'Empreender é arriscado. É se reinventar todos os dias'.

Empreender em um ambiente ainda dominado pelos homens, pode se tornar um desafio para uma mulher. Driblando o preconceito, com competência, conhecimento e determinação as irmãs Helen Rodrigues Herpich, 34 anos, e Gilciane Rodrigues Herpich, 29 anos, estão inseridas neste contexto e são protagonistas na empresa de automecânica da família. Elas constantemente buscam inovar, como por exemplo, promover cursos de mecânica para mulheres

'Empreender é arriscado.  É se reinventar todos os dias'.
As irmãs Helen e Gilciane sonharam juntas com o pai, Gilmar Herpich, a concretização da GH Auto Mecânica. Formadas em Administração, ambas deixaram seus empregos e hoje Gilciane está à frente da seção de peças e Helen na parte administrativa da empresa

GH Auto Mecânica, surgiu de um sonho antigo do pai/proprietário Gilmar, em parceria com as suas filhas Gilciane e Helen, que sonharam juntas e fizeram a empresa prosperar e ser hoje reconhecida na região. 

“Sempre fomos uma família unida e, quando surgiu a oportunidade de abrirmos um negócio, em investir em algo nosso, optamos pelo ramo de oficina mecânica, que era um sonho antigo do nosso pai, além de ele ter muitos anos de experiência como mecânico. E o nosso negócio, tem dado muito certo, pois, no próximo mês, nossa empresa estará completando oito anos no mercado de serviços automotivos e é reconhecida na região pela excelência em seus serviços prestados”, contam Gilciane e Helen, filhas de Gilmar Herpich e Helena de Fátima Rodrigues. 

Atualmente são nove colaboradores no empreendimento, sendo quatro mulheres que comandam a seção de peças e o setor administrativo. A mãe Helena também trabalha na empresa. Já a imã mais nova, Giovana, atua em uma empresa de comunicação e marketing digital.

Formada em Administração de Empresas, Gilciane, 29 anos, foi a primeira das filhas do seu Gilmar a trabalhar na empresa, por conta da demanda e porque viram que era hora de ampliar o ramo de negócios. “Na época, não tínhamos seção de peças e queríamos começar a investir nisso. Precisávamos de alguém responsável pelo setor de peças da oficina e foi assim que larguei meu antigo emprego e vim trabalhar no ramo de oficina mecânica e peças”, explica. 

Já Helen, 34 anos, que também é formada em Administração de Empresas, passou a integrar a equipe alguns meses depois que Gilciane. “No início, eu vinha apenas nos finais de tarde para realizar alguns acertos, pagamento de fornecedores, etc. Porém, com o passar do tempo percebi a necessidade de eu trabalhar efetivamente aqui”, explica Helen – que é mãe de Laura Luísa Herpich de Souza – e que até então trabalhava em uma instituição bancária. 

Gilciane recorda que o começo foi complicado. “As oficinas ainda eram um meio bastante masculino, mas hoje posso dizer que quebrei esse tabu e entendo de peças, de serviços de oficina e até tenho algum entendimento sobre os componentes de carro”, diz orgulhosa.  

E ela não pretende parar por aí, pois há muito para aprender, e acredita que está no caminho certo. “Meu próximo desafio é colocar a mão na graxa mesmo e começar a realizar palestras para ajudar outras mulheres a ter conhecimento no ramo automotivo”.
 

As irmãs Helen e Gilciane Herpich deixaram seus empregos e há cerca de cinco anos estão à frente da seção de peças e do setor administrativo da oficina

 

‘Tudo foi acontecendo como deveria'

Para as irmãs, empreender não é uma tarefa fácil. Segundo elas, é uma luta diária na tentativa de agradar a todos os clientes, tentando atender e realizar o melhor serviço. “É uma autocobrança diária, mas que, ao final, é gratificante”, avalia Gilciane. 

Helen acredita que tudo foi acontecendo como deveria. Inicialmente, foi planejado um local com uma estrutura adequada, realizada a compra efetiva de alguns equipamentos necessários e contratação de um profissional na área administrativa e mecânica. “Conforme foi aumentando a demanda, se pensou, então, que já era a hora, de assumirmos nossos compromissos com a empresa da família. E assim fizemos. Não deixando mais o pai ‘sozinho’ no dia a dia, pois as decisões, desde o início, sempre foram tomadas em conjunto por nós três”.

Trabalhar em família tem as suas dificuldades, mas nada que as irmãs e o pai não consigam tirar de letra. “Se falar que é fácil, estarei mentindo! Mas, com o tempo cada um assumindo as responsabilidades pelos seus setores e, com o pai nos dando mais autonomia, as relações foram ficando mais sólidas. Temos nossas diferenças, mas nada que não resolvemos no mesmo dia, um com o outro, pois além de tudo somos uma família e temos um empreendimento para tocar”, pontua Helen.

