ECOS DO TEMPO: Rosa Chrischon Uma vida simples e dura, mas cheia de alegrias

ECOS DO TEMPO: Rosa Chrischon  Uma vida simples e dura,  mas cheia de alegrias
Aos 92 anos, Rosa Chrischon fala de sua história de vida com orgulho e alegria

Atualmente com 92 anos, Rosa Chrischon, nascida Rosa Meller, nasceu em Alto da União - Independência, local de apelido pitoresco: Pinga Fogo. Sua casa era um lugarzinho pequeno, mas que cabia todo mundo. Seus pais tinham um alambique, onde vendiam cachaça e ela e os irmãos ajudavam no que era possível. Mais tarde, Henrique Meller, seu pai, que gostava muito de bailes, festas e caçadas, construiu um salão de baile. Na localidade não tinha igreja, mas a escola era o centro de tudo: servia de sala de aula e quando o padre aparecia, era onde ele rezava a missa.

Filha de agricultores e irmã de mais onze, Rosa lembra que a infância foi “pesada” — assim que as mãozinhas conseguiam segurar uma enxada, lá estavam arrancando mato, capinando, recolhendo ovos e ajudando  em tudo o que fosse solicitado. Ainda assim, ela diz que sua infância foi feliz: corria descalça com os irmãos, inventava brincadeiras e enchiam a casa de barulho e gargalhadas.

Estudou até o segundo ano primário e, aos   16 anos casou-se com o vizinho de nome sonoro: Lodovico Chrischon . A festa foi simples e memorável na casa do pai. Carnearam uma rês e um porco; depois, todo mundo foi dançar no salão  da família Meller. Presentes não eram muitos, eram simples também, mas o que valia era a animação.

O casal iniciou sua vida em São Miguel - Independência, e mais tarde, já com quatro dos nove filhos, voltaram a morar em Alto da União (Pinga Fogo), sempre no batente da lavoura. Como não havia creche, a solução era prática: os filhos iam juntos para a roça e eram deixados na sombra “atrás de um toco”, enquanto eles trabalhavam. O fogão à lenha aquecia o leite das crianças, e o tanque era enchido com água do poço, que havia na varanda da casa. Era assim que cuidava da família. 

A vida não era fácil, mas Rosa com um sorriso saudoso e melancólico lembra: “Se era sol, era no sol; se era chuva, era na chuva. Era assim o trabalho."

Foram nove filhos, e naquela época a “gente criava muitos porcos, galinhas e vacas de leite”. Com o tempo e os filhos crescidos, estudando e alguns já trabalhando, Rosa e Lodovico mudaram para a cidade de Três de Maio. O marido, não media esforços para continuar cuidando da lavoura por mais alguns anos quando, já idoso, resolveu vender a propriedade no interior. Lodovico faleceu em 2018, aos 94 anos.

Hoje, cercada de filhos, netos, bisnetos (tantos que ela já perdeu a conta!), está prestes a se tornar trisavó. Atualmente Rosa mora no Lar dos Idosos onde refere se sentir bem cuidada e está cercada de carinho e cuidados dos filhos e netos que a visitam com bastante frequência para longos papos. Ela diz que encara a experiência como um passeio: “Estou aqui por enquanto, mas ainda volto para casa um dia”.

Entre lembranças e risadas, ela deixa um conselho cheio de sabedoria para os jovens: fui criada na pobreza e na dificuldade, muitas vezes sem nem ter sapatos para calçar, e por isso aconselho os jovens de hoje a valorizarem a abundância e as oportunidades que têm, sem esquecer de dar importância às coisas simples da vida.

E assim é a Rosa Chrischon: uma vida inteira de luta, mas contada com leveza, simplicidade e um brilho nos olhos de quem sabe que até na dureza da roça, sempre coube muita alegria.