TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - OS CAPUCHINHOS PARTE 2

TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - OS CAPUCHINHOS PARTE 2

TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - OS CAPUCHINHOS PARTE 2

Após a chegada dos primeiros Freis Capuchinhos a Três de Maio, no dia 05 de maio de 1946, a comunidade os abraçou muito fraternalmente, com o intuito de ajudá-los a se estabelecerem o mais rápido e confortavelmente possível. 
Assim, formaram-se diversas comissões que saiam percorrendo o povoado para juntar ofertas para os religiosos, como louças, panelas, talheres, copos, camas e outros objetos necessários para o convento que estavam formando, e que deveria ser aberto brevemente na Vila. O povo mostrava-se generoso e satisfeito em poder ajudar aos religiosos, e alguns chegavam até mesmo a fazer grandes doações em dinheiro. 
No dia 28 de dezembro de 1946, o delegado provincial da fraternidade capuchinha, padre Caetano de Montebelo, retornou a Três de Maio para uma visita a canônica, quando pode acompanhar de perto o andamento dos trabalhos envolvendo a construção do Ginásio Pio XI, o qual os capuchinhos estavam tomando a frente nas obras e nos trabalhos de arrecadação de fundos (além de assumirem a direção do mesmo depois de pronto), e durante uma reunião com a comissão do ginásio e com o padre Testani, ao que parece, algumas perguntas e questionamentos do delegado provincial da Ordem Capuchinha (Província do Rio Grande do Sul) acabaram não sendo bem recebidas ou interpretadas pelo vigário, o que fez Testani levantar-se bruscamente e se retirar da reunião sem dizer nenhuma palavra. 
O gesto impetuoso foi logo amenizado pelo padre Caetano de Montebelo que continuou normalmente com sua visita a todos os lugares onde se faziam presentes os freis capuchinhos. Mas o que parecia ser algo superado, logo mostrou-se como o início de uma ruptura entre a fraternidade capuchinha e o padre Vicente Testani pois, nos dias que se seguiram aquela reunião na canônica, os freis passaram a notar uma grande mudança na forma como o vigário procedia com eles, passando a não dedicar mais a atenção com a qual costumava tratá-los, parecendo não fazer mais apreço algum a presença dos freis capuchinhos na Vila. 
Fora nestes dias que Testani pediu auxílio de um outro padre de fora para ajudá-lo na paróquia em Três de Maio, como cooperador, o padre Bruno de Garibaldi, que assumiu todas as funções do padre Testani quando este teve de, mais uma vez, se ausentar para tratamento médico em Ijuí. Dias depois, também o frei capuchinho Silvio de Vacaria precisou se ausentar da Vila para tratamento de um problema pulmonar, e acabou sendo transferido pelo Provincial para exercer o cargo de professor em Veranópolis, com a finalidade de completar seu tratamento médico em local mais apropriado. 
Nesse momento foi enviado para Três de Maio no lugar de Frei Silvio, o frei Libório de Santa Rosa, que chegou aqui no dia 18 de abril de 1947, nomeado pelo Definitório Provincial como professor da ala masculina do Ginásio Dom Hermeto José Pinheiro. Frei Libório conhecia bem Três de Maio pois, antes de entrar para a fraternidade capuchinha, chamava-se Hugo Veronese,  filho de Albino e Gloria Veronese, casal que chegou ao povoado em 1918, tendo sido sua mãe a primeira professora do Estado a lecionar na Vila. 
Alguns anos antes, Hugo havia se mudado de Três de Maio para Marau para se juntar aos freis capuchinhos, sendo ordenado sacerdote em Garibaldi no dia 06 de janeiro de 1945, quando recebeu sua batina e sandálias, assumindo também o nome religioso de “Frei Libório de Santa Rosa”, como sinal de sua doação total a Deus. 
Frei Libório, que praticava o ecumenismo (mesmo antes do Concílio Vaticano II que o estabeleceu) e que ainda mantinha em Três de Maio uma grande amizade com seus companheiros de infância, muitos deles protestantes, passou a manter uma relação muito próxima com a comunidade evangélica-luterana estabelecida na rua em frente à matriz católica, e como muitos católicos reprovavam essa aproximação entre os capuchinhos e os seguidores de outra corrente religiosa, logo alguns membros da Ação Católica deslocaram-se até Ijuí para informar o padre Testani desta aproximação, assim como também se prontificaram a comunicar ao Bispo, afirmando que os capuchinhos estavam “protestantizando” o povo de Três de Maio. 
