TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - FRANCISCO GLIENKE

FRANCISCO GLIENKE
Francisco Glienke nasceu em Montenegro, no dia 27 de setembro de 1905. Formou-se em Pedagogia no Seminário Concórdia do Bairro Montserrat em Porto Alegre, quando foi convidado a lecionar como professor particular da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, no município de Mata.
Após um tempo ali, Francisco Glienke passou por várias outras comunidades do Rio Grande do Sul, prestando serviços como professor, até que conheceu Augusta Felten, com quem se casou em 16 de janeiro de 1932. O casal acabou tendo seis filhos: Elmer (1932), Selma (1933), Norma (1935), Omar (1937), Wilma (1940) e Alma (1946).
Com o desenrolar da Segunda Guerra Mundial e a proibição da utilização de idiomas estrangeiros por professores em sala de aula, principalmente o alemão, Glienke começou a não se sentir mais confortável naquela função, pois utilizava muito o idioma com seus alunos, que, em sua maioria, eram filhos de imigrantes.
Em 1952, quando lecionava em Tucunduva, foi convidado a mudar-se para o município de Ajuricaba, para prestar os mesmos serviços em uma escola local. Nesta oportunidade, seus contratantes se comprometeram a enviar um caminhão para buscar sua mudança e mais duas vacas que lhe pertenciam, e então ficou acertado que precisaria ser um caminhão grande e o combinado é que enviariam um caminhão Fargo, para a mudança ser transportada com comodidade. Mas no dia marcado o caminhão que encostou em frente de sua residência foi um mal ajambrado caminhãozinho de transporte de toras para serrarias, com caçamba baixa e tampas frouxas, o que deixou o professor Glienke bastante desapontado, pois precisou acomodar suas coisas de forma bastante precária para poder se mudar. Francisco Glienke acreditava que o documento mais importante no qual um homem poderia se sustentar era na palavra de outro homem, e não admitia meios termos.
A vida seguiu e não tardou o dia em que foi solicitado a mudar-se novamente para outra localidade, quando então resolveu deixar a profissão. Já não se sentia mais confortável com tantas mudanças e decidiu vir morar em Três de Maio, onde seus pais já estavam estabelecidos há algum tempo, na localidade de Caúna.
Então, em 1953, Glienke resolveu se estabelecer mais próximo da Vila Três de Maio e adquiriu um terreno de sete hectares onde passou a viver como agricultor, mas sempre preocupado com a educação de seus filhos. O filho mais velho, Elmer, havia ido terminar seus estudos em Porto Alegre, e lá, juntamente a amigos, adquiriu o hábito de todos os domingos ir até os estúdios da Rádio Farroupilha para assistir ao programa “Clube do Guri”, apresentado pelo locutor Ary Rêgo. Também gostava de acompanhar no auditório o programa “A Banca do Sapateiro”, apresentado pelos locutores Pinguinho e Walter Broda, os quais simulavam um diálogo entre um sapateiro de sotaque alemão e seu cliente, comentando assuntos do cotidiano da cidade e do país, com uma encenação divertida na qual, sempre que finalizavam um assunto, para trocarem de tema, o sapateiro dava uma forte batida com o martelo na sola de um sapato soltando um som alto semelhante ao som de um sino, ao mesmo tempo que dizia o bordão “Entra preguinho! Entra seu desgraçado!”.
O programa foi um grande sucesso da Rádio Farroupilha nos anos de 1950 e 1960.
Quando Elmer terminou o Ginásio, seu pai esperava que ele prosseguisse nos estudos, formando-se professor, mas aquilo já não era mais o que Elmer desejava para si, e no dia 13 de maio de 1953, Elmer decidiu retornar a Três de Maio e escolher um outro caminho para seguir.
Foi então que, conversando com seu pai, que sabia de seu interesse pelo radialismo, este lhe disse: “O Germano vai abrir uma rádio aí! Por que tu não falas com ele?”.
