Trecho de Três de Maio da ERS-342 tem o maior número de mortes

Nos últimos cinco anos, 18 pessoas perderam a vida no percurso de 9,5 km da rodovia estadual que passa pelo município

Trecho de Três de Maio da ERS-342 tem o maior número de mortes
Colisão entre caminhonete S10 e moto causou a 18ª morte no trecho de 9,5 quilômetros da ERS-342, em Três de Maio

O trecho da ERS-342 que corta Três de Maio tem sido cenário de dor e repetição de tragédias. Nos últimos cinco anos, 18 pessoas perderam a vida em 17 acidentes fatais apenas nesse percurso de 9,5 quilômetros.

No último domingo (9), a vítima foi um motociclista de 43 anos, que morreu na localidade de Flor de Maio. Segundo o Comando Rodoviário da Brigada Militar, uma caminhonete modelo S10 trafegava pela rodovia quando invadiu a pista contrária e bateu de frente com a motocicleta. Com o impacto, os veículos foram parar em uma lavoura de milho às margens da rodovia.

A ERS-342, que conecta Maurício Cardoso a Cruz Alta, é um importante corredor para o escoamento da produção das regiões Noroeste e Missões até o porto de Rio Grande, via BR-158. Por ela passam caminhões carregados de soja, milho, trigo e implementos agrícolas, sustentando parte da economia regional. Mas, junto do progresso, a estrada também tem deixado um rastro de luto: 63 mortes e 54 acidentes fatais entre 2020 e 2025, segundo levantamento do Detran/RS a pedido do Jornal Semanal.

 

Uma curva crescente de tragédias

A sequência de números revela o tamanho do problema. Em 2020, foram quatro acidentes com quatro mortes foram registrados em todo o trecho da ERS-342. No ano seguinte, os registros dobraram: dez ocorrências e 12 vítimas. Em 2022, sete acidentes e sete mortos. Já em 2023, o total subiu novamente: 11 registros e 13 mortes. O ano de 2024 fechou com dez acidentes e 11 vítimas fatais.

Mas é 2025 que acende o alerta definitivo. Mesmo sem terminar, o ano já contabiliza 12 acidentes com 16 mortes — o maior número de vítimas fatais da série, 36,4% a mais que no ano anterior.

 

Padrões de risco e rotina interrompida

Os meses de setembro e outubro são os mais críticos, concentrando oito acidentes cada. Já as mortes se espalham entre setembro, outubro e novembro, com nove vítimas em cada mês.

A madrugada e a manhã são os períodos mais perigosos (14 casos em cada turno), enquanto as tardes apresentam o menor número (13). Os horários entre 2h e 3h, 9h e 10h, e 15h e 16h registram os picos de ocorrências.

Entre as causas, as colisões lideram as estatísticas (12), seguidas de choques (9) e colisões frontais (9). Capotamentos, tombamentos e atropelamentos completam a lista de tragédias que se repetem na pista.

Os sábados são os dias mais fatais — 12 registros. Em contraste, as quartas-feiras têm o menor número de casos (3).

 

Perfil das vítimas

Atrás dos números, há rostos e histórias interrompidas. Das 63 vítimas, 50 eram homens e 13 mulheres.

Entre os homens, 24 eram condutores. Todos os motociclistas e motoristas de caminhão que morreram eram do sexo masculino. A faixa etária predominante vai dos 35 aos 65 anos, justamente o período de maior produtividade da vida adulta.

Entre as mulheres, quatro dirigiam, mas a maioria estava como passageira, caroneira ou em ônibus. Em muitos casos, eram mães, esposas e filhas que voltavam de visitas, festas familiares ou compromissos de trabalho.

 

Três de Maio, o epicentro

Com 18 mortos em cinco anos, Três de Maio lidera o triste ranking. Logo atrás estão Ijuí (12 acidentes e 13 mortes), Cruz Alta (10 e 12), Catuípe (5 e 6), Independência (5 e 8), Horizontina (3 e 4) e Doutor Maurício Cardoso (2 e 2).

No cenário estadual, a ERS-342 aparece como a 12ª rodovia com mais acidentes fatais entre 2020 e 2025. A ERS-122, que conecta os Vales do Caí e do Sinos à região da Serra Gaúcha, é a mais fatal do Estado, com 207 registros nos últimos cinco anos.

 

Municípios cobram resposta do Estado

A falta de melhorias na infraestrutura das rodovias da região motivou um movimento regional. Neste ano, os municípios que integram a Associação dos Municípios da Fronteira Noroeste (Amufron) entregaram ao governo estadual um pedido coletivo de melhorias nas estradas.

O documento, elaborado com base em um levantamento da unidade regional do Daer em Santa Rosa, aponta que seriam necessários mais de R$ 110 milhões em investimentos para recuperar a infraestrutura das rodovias estaduais, incluindo o trecho que liga Horizontina a Catuípe — justamente uma das áreas mais críticas, que registrou 47,6% do total de mortes (30).

Segundo o presidente da Amufron e prefeito de Boa Vista do Buricá, Joãozinho Sehnem, houve apenas um retorno verbal até o momento. “Inclusive estamos organizando uma reunião para o dia 19 de novembro aqui na região com o vice-governador, Gabriel Souza, e com a Secretaria de Desenvolvimento, onde iremos apresentar as demandas — e uma delas é justamente essa da ERS-342, bem como a criação de terceiras faixas na ERS-344 e 210”, disse Sehnem.

 

Infraestrutura

Quem usa o trecho às vezes duvida que o governo estadual tenha gasto milhões de reais em obras na via. Os buracos e a falta de sinalização dificultam a vida dos motoristas, principalmente à noite ou em curvas, onde, em alguns casos, é necessário ir para a pista contrária para evitar cair nas falhas da superfície do pavimento.

Mas o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), via e-mail, informou que, entre 2020 e 2025, investiu R$ 17,7 milhões na ERS-342, entre Doutor Maurício Cardoso (km 0) e Catuípe (km 94+170), em ações como reperfilagens, microrrevestimentos, roçadas, sinalização e limpeza do sistema de drenagem.

No percurso que liga Ijuí a Cruz Alta, dados do Daer apontam investimentos superiores a R$ 22,7 milhões.

O órgão também pretende concluir ainda neste ano o anteprojeto para ampliação da rodovia entre Cruz Alta e Ijuí. O plano inclui a duplicação de 8,8 km em Cruz Alta, 3 km em Ijuí, além de terceiras faixas e restauração do pavimento. O investimento estimado é de R$ 200 milhões.

O Daer também prometeu licitar novos contratos de sinalização, o que poderá permitir melhorias pontuais nos trechos mais perigosos.