TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - O GINÁSIO PIO XII - PARTE 1

TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - O GINÁSIO PIO XII - PARTE 1

 O GINÁSIO PIO XII - PARTE 1

Em 1930, o padre Vicente Testani viajou à Itália a fim de buscar religiosas para virem à Vila Buricá para auxiliarem a comunidade na escola paroquial que estavam construindo com a ajuda dos fiéis, em terreno doado pelo Sr. Emílio Müller, o qual recebeu o nome de Colégio Pio XI (este era Pio XI e não Pio XII), em homenagem ao Papa que havia abençoado as Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus, antes das religiosas embarcarem para o Brasil.  
O estabelecimento ministrava apenas o Ensino Primário, que ia até o quinto ano, e aqueles que quisessem dar prosseguimento no chamado “Curso Ginasial” (correspondente ao período entre o sexto e o nono ano) precisavam mudar-se para cidades distantes onde ele existia, como Passo Fundo, Cruz Alta, Santa Maria, Santa Cruz do Sul, São Leopoldo, Porto Alegre, entre outros, o que somente era viável para filhos de famílias com boas condições financeiras, que pudessem mantê-los nesses lugares com todo o necessário para darem este prosseguimento, e, para ingressarem no curso ginasial, era necessária a aprovação em um exame de admissão, o que, muitas vezes, exigia um reforço com professores particulares.  Depois deste período, vinha ainda os períodos “Clássico” ou “Científico”, com duração de três anos, correspondendo ao atual ensino médio. 
Mas em 1945, o padre Testani envidou forças para a criação de um curso ginasial em Três de Maio, que funcionasse junto ao colégio das freiras, e no final deste ano já haviam conseguido a aprovação de sua criação e autorização de funcionamento, passando este a ser o único curso ginasial de toda a vasta região conhecida como Grande Santa Rosa. 
Ainda em 1946, quando o curso ginasial começou a funcionar de forma provisória, com a primeira turma mista de meninos e meninas, muitos jovens que haviam parado com seus estudos nos anos anteriores resolveram voltar às salas de aula, e com a necessidade de um maior espaço para abrigar a todos, as freiras decidiram alugar um imóvel de dois pavimentos situado ao lado da igreja matriz, na esquina da Avenida Uruguai com a Travessa Montevideo, pertencente ao farmacêutico Albino Schünke. 
Mas o espaço não conseguia comportar a todos, até mesmo porque vinham alunos de lugares distantes da Vila para estudar, e foi então que Testani decidiu criar um curso ginasial nos moldes tradicionais, exclusivamente masculino, com internato, ficando o Ginásio das freiras apenas para o sexo feminino. 
Porém, foram naqueles dias que Testani começou a sentir sua saúde declinar, necessitando ausentar-se da Vila por vários períodos para internar-se no hospital em Ijuí, e por isso, convidou uma fraternidade capuchinha de Caxias do Sul para enviar religiosos a Três de Maio a fim de ajudá-lo na tarefa de levar os santos sacramentos até as localidades do interior e demais outros afazeres envolvendo a paróquia, delegando a eles também os trabalhos de arrecadação de fundos e coordenação da obra do novo ginásio. 
Logo, um movimento liderado pelo padre e pelas Revmas irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus, começou a distribuir folhetos por toda Três de Maio e demais região missioneira, procurando apoio financeiro para a criação do ginásio. Estes folhetos iniciavam com a fábula de um formigueiro que pretendia colher todas as folhas de uma árvore para armazenar em seus celeiros, apesar das formigas técnicas afirmarem ser o trabalho impossível de ser realizado. Porém, em um brado da rainha, se alinharam os batalhões das cortadeiras e das carregadeiras e ao cabo de 24 horas carregavam para dentro do buraco a última folha da árvore. Então as demais formigas, incrédulas com aquilo, passaram a se questionar como pôde ser realizada com tanta facilidade uma tarefa até então julgada impossível, ao que uma formiga mais experiente explicou: “é que ninguém se subtraiu ao esforço comum”. 
