TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - EMILIO TESCHE

TRÊS DE MAIO  E SUA HISTÓRIA - EMILIO TESCHE

EMILIO TESCHE

 

Depois de ter passado por aqui brevemente em 1918, para verificar a qualidade das terras, o protestante Emilio Tesche chegou definitivamente a Buricá em 1920, após uma viagem de vários dias em um carroção, juntamente com a esposa Emília, e seus oito filhos. Eles vinham de Serra do Cadeado (hoje município de Augusto Pestana), onde Emilio e a esposa eram hoteleiros e proprietários de um salão de baile, que funcionava no mesmo imóvel do hotel. 
Aqui, adquiriu terras ao lado da estrada chamada de “14 de julho – Ijuí” (hoje Avenida Santa Rosa), de um irmão do senhor Antônio Cereser, que também havia chegado há pouco tempo na região, e como a agricultura era a melhor opção para sustentar a família naquele momento, Emilio Tesche passou a trabalhar como agricultor. 
O problema é que neste lote de terra que havia adquirido, existia um pequeno cemitério, e isso causava bastante desconforto para a família, pois o cemitério ficava exatamente no quintal de onde haviam estabelecido a sua residência (na esquina da Rua Riachuelo com a Avenida Santa Rosa). Foi então que Emilio Tesche resolveu deslocá-lo alguns metros mais adiante, local onde se encontra até hoje (em frente à Cotrimaio).
Este pedaço de terra, para a instalação do cemitério, havia sido doado por seu antigo proprietário, Antônio Cereser, para a igreja católica do povoado, com a pretensão de que ali fossem enterrados somente fiéis católicos, mas como a doação havia sido feita apenas verbalmente, o cemitério, que se encontrava dentro da propriedade que Tesche havia comprado, sem que ninguém lhe tivesse avisado deste detalhe, passou a servir de local para enterros de protestantes também. 
Naquele tempo, ainda era bastante explícita a oposição entre católicos e protestantes, iniciada por Martinho Lutero em 1517, e agravada pela contrarreforma da igreja católica alguns anos depois, e quando em 1928, chegou ao povoado o padre Vicente Testani, a questão do cemitério tornou-se quase uma questão de honra para ambas as igrejas. 
Emilio Tesche passou a receber pressões de ambos os lados, mas soube permanecer firme e tomar decisões bastante sóbrias, resultando em um entendimento entre as duas igrejas, que estabelecia que ambas pudessem enterrar seus mortos no local, lado a lado. Este fato lhe trouxe bastante autoridade junto à comunidade e Emilio passou a frente nas tomadas de decisões mais importantes. 
Após seu início como agricultor em Buricá, Emilio Tesche ainda instalaria uma serraria (em um terreno nos arredores do antigo Moinho Tesche), com a qual trabalhou juntamente com seus filhos até que estes começassem a seguir suas próprias vidas. 
Em 1923, com o início da revolução deflagrada no Rio Grande do Sul, devido às insatisfações com a quinta recondução de Borges de Medeiros à presidência do Estado (o termo “governador” passou a ser usado a partir de 1947, na República Nova), e consequentemente, ao aumento dos casos de invasões de fazendas, onde ocorriam assassinatos, roubos e estupros por revolucionários, Emilio Tesche comandou uma “Liga Colonial”, formada por um grupo de colonos armados, que promovia a defesa do povoado contra possíveis invasores, e estabelecia regras para aqueles que quisessem atravessar por esse território. A liga foi desfeita somente em fins de 1924, com a chegada de uma força pública da Bahia a Buricá, como relatou anos mais tarde o filho Fredolino Tesche, em uma entrevista à Rádio Colônial. 
Emilio Tesche ainda teria participação importante em diversos outros acontecimentos que viriam a promover o desenvolvimento da comunidade, tornando-se também presidente da Comunidade São Paulo e promovendo a compra dos sinos da igreja, que até hoje emitem seu badalo pelos céus de Três de Maio. 
Emilio Tesche veio a falecer no dia 26 de junho de 1945, tendo sido enterrado dois dias depois em uma sepultura de honra, destinada a ele pela diretoria da igreja ainda em vida. 
Hoje, a região que vai da rua Emilio Tesche até a rua Alfredo Henn, e desta, indo até a rua São Vicente, que passa ao lado do posto de combustíveis da Cotrimaio, se chama bairro Emilio Tesche, uma bela homenagem aquele que soube ter equilíbrio para utilizar-se de uma traquinagem do destino, para unir pela primeira vez em Três de Maio, duas comunidades religiosas que antes somente erguiam muros entre si.  
 

 

Contribuiu com informações para este texto o bisneto 
de Emilio Tesche, o professor, Dr. Leomar Tesche.

 

 

 Emilio Tesche

 

Família Tesche: da esquerda para a direita, em pé: Alfredo, Fredolino, Ricardo, Guilherme, Teóphilo, Hauschild e Alma. Sentados, da esquerda para a direita: 
a esposa Emilia, Elfrida, Emilio Tesche e Hulda, com Erica no colo

 

 

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