Preço do gás de cozinha compromete o orçamento das famílias

Alternativa para economizar no consumo acaba sendo o fogão a lenha e o forno elétrico. Segundo empresas do setor, de janeiro a setembro, preço subiu em torno de 40%

Preço do gás de cozinha compromete o orçamento das famílias
Embora a alta do preço do gás de cozinha, a família de Paulo (segundo à direita) não perde a esperança de ver dias melhores, com relação à economia do país - Foto arquivo pessoal/divulgação

Valéria de Castro Gomes, 36 anos, é dona de casa e faz faxinas e crochê para incrementar a renda da família. Casada com Paulo Ricardo Soares Gomes, 40 anos, eles têm quatro filhos: Marcos Paulo, 16 anos, João Vítor, 12, Paulo Henrique, 11,  e Evelyn Letícia, 7 anos. 


O marido dela trabalha com carteira assinada, em uma oficina de bombas injetoras. A família ajusta o orçamento para dar conta de todas as despesas. Ainda mais ultimamente, em que o preço do gás de cozinha aumentou consideravelmente, chegando na faixa de R$ 100, e chega a comprometer o orçamento doméstico.


Valéria conta que está reduzindo o uso do fogão a gás na cozinha. “O gás está caro demais. Pra nós, um botijão dura menos de um mês. O preço está um absurdo”, reclama.


Segundo a dona de casa, a alternativa para economizar no consumo é usar o fogão a lenha para cozinhar, e o forno elétrico para assar pão.  “No inverno economizo gás porque uso bastante o fogão a lenha”, diz. 


A dificuldade encontrada pela família de Valéria é uma situação presente na maioria dos lares brasileiros. Nos últimos meses, os consumidores sentiram pesar no bolso o preço do gás de cozinha. O impacto é ainda maior sobre as famílias de baixa renda. 

 

EM SETEMBRO, O AUMENTO JÁ CHEGA A 7%

O valor mais caro do Brasil – R$ 130 o botijão de 13 quilos –, é na região Centro-Oeste. Nas últimas quatro semanas, mesmo sem a Petrobras aumentar o preço do produto nas suas refinarias desde o início de julho, a alta já atingiu 5%, segundo dados divulgados no sábado, 18, pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).


A elevação de preço se deve a um aumento de 7% feito pelas distribuidoras por causa do dissídio salarial da categoria em setembro. O preço nacional médio do botijão na semana de 12 a 18 de setembro ficou em R$ 98,33, sendo o mais barato encontrado na região Nordeste: R$ 75,00.

 

PREVISÃO É DE MAIS ALTA 

O economista Eric Gil, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais, explica que a Petrobras adota uma política de preços que aplica valores de importação sobre derivados do petróleo produzidos no Brasil e é isso que faz o preço ficar muito alto e incompatível com os custos reais. O economista destacou que o Brasil produz cerca de 80% do que consome de derivados, o que reforça que a política de preços da Petrobras é a responsável pelos valores muito acima do mercado.


Ele traz ainda um cenário pouco animador. A previsão de algumas associações é que o gás de cozinha atinja o valor de R$ 150,00, caso a política de preço da Petrobras permaneça a mesma. Atualmente, o botijão de gás corresponde a 8,5% do valor do salário mínimo, número superior a 2015 quando essa porcentagem era de 5,7%.


O economista explica, ainda, que de acordo com dados do IBGE, em 2018 mais de 14 milhões de pessoas usavam lenha e carvão para cozinhar, justamente pelo preço do gás de cozinha e essa tendência é de aumento, gerando uma perda na qualidade de vida dessas famílias.
Ainda de acordo com Eric Gil, os impostos não têm um peso grande sobre o preço dos derivados do petróleo. Não existe imposto federal sobre o gás de cozinha e o ICMS está estável em 15,5%, o que demonstra que não é a política fiscal a responsável pelos crescentes aumentos de preço dos combustíveis e gás de cozinha.

 

Preço é praticamente o dobro do ano passado; valor médio é R$ 105 em Três de Maio

Na pesquisa feita pelo jornal Semanal, na quarta-feira, dia 22, nas revendas de gás em Três de Maio, o menor valor do botijão de 13 quilos encontrado é de R$ 99,00 e o maior de R$ 120,00, com a taxa de entrega. 


Segundo empresários do setor, de janeiro a setembro, o reajuste foi de 40% em média. No início do ano, o preço médio do botijão era de R$ 75,00. 


Conforme um revendedor local, de maio de 2020 a setembro de 2021, em todos os meses, houve um reajuste de cerca de 5%. Segundo ele, o valor é mais que o dobro do ano passado e a previsão é que haja novo reajuste, em torno de 4% nos próximos dias.

 

Setor de alimentação é um dos mais prejudicados

Em contato com empresários locais do setor de alimentação – bares, lancherias e restaurantes – a opinião é unânime de que o preço está muito alto, influenciando diretamente no custo dos produtos.


Segundo um empresário do setor, que prefere não se identificar, o gás é fundamental em quase todos os afazeres na cozinha, e por isso, o momento exige adaptação e, inclusive, reduzir a margem de lucro do restaurante. “O mais dificil é repassar esse valor para os clientes. Mas está chegando ao ponto de não conseguirmos mais manter valores; ou reajustamos ou fechamos. A sociedade é refém desses tipos de combustíveis, como gás, gasolina, diesel e outros”, lamenta o empresário.