TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - O POSTO ESSO DOS FLECK & KOCHHANN

O POSTO ESSO DOS FLECK & KOCHHANN
Neto de imigrantes e filho do casal Alberto Kochhann e Emília Schuch, Edgar Mathias Kochhann havia nascido em 19 de fevereiro de 1926, no município de Lajeado. Em 1943, aos dezessete anos de idade, veio de ônibus de sua terra natal para Três de Maio, a fim de empregar-se na fábrica de óleo de mamona de Germano Urhy, que também era natural de Lajeado e irmão de Elvira Urhy, esposa do doutor Frederico Krebser, médico que possuía consultório próximo a fábrica de óleo e que era sócio de Germano Urhy neste empreendimento.
Em Três de Maio, Edgar hospedou-se inicialmente em um quartinho localizado no sótão da casa da família Krebser, período em que conheceu Elly Fleck, filha mais velha dos proprietários do hotel localizado na rua em frente, o Hotel Fleck, onde ela trabalhava. Os dois acabaram se casando naquele mesmo ano, no dia 27 de junho de 1943, e tiveram nove filhos: Leda (1944), Ileni (1946), Ernesto (1949), Geraldo (1950), Rosa (1952), Loiva (1955), Paulo (1958), Anelise (1961) e Mariane (1964).
Naqueles anos em que a Segunda Guerra Mundial causava transtornos e repercutia no mundo, Edgar Mathias Kochhann demitiu-se da fábrica de óleos e começou a trabalhar como taxista, período em que a produção de combustível para os carros, que na época vinha de fora do Brasil, começou a ser mais direcionada para os países em conflito, o que obrigou os automóveis no país a terem de se adequar de outras formas, principalmente instalando os chamados gasogênios, um equipamento que convertia matérias-primas sólidas e líquidas em gás, e Edgar, que sabia que o óleo de mamona também servia como um bom líquido de combustão para o motor, passou a abastecê-lo com este óleo, o qual conseguia diretamente da fábrica de Germano Urhy. Mas logo depois da guerra, a fábrica de óleos fechou as portas e vendeu todo o seu maquinário para uma fábrica de Santo Ângelo, e Edgar teve de voltar a utilizar outros tipos de combustíveis em seu veículo.
Nos anos seguintes, por questões médicas envolvendo a saúde de sua esposa, mudou-se com sua família por um breve período para o município de Ibirubá, onde durante dois anos empreendeu no ramo da hotelaria, até decidir retornar a Três de Maio, momento em que, juntamente com seus cunhados, Osvaldo e Evaldo Fleck, decidiu montar um posto de combustíveis no terreno ao lado do hotel da família Fleck (Lat. -27.773303 Long. -54.235745 DD).
Assim, construíram um prédio de dois pavimentos na esquina da atual Rua Horizontina com a Rua Mato Grosso, enterraram os tanques para armazenamento dos combustíveis na varanda em frente, depois instalaram as bombas e, no ano de 1949 iniciavam-se oficialmente as atividades do Posto Esso de Três de Maio.
Naqueles anos em que funcionou no local, muitos frentistas trabalharam nas bombas do posto, mas o que mais é lembrado era Arno Kuhn, conhecido como “Gordo”. Os frentistas trabalhavam até às 22h, quando após, no restante da noite até o dia seguinte, quem assumia a responsabilidade de abastecer os veículos que encostavam a frente do posto eram os filhos de Edgar Mathias Kochhann, Geraldo e Ernesto, de 9 e 10 anos respectivamente.
A responsabilidade dos meninos era abastecer os caminhões que saíam de madrugada para levar porcos até São Paulo, momento em que anotavam cuidadosamente em um caderninho o nome do motorista, quantos litros abasteceu e o valor correspondente ao abastecimento, para que quando o caminhoneiro retornasse de viagem, viesse pagar pelo combustível. Nestes momentos, se um cliente desconhecido chegasse, os meninos eram orientados a chamar seu pai batendo com um pedaço de madeira na parede abaixo de seu quarto, que ficava no segundo pavimento do prédio, para acordá-lo e ele próprio vir atender o desconhecido.
