistema integrado, em que empresas do ramo alimentício fornecem os animais e os insumos aos produtores, cabendo a eles os cuidados necessários para a terminação dos suínos. “Houve um aumento no número de produtores integrados, além da ampliação da capacidade para alojar animais na propriedade. Esse cenário se deu em decorrência de políticas públicas municipais voltadas ao desenvolvimento da suinocultura, aliadas às empresas integradoras que têm interesse na ampliação no número de animais alojados nas propriedades rurais devido ao aumento de demanda no mercado consumidor”, ressalta.
Segundo o escritório local, são 17 produtores que trabalham com o sistema integrado. A atividade requer o licenciamento ambiental, por conta dos cuidados quanto aos dejetos de suínos, que são bastante contaminantes. “A licença pede os cuidados para que os dejetos da suinocultura não contaminem nascentes e rios. É necessário locais impermeáveis para que, posteriormente, possam ser utilizados como fertilizantes”, pontua Leonardo.
Fronteira Noroeste é terceira região que mais produz no Estado
Rodeio Bonito foi o município que registrou a maior produção, pelo sexto ano consecutivo, com 254.054 suínos para o abate. A maior região produtora foi a do Vale do Taquari, que registrou 17,72% de toda o abate gaúcho. Na sequência, o Médio Alto Uruguai, com 15,11%.
A nossa região, Fronteira Noroeste, foi a terceira com maior produção no Estado, chegando a 12,48% dos abates gaúchos do ano, com 1.392.361 animais. O total representa um aumento de 5,51% em relação ao ano de 2021, quando a região produziu 1.319.698 suínos, 72.663 a mais.
Santo Cristo, que até 2021 era o terceiro maior produtor da região e 9° de todo o Estado, passou a ser o município com maior produção na Fronteira Noroeste em 2022, sendo o 5° maior no Rio Grande do Sul, com a produção de 204.748 suínos para o abate, crescimento de 13,62%.
Já Nova Candelária registrou uma redução na produção em 1,97% no período. De 208.188 suínos de 2021, o município foi para 204.079 em 2022. Com isso, a produção nova-candelariense saiu da 4ª maior no Estado para a 6ª maior.
Em Boa Vista do Buricá, terceiro maior produtor regional, teve produção de 173.802 suínos no ano passado. O resultado mostra uma queda em 9 mil suínos comparado a 2021, -4,94%. Assim, o município caiu da 8ª maior produção gaúcha para a 9ª.
O top 5 da Fronteira Noroeste ainda conta com os municípios de Campina das Missões, com 83.565 suínos abatidos e São José do Inhacorá, com 80.649 animais.
Produção gaúcha cresceu 5,65%
O Rio Grande do Sul produziu 11.150.849 suínos para o abate no ano de 2022.
Conforme a associação, são 315 municípios que reportaram dados sobre suínos destinados ao abate no ano passado, oito a mais do que em 2021. A produção de 2022 é 5,65% superior a do ano anterior, quando foram 10.554.571 suínos.
Já o peso médio dos animais registrou queda em 0,04%, de 94,39 kg o peso foi para 94,35 kg. Mesmo assim, como o total de suínos cresceu em quase 600 mil animais, a quantidade de carne suína cresceu em 4,21%. No ano de 2021 foram 902.913 toneladas de carne, atingindo 941.000 toneladas em 2022, quase 40 mil toneladas a mais. Já o total de abatedouros ativos no Rio Grande do Sul chega a 222.
O casal Lúcia e Jeferson Berti, moradores de Bela Vista, Três de Maio, trabalham com a atividade desde 2009. No início do ano passado, a produção foi ampliada com a construção de mais um pavilhão. Hoje a propriedade comporta 2.100 suínos. Na foto, o casal com o neto Artur
Há 14 anos na suinocultura, produtor acredita no potencial da atividade em Três de Maio
O sistema integrado de produção de suínos – em que empresas fornecem os animais, a alimentação e os medicamentos, além da assistência técnica aos produtores para que realizem a terminação dos animais – tem ganhado cada vez mais força nos últimos anos.
Com o sistema, foram intensificados a produção e o abate de suínos. Um exemplo dessa parceria é o casal Lúcia e Jeferson Berti, moradores de Bela Vista, interior de Três de Maio. A família tem uma propriedade de 26 hectares.
A família tem histórico na produção de suínos. Conforme Jeferson, o avô, por volta da década de 1940 até os anos 60, fez muito dinheiro com a atividade. “Ele comprou colônias de terras para os filhos com dinheiro da criação de suínos. A suinocultura está no sangue da família. O meu pai também, em alguns momentos trabalhou com suinocultura”, recorda.
Já Jeferson começou na atividade no ano de 2009, trabalhando com a terminação dos suínos em um pavilhão, já padronizado ao sistema, com a capacidade para 550 animais. “É um sistema integrado, em que a empresa fornece os leitões, com determinados dias e pesos.”
No início de 2022, a produção foi ampliada com a construção de mais um pavilhão, com capacidade de 1.600. Hoje a propriedade comporta 2.100 suínos.
Antes da suinocultura, a família trabalhava com atividade leiteira, que se mantém até hoje, porém foi repassada para a filha, Eliana Berti.