Germano Dockhorn, homem de negócios que há muitos anos prosperava em diversos ramos, sendo o proprietário da Comercial Dockhorn Ltda, uma das mais antigas casas comerciais da Vila Três de Maio, e que naqueles dias atuava como deputado federal no Rio de Janeiro, quando perguntado a respeito da rádio por Elmer Glienke, lhe respondeu: “Sim, estou em fase de legalização dela! Vai lá e experimenta para ver se você se adequa!”.
Então, com um bilhete assinado por Germano Dockhorn em mãos, Elmer Glienke foi até o estúdio que estavam montando nas proximidades da Comercial Dockhorn S/A e fez o teste, sendo aprovado em seguida.
Quando a rádio finalmente começou a funcionar, em caráter experimental, Elmer Glienke era o homem por trás do microfone, e logo sua voz começou a ser reconhecida por todos os lados, e ele, mais prestigiado.
Através de um pequeno valor cobrado, a rádio tocava músicas o dia inteiro homenageando aniversariantes, noivos e enamorados.
Neste período, Elmer passou a receber convites de Augusto Rutzen, fabricante de bebidas, para ir com ele em cima do caminhão da empresa quando iam fazer suas vendas e levar bebidas nos estabelecimentos comerciais.
Um dia, Augusto Rutzen e seu filho, Fredolino, que trabalhava com ele, chegaram na casa de Elmer e o convidaram para ir com eles e mais alguns convidados a um baile. Elmer se arrumou e foi com eles.
Os Rutzen iam aos bailes principalmente para promoverem suas bebidas, que eram bastante apreciadas pelo público. Depois de se acomodarem em uma mesa, Fredolino Rutzen tirou uma moça para dançar. Após a dança, a moça, que se chamava Loni, convidou a Elmer para a pista de dança, mas Elmer não sabia dançar, e então os dois ficaram aquele baile apenas conversando, enquanto todos os demais se refestelavam bebendo as afamadas cervejas “Três de Maio” (Pilsen) e “Beija Flor” (preta), dos Rutzen.
Logo Elmer começou a se sentir mais interessado por Loni, e descobriu que a moça gostava da música “Cerejeira Rosa”, de Zezé Gonzaga.
Alguns dias depois, encontrando com ela pela rua, disse: “Ouve lá que vou tocar a tua música hoje!”.
Então tocou “Cerejeira Rosa” naquele dia, depois tocou no outro dia também; e no dia seguinte tocou mais umas quatro vezes, e nos dias após, “Cerejeira Rosa” era a música que mais se ouvia na Rádio Colonial.
Quando Elmer levava o dinheiro arrecadado com as dedicatórias para o contador da firma, Sr. Kettner, que ficava na Comercial Dockhorn Ltda com o rádio ligado ao lado de sua mesa, anotando quantas músicas com dedicatórias eram veiculadas, normalmente Elmer tinha de puxar a carteira do bolso para complementar o valor.
Porém não foi em vão, e no dia 24 de outubro de 1959, o filho mais velho de Francisco Glienke, Elmer Glienke, finalmente se casou com Loni Maria Arenhart e o casal acabou tendo quatro filhos: Maria Denise (1960); Jairo (1963); Aglaé (1969) e Nara (1971).
Em 1968, Francisco Glienke ajudou a fundar a Cooperativa Tritícola de Três de Maio – COTRIMAIO, fazendo parte de seu Conselho Administrativo.
O professor Francisco Glienke nunca mais voltou a dar aulas e veio a falecer no dia 20 de junho de 2009, com 103 anos de idade, quando após, uma área de sua propriedade foi loteada tornando-se parte do atual bairro Jardim das Acácias, e a uma de suas ruas foi dado o nome de “Rua Francisco Glienke”.
Revisão do Dr. Prof. Leomar Tesche
Em pé, dá esquerda para a direita: Wilma, Omar, Norma e Elmer.
Sentados: Augusta, Francisco e a filha mais jovem, Alma
Francisco Glienke
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