Gilciane completa, ressaltando que “trabalhar em família não é um mar de rosas, pois existem sim atritos, mas como toda empresa, existem problemas para resolver, clientes para lidar, mas também têm momentos e conquistas que se tornam marcantes e felizes”.

 

Cursos direcionados às mulheres 

As irmãs buscaram formas de inovar dentro do ramo. A GH Mecânica foi a primeira empresa do ramo a investir pesado em redes sociais e em eventos direcionados às mulheres. “Os cursos Mecânicas para Elas' e 'Vivências e Experiências', sempre foram um sucesso, pois incluímos as mulheres nesse meio automotivo”, comemoram. 

Conforme Gilciane e Helen, a ideia da ‘Mecânica para Elas’ partiu em conjunto com o pai. “Nosso pai nos deu uma base de como funcionavam os cursos de mecânica para as mulheres, quando ainda trabalhava na antiga Buricá Veículos. Através desta base, fomos moldando e aperfeiçoando o curso, que se tornou uma referência para diversos outros cursos ligados à ‘ala’ feminina”, explicam. 

Desde a pandemia, os eventos não foram mais realizados, pois envolvem bastante organização e tempo, mas as irmãs estão se preparando para realizar mais uma edição, ainda este ano.

 

Gilciane, 29 anos, foi a primeira a trabalhar na empresa da família

 

Com o aumento na demanda, Helen, 34 anos, também passou a trabalhar na empresa 

 

'Nós, mulheres, precisamos nos apoiar mais umas às outras, nos ajudar, não somente em palavras, mas em atitudes'

Elas avaliam que a mulher está cada vez mais presente e atuante, nos mais diversos setores – empresarial, associativo, industrial, educacional, político, entre outros. “Estamos conquistando nossos espaços e mostrando que sim, podemos e somos capazes das mais diversas atividades, independente do setor. Não queremos nos igualar a ninguém, pois sabemos do nosso potencial e de onde podemos chegar. O que queremos é apenas respeito daqueles que, por muitas vezes, nos tratam de forma diferente e desigual”, diz Helen. 

Segundo Gilciane, hoje existe uma rede de mulheres que tem oficina mecânica. “Querendo ou não, é uma rede de apoio, e muitas vezes podemos trocar experiências e isso nos motiva muito, pois sabemos que não estamos sozinhas”, frisa.

Ela salienta ainda que a falta dessa rede de apoio é a maior dificuldade que as pessoas encontram ao abrir um negócio. “Quando abrimos, tivemos que aprender muitas coisas sozinhas e que, se tivéssemos um suporte, até mesmo em processos burocráticos, não teríamos ‘sofrido’ tanto. Isso se torna um motivo maçante, fazendo com que muitos desistam de empreender”, alegam as irmãs.

Elas deixam uma sugestão para as mulheres. “Nós, mulheres precisamos nos apoiar mais umas às outras, nos ajudar, não somente em palavras, mas em atitudes. Acreditamos que isso seja fundamental na hora de empreender, e, com certeza, dá um ânimo a mais saber que não estamos sozinhas, mas temos alguém do nosso lado”.

Para elas, o medo é uma questão que surge para quem está empreendendo. “Mas eu apenas digo, ‘vai e arrasa’! As adversidades vão surgir, os dias cinzas também. Os problemas fazem parte de qualquer empreendimento. O que precisamos é saber lidar com eles e viver um dia de cada vez. A gente sabe do nosso potencial. Não tenha medo. Se precisar, busque ajuda. Existem inúmeras pessoas prontas a te auxiliar e te aconselhar", orienta Helen.
 

‘Nós conseguimos sim’

“Empreender é arriscado. É se reinventar todos os dias. É ter motivação para implementar algo e levar adiante, e mais, empreender é, de alguma forma, beneficiar a sociedade como um todo”, ressalta Gilciane.

Mesmo sendo uma tarefa difícil, Helen vê que empreender é muito gratificante. “A gente tem contato com pessoas, cria laços, aprende muito. E tudo que tem um toque feminino, fica melhor ainda. Por isso, se uma mulher está em dúvida sobre empreender, não tenha. A insegurança faz parte, mas não tenha medo. Vá, que tudo dará certo! Hoje, em Três de Maio, temos um Núcleo de Mulheres Empreendedoras, que veio para nos guiar, unir nessa categoria e fazer acontecer, pois nós podemos sim, nós conseguimos sim”, conclui.