“Na época, nossa família fez uma análise para agregar valor e a suinocultura veio para complementar a atividade leiteira, para baratear custos de produção”, ressalta.
No início de 2022, a produção foi ampliada com a construção de mais um pavilhão (que segue os padrões da empresa), com capacidade de 1.600. Hoje a propriedade comporta 2.100 suínos
Pavilhões são padronizados pelas integradas
Quando a família iniciou na atividade, Jeferson conversou com Gilson Grando (já falecido), da Emater, que o orientou para que investisse em um pavilhão padronizado para a atividade. “As empresas estavam procurando por produtores parceiros que topassem realizar este tipo de investimento em suas propriedades”, explica o suinocultor.
A família iniciou com uma empresa de Três Passos, que pertencia ao grupo Sadia. “Quando houve a fusão com a Perdigão (tornando-se BRF), por um período seguimos com ela. Após, essa empresa passou para a Seara, com quem ficamos um período curto. Quando a Alibem assumiu uma parte dos produtores da região – Três de Maio, Horizontina, Nova Candelária, Boa Vista do Buricá e São José do Inhacorá – passamos para ela, com quem estamos até hoje”, menciona.
Quando passou a fazer parceria com a Alibem, o suinocultor precisou fazer somente algumas adequações no pavilhão. “Para o novo pavilhão, com maior capacidade, já foram utilizados os padrões da Alibem.
No trato com os animais, a mão de obra é totalmente familiar. “Eu e minha esposa Lúcia cuidamos dos 2.100 animais. A filha e o genro, Luís Fernando, quando necessário nos ajudam. O que envolve mais pessoas é na hora do carregamento. Dependendo da quantidade de cargas, a gente precisa arrumar de 10 a 15 pessoas”, explica.
Produção ocorre em lotes de animais
O suinocultor trabalha com lotes de suínos, que ficam na propriedade por cerca de 110 dias. Neste sistema, é possível produzir três lotes ao ano, com uma produção anual em torno de 6.600 suínos.
No sistema integrado, a empresa fornece a alimentação e a medicação, com protocolo determinado sobre o que precisa ser seguido. “Quando os animais chegam aqui, já vem com a ração. São sete tipos de rações que os suínos recebem ao longo do desenvolvimento. Há o acompanhamento por técnicos e veterinários e qualquer problema que surgir, é preciso comunicar a empresa, até quando um animal morre. Os técnicos seguem acompanhando, utilizando medicamentos quando necessário, para chegar a um resultado satisfatório, tanto para mim como para a empresa”, relata.
Legislação, mercado vulnerável e custos de produção são os principais desafios do setor
Jeferson compreende que o desafio da cadeia produtiva de suínos está no custo para manter a estrutura, que está muito alto. “O mercado é muito vulnerável. Tem momentos bons, de alta rápida, e momentos ruins, de baixa rápida. Dizem que ainda é reflexo da pandemia. A produção agrícola ficou muito cara e a procura por insumos ficou muito alta. Para quem produz, existe um custo e que não tem muito como fugir. Para produzir não está fácil”, ressalta.
A legislação também é bastante rígida para a atividade. “A suinocultura é uma das atividades que mais tem cobrança na parte de legislação. Nós temos que trabalhar muito corretamente, senão você é automaticamente excluído pelas empresas e órgãos públicos. Então é preciso ser muito profissional para seguir dentro da atividade”, frisa.
O setor também depende muito de exportações e que, na visão do suinocultor, boatos e fake news podem criar instabilidades na cadeia produtiva. “Se produz bastante e o mercado interno não comporta a produção. Boa parte do que é produzido vai para o mercado externo. Se surge qualquer boato é fácil de derrubar uma cadeia produtiva, por exemplo, a situação da vaca louca, que não está se confirmando e a carne despencou nesse período. A gente tem que se colocar no lugar de quem produz. Às vezes cai muito rápido e o custo que você tinha não consegue dar a volta. Na suinocultura não é diferente. Às vezes isso pode derrubar uma cadeia inteira”, diz.
Suinocultura X grãos
O produtor não revela se a atividade de suínos é mais vantajosa que grãos. Mesmo assim ele pontua que cada uma tem as suas particularidades. “O grão depende de clima. Você investe, faz um preparo para o plantio e depende da chuva. Na suinocultura, o custo é alto para ter a estrutura de um pavilhão. Mas, para a pequena propriedade, a suinocultura agrega bastante valor”, compara.
Para Jeferson, as duas atividades são boas. “O ideal é ter os dois, a hora que você enfrenta um problema com estiagem, a suinocultura vai te dar um suporte, ou vice-versa”, aconselha o produtor que continua com a produção de grãos na propriedade.
Mais incentivo pode gerar crescimento
Jeferson percebe que a suinocultura em Três de Maio e na região tem potencial para crescer e se desenvolver mais.
“Nosso município tem muito potencial para a suinocultura. Talvez, falta incentivo”, avalia o produtor, ressaltando que atualmente a suinocultura que não é integrada, é uma produção para consumo.
“Praticamente, toda a produção de suínos é em sistema integrado, com diversas empresas, e é o melhor caminho para a atividade”, conclui.
A cada lote, são produzidos em torno de 2.100 suínos na propriedade, que são transportados para a empresa com quem Berti tem parceria
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