O texto continuava: “Se ninguém se subtrair ao esforço comum, se todos tiverem a compreensão do que seja unir as forças para a realização de uma grande obra, o Ginásio Dom Hermeto surgirá como por encanto. Meu amigo, se colaboras nesta grande campanha de cultura, de progresso e de patriotismo, Buricá terá assegurado o seu futuro, Buricá verá raiar uma nova era de progresso e de bem-estar, Buricá verá a sua mocidade crescer aureolada por uma sólida formação intelectual e moral. Os pais verão com orgulho seus filhos como cidadãos cultos e bem formados, o negociante verá mais frequentada a sua loja, o colono verá melhor colocado o seu produto, e o trabalhador verá melhor remunerado o seu esforço. A história ensina que somente as nações cultas subsistiram. O mundo pertence aos instruídos. O homem estudado imprimirá, em qualquer obra que faça, a marca de sua inteligência. Meu amigo, dá a tua contribuição moral e financeira à grande obra do Ginásio Dom Hermeto. Tudo pela instrução da mocidade”. 
Percebe-se no texto que, a princípio, a nova ala masculina do Ginásio Pio XI receberia o nome de “Ginásio Dom Hermeto” em homenagem a Dom Hermeto José Pinheiro, Bispo da Diocese de Uruguaiana a qual estava jurisdicionada a paróquia de Três de Maio. 
Dom Hermeto foi o Bispo que determinou a vinda do padre Testani a Vila Buricá, e até o seu falecimento, no dia 03 de novembro de 1941, esteve sempre muito presente em todas as decisões tomadas pelo padre Testani a frente da comunidade católica da Vila. 
Logo, o fato do distrito de Três de Maio ter conseguido autorização para funcionamento de um curso ginasial, e inclusive, estar angariando fundos para a construção de um prédio próprio para ele, chamou a atenção do jornal “A Serra”, de Santa Rosa, que em sua edição do dia 27 de janeiro de 1946, publicou a seguinte matéria: “A progressiva e laboriosa população de Três de Maio vem, a golpes de força de vontade e inteligência, conseguindo dia a dia, melhoramentos para o seu distrito. A iniciativa particular conquistou para Três de Maio lugar de destaque em Santa Rosa, e vem mantendo a colocação sempre melhorada por novos marcos alcançados. Ontem eram puras terras virgens de colonização, hoje, brotaram culturas, criações, industrias fortes, sociedades, escolas..., e o distrito vai soberbo seguindo sua rota para frente. A última conquista de sua população, porém, é de molde a merecer aplausos do município, do Estado e, quiçá, da Nação. Trata-se de um ginásio, que consta, será instalado dentro em breve. Terreno, planos da construção, boa vontade do povo e, segundo dizem, até Inspeção Federal já conseguiram. Três de Maio tornar-se-á, fatalmente, um centro-guia, condutor do município, pois para ele afluirão todas as nossas inteligências moças, à procura dos conhecimentos básicos indispensáveis para participar da vida atual. Bravos Três de Maio! Mas nesta nota, não se pode limitar a um aplauso ao distrito, que esta dando exemplo aos demais. Temos que perguntar: - E aqui na sede? Que se faz? Não terá o governo oferecido todas as vantagens possíveis a quem queira e possa contribuir de modo tão valioso para o progresso da instrução entre nós? Não terá prometido terreno, isenção de impostos, apoio oficial das autoridades federais, estaduais, municipais, civis, eclesiásticas, do povo que aqui vive e trabalha, para imitar e suplantar até o exemplo de Três de Maio nesse particular? Ou ter-se -a permanecido numa atitude de indiferença de braços cruzados? Responda quem quiser!”. 