O posto funcionava praticamente dia e noite, com veículos encostando a todo o momento para abastecer, por isso, fazia-se necessário ter sempre um caminhão tanque buscando combustível na distribuidora, e o Posto Esso chegou a possuir dois, um deles sempre dirigido pelo principal motorista da firma, Leopoldo Vüst.
Na parte de trás do terreno, construíram uma enorme rampa para lavagem de veículos, onde seguidamente encostavam caminhões do frigorífico Prenda de Santa Rosa, carregados de suínos, para dar um jato de água nos porcos antes de seguirem viagem e assim evitar que alguns animais morressem sufocados com o calor que fazia naqueles dias quentes.
O calor e a falta de protocolos de segurança mais rígidos com relação aos postos de combustíveis na época, costumavam ocasionar acidentes pois, seguidamente labaredas de fogo subiam alto pelas bombas quando algum cliente desavisado insistia em fumar enquanto abastecia o carro, ou quando estes jogavam bitucas de cigarro acesas no chão, onde não era incomum estar pingando combustível. Nestes momentos, as crianças que costumavam brincar em um taquaral ali próximo (atual esquina do Sesc e da Igreja Batista onde na época terminava a Rua Mato Grosso), vinham correndo para assistir os homens tentarem dominar as chamas.
Outro atrativo que por muitos anos chamou a atenção de crianças, e mesmo adultos, no posto, eram duas araras, uma verde-amarela e outra azul, que ficavam em uma gaiola em frente ao estabelecimento. Além disso, devido a enorme demanda por reparos mecânicos em veículos que transitavam pelas péssimas estradas da região, decidiram instalar junto ao posto uma bem estruturada oficina mecânica, com seção de peças e maquinário de ponta, chegando a terem três tornos mecânicos para o conserto de peças avariadas, principalmente para as pontas de eixo de caminhões que quebravam constantemente nos buracos das estradas, quando estes passavam carregados.
Também os pneus sofriam muito nas estradas, necessitando constantemente de reparos. Soltar os pneus dos eixos e das rodas dos caminhões era um trabalho por vezes árduo, feito na base da marreta, o que ocasionalmente exigia quase uma manhã inteira de trabalho. Logo a oficina mecânica de Fleck & Kochhann se tornou a principal referência para os motoristas da região, principalmente porque todos que se deslocavam de Horizontina, Crissiumal e Dr. Mauricio Cardoso para Ijuí, passavam necessariamente no caminho por Três de Maio.
Naqueles primeiros anos, mais nomes haviam integrado o quadro societário do posto, como os senhores, Ricardo Kreher (marido de Irene Fleck), João Lorenzoni (marido de Irma Fleck), e na oficina, Adolfo Serafim Kochhann (irmão de Edgar), além de outros, como Osvino Greiwe, Nelson Sala e Walter Guido Greiwe.
Na época, estes sócios também montaram junto ao estabelecimento uma agência de automóveis, revendedora das marcas Dodge, Chrysler, DeSoto, e nos promissores anos em que se deu início a agricultura mecanizada no país, tornaram-se os principais revendedores dos aclamados tratores Zetor.
Ao longo dos anos, todo este empreendimento exigiu o trabalho de muitas mãos para seu funcionamento, chegando o negócio a contar com quase cinquenta pessoas envolvidas desde a direção, o posto, a oficina e a seção de peças.
Edgar Mathias Kochhann trabalhou na oficina e no posto de combustíveis até se aposentar, vindo a falecer no dia 12 de agosto de 1990, dois anos depois de sua esposa, Elly Fleck, falecida no dia 21 de abril de 1988.
O Posto Esso de Três de Maio encerrou suas atividades em 1983, quando alguns dos filhos de Edgar e Elly já haviam dado início a outros empreendimentos que carregam o nome da família até os dias de hoje.
Revisão do Dr. Prof. Leomar Tesche e do Historiador Orlando Trague
Instalações do Posto Esso foram construídas ao lado do Hotel Fleck, que na época era o principal ponto de parada para as empresas de ônibus que possuíam linhas na região
Edgar Mathias Kochhann e Elly Fleck com os filhos em registro de 1968, por ocasião das Bodas de Prata do casal. Em pé ao fundo: Geraldo, Ileni, Rosa, Leda, Ernesto e Loiva. No meio: Paulo e Anelise. De mãos dadas com os pais, a filha Mariane
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