ECOS DO TEMPO: A história da Vó Tita, contada por ela mesma

Meu nome é Odete Medina de Castro Magalhães, muitos me chamam de vó Tita, tenho 82 anos. Eu me sinto muito bem. Nasci em Coronel Bicaco, a cidade dos Coronéis. Na época era só uma vilinha pequena. Fiquei lá até os 11 anos, quando meu pai comprou uma casa em Palmeira das Missões para que eu e meus irmãos pudéssemos estudar.
Meus pais eram donos de um hotel grande. Tinha muito movimento porque era o único da região. O pessoal que vinha de Santa Catarina para fazer compras em Porto Xavier, e até de Oberá, na Argentina, se hospedava lá.
Minha infância foi ótima. Eu vivia no colégio e sempre inventando coisas, principalmente shows com os “piazedos”. Organizava tudo só para poder cantar, porque eu cantava muito bem. Quando tinha aniversário, eu fazia um show para homenagear o aniversariante.
Quando fomos para Palmeira das Missões, eu comecei a trabalhar na rádio. Eu tinha 15 anos. Fazia programa aos sábados à tarde. Levava cantores, pessoas que tocavam violão… era muito animado.
Tenho uma irmã, a Eva. Ela se casou bem antes de mim. Não cheguei a conhecer meus avós, só convivia com o pai, a mãe e a irmã. Estudei até o Ensino Fundamental.
Naquele tempo, meu sonho era ser cantora. Mas o sonho não se realizou porque quando conheci meu marido, acabei desistindo. Conheci ele em Três de Maio, quando vim a passeio com a família. Ele era meu primo-irmão. Começamos a sair e a namorar. Lembro que ele disse para a minha mãe:
“Minha tia, não vou sair daqui sem levar a Odete junto, porque gosto muito dela e vou começar a vir aqui para casar com ela.”
No começo minha mãe se apavorou, mas depois não teve problema. Namoramos uns dois anos. Como ele morava em Três de Maio, o namoro foi curto e logo nos casamos. Eu tinha 18 anos. E digo com bom humor: não casei grávida! (risos).
Depois de casada, trabalhei como vendedora de joias e perfumes. Estava sempre na rua vendendo. Ia de ônibus pelo interior, para outras cidades como São Martinho, Humaitá… depois passei a ir de carro. Tinha uma boa receita, ganhava muito bem. Reformei a casa, comprei tudo o que precisava e até ajudei meu marido a comprar um carro.
Tivemos cinco filhos: Rogério, Ronaldo, Ranieri, Rosméri e Andréa. Meu marido era eletricista, muito trabalhador, nunca deixou faltar nada em casa. O que eu ganhava ajudava bastante. Passamos por alguns momentos difíceis, mas sempre superamos com determinação.
Os filhos foram e são minha alegria. Hoje tenho seis netos: três da Andréa, duas do Ronaldo, um do Rogério, um da Rosméri e dois do Ranieri. Também tive muitas amizades. Sempre que precisava, tinha quem ajudasse até a cuidar das crianças.
Estou no Lar dos Idosos há uns dois meses. Preciso de cuidadora e a Andréia não tinha condições de cuidar, nem encontrava alguém para ficar sempre comigo. Quando surgiu a vaga, vim para cá. Estou me sentindo bem. As funcionárias são umas ricas de umas pessoas, cuidam muito bem. Todos me tratam com carinho. Aqui me chamam de “Vó Tita”. Tenho o gênio bom, nunca tive desavença com ninguém.
Ontem mesmo, familiares vieram me visitar. Meus filhos e netos sempre vêm. Tenho uma saudade ou outra, mas não é aquela saudade pesada, mas no geral me sinto bem, estou bem.
Se eu pudesse voltar atrás, não faria nada diferente. Sempre procurei andar na linha, nunca fazer nada errado. Meu conselho para os jovens é: nunca desistir. Se tiver vontade de fazer alguma coisa, vá e faça. Para não ter que dizer depois: “por que não fiz naquela época?”.
O Lar para mim significa segurança. Aqui não me falta nada, a comida é boa e as colegas são umas ricas de pessoas. Minha maior alegria é saber que meus filhos e netos estão bem.
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