Com a imensa repercussão em toda a região e o aumento da procura por vagas no novo ginásio, surgiu a necessidade de se trazer uma outra congregação de religiosos para Três de Maio, com a finalidade de cuidarem exclusivamente da nova ala masculina, e ficou decidido que as Irmãs Filhas do Sagrado Coração de Jesus permaneceriam cuidando apenas da ala feminina. 
Mas como as irmãs, desde sua chegada a Buricá em fins de 1930, tinham toda uma história ligada ao Bispo de Uruguaiana, Dom Hermeto José Pinheiro, entendeu-se ser mais coerente passar para o Ginásio Pio XI, que elas administravam, o nome de “Ginásio Dom Hermeto José Pinheiro” (que em 1972 passaria a se chamar apenas Colégio Dom Hermeto), ao invés de deixar para outra congregação de fora administrar um ginásio com este nome. 
E foi aí que, ao invés de inverterem também o nome “Ginásio Pio XI” para o novo ginásio que abrigaria a ala masculina, entenderam ser mais prestimoso desta vez homenagear o novo líder da Igreja Católica Apostólica  Romana. 
Após o falecimento do Papa Pio XI, em 1939, foi eleito como novo Papa o então Cardeal Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli, que, como uma forma de honrar e dar continuidade ao legado de Pio XI, resolveu chamar-se Papa Pio XII, e por isso, decidiu-se que o novo ginásio se chamaria “Ginásio Pio XII”. 
No dia 15 de dezembro de 1949, no Clube Buricá, após quatro anos de intensos estudos (1946 – 1949), chegava, em fim, o dia da formatura da primeira turma de ginasianos do então Ginásio Dom Hermeto José Pinheiro, quando quatorze moças e quinze rapazes, enaltecidos de alegria, aguardavam ansiosos pelo momento mais esperado dos últimos tempos. 
A solenidade estava prevista para o dia anterior, mas houve a necessidade de adiar face à impossibilidade do paraninfo, Dom José Newton de Almeida Baptista, Bispo de Uruguaiana, comparecer a data fixada. O lema da formatura foi “Ardere e Lucere” (Para queimar da luz). 
Os homenageados naquela formatura foram: Madre Josefina Zeni e Germano Dockhorn (que havia feito uma doação de Cr$ 25.000,00 contos de reis para a obra do ginásio). Os convidados de honra foram: Monsenhor Testani, vigário da paróquia e fundador do Ginásio, e José Dell Áglio, Inspetor de ensino falecido tragicamente em acidente aéreo dias antes da formatura. 
Os primeiros alunos formandos foram: Aládio Soares Chaves, Otomar Boelter, Sipriano da Silva Motta, Ruy Güllich, Pedro Sartori, Rui do Amaral, Tiradentes Jaeger, Pedro Cereser, Dácio Vontobel, Mário Gallas, Ery Matzenbacher, Albano Francisco da Silveira, Egon Theophilo Heinsch, Nelson Nagel e João Mendes da Silva. 
As primeiras alunas foram: Anita Reinehr, Clara Fim, Hilda Milbrath, Ináh Müller, Nelsi Henn, Suely Sala, Anna Hildegard Schaedler, Érika Bretin, Inês Tomasi, Rosalina Fim, Terezinha de Souza, Olivia Willig, Brunilda Tesche e Bojena Portz.  
Aquela seria também a única turma mista do Ginásio, pois, a partir de 1950, com a fundação do Ginásio Pio XII, houve o desmembramento e os rapazes passariam a estudar no outro estabelecimento. Porém, no momento em que tudo estava quase pronto, veio o vento, e tudo voltou ao chão. 
A primeira lição que o Ginásio Pio XII ensinou a todos naquele tempo, talvez tenha sido que resiliência e persistência são virtudes fundamentais para se alcançar qualquer objetivo. E nesta prova, a comunidade mostrou estar preparada para tirar a maior nota possível.

Revisão do Dr. Prof. Leomar Tesche 
e do Historiador Orlando Trague

 

A construção do Ginásio Pio XII teve início em setembro de 1948 em terreno de 24.000 m2 adquirido da viúva e herdeiros de João Schweig

 

Alunos da curso primário do Colégio Pio XI (posteriormente Colégio 
Dom Hermeto) nos fundos do educandário. Com a instalação do curso ginasial a ala masculina do então Ginásio Pio XI foi desmembrada 
dando origem ao Ginásio Pio XII