Isso fez com que Testani solicitasse, no final de 1947, que outro padre o fosse ajudar na paróquia, o Padre Heitor Rossato. Logo algumas rusgas começaram a surgir entre alguns fiéis da igreja e os capuchinhos, e comentários pelas ruas davam conta de que os freis capuchinhos eram simpatizantes do comunismo. Estas intercorrências acabaram levando o padre Testani e os membros da Ação Católica a convidar uma nova congregação para atuar em Três de Maio: o Instituto Missões Consolata. 
Quando ficaram cientes disso, os freis registraram as seguintes palavras em seu livro tombo: “Sairemos sem um lamento, sem procurar revide, fugindo para outras terras a fim de fazer penitência, com a benção de Deus!”.
Assim, após resolverem todas as questões  envolvendo sua transferência e se despedirem da comunidade que os acolheu carinhosamente, no dia 15 de março de 1948, às 4h30 da manhã, os freis capuchinhos partiram de Três de Maio em um caminhão, atravessando as ruas desertas ainda envolvidos pelas sombras da escuridão, rumo a outros destinos. 
No livro do tombo, finalizaram o registro de sua saída com os seguintes dizeres: “Adeus, bom povo que choraste a nossa partida. Adeus, seara divina do pai de família que nos chamou um dia e ora permite o nosso afastamento. Para sempre? O tempo dirá...”. 
Os freis capuchinhos acabaram indo para Ijuí, onde os redentoristas lhes ofereceram um seminário em construção, e após concluídos os acertos, os quais obrigavam a congregação a manter São Geraldo como patrono do seminário e da paróquia local, em 1952, foi oficialmente instalada. 
Já em 26 de março de 1956, os freis capuchinho criaram a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ijuí (FAFI), pioneira na educação superior na região Noroeste do Estado,  que depois, em 1969, a Sociedade Literária São Boaventura (entidade jurídica dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul) transformou em uma fundação, dando-lhes um imenso capital (prédio, terreno, biblioteca, móveis, etc..), surgindo a partir daí a FIDENE – Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado, a qual foi o embrião para a criação, em 1985, da  UNIJUÍ. 
Ainda em 1954, os freis capuchinhos começaram a lotear e vender os terrenos da área de terra que haviam comprado de Antônio Bonfanti e Claudio Bombardelli em Três de Maio, loteamento este que recebeu o nome de “Loteamento São Francisco de Assis” e assim começava a nascer o Bairro São Francisco, com as ruas “São Boaventura”, “São Geraldo”, “Medianeira”, “Dom Vidal” (provavelmente uma corruptela de “Dom Vital” com “t”, frei capuchinho nomeado Bispo de Olinda por decreto imperial em 1871 ),  e a rua “Dos Capuchinhos” que, curiosamente, passa a se chamar “Rua Monsenhor Testani”, exatamente a partir do ponto onde termina o Bairro São Francisco e se inicia o Bairro PIO XII. 
Mas nem todos os terrenos foram escriturados, e durante 20 anos o procurador da Sociedade Literária São Boaventura, Nelson Sala, lutou para sanar as irregularidades. Em 1973, a Sociedade Literária São Boaventura fez um acordo com Sala, que assumiu todas as obrigações do loteamento, inclusive as escriturações, em troca de dez terrenos ainda não vendidos. Com a morte de Nelson Sala em acidente automobilístico, os filhos assumiram o compromisso, e após, tudo foi regularizado.

 

Freis capuchinhos de Três de Maio em frente à residência Medianeira, situada na antiga propriedade que hoje compõe boa parte do Bairro São Francisco

 

Frei Libório (Hugo Veronese) em registro feito em frente à residência Medianeira, juntamente com seus pais, Glória e Albino Veronese e irmãos

 

 

Participou das pesquisas para elaboração deste 
artigo o Dr. Professor Leomar Tesche
Fontes: Publicações e Registros do livro tombo da fraternidade 
Revisão: Fraternidade Capuchinha Província do Rio Grande do Sul 

 

 

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