O maior impacto foi no segmento não essencial, que acumulou perdas e redução no faturamento bem consideráveis nos últimos meses

Em um ano de pandemia diversas vezes o comércio não essencial teve que fechar as portas ou trabalhar com restrições

O maior impacto foi no segmento não essencial, que acumulou perdas e redução no faturamento bem consideráveis nos últimos meses
Devido às restrições impostas pelo governo do Estado, as atividades consideradas não essenciais deixam o comércio sem clientes, causando prejuízos financeiros consideráveis

“Todo trabalho digno e honesto, que leva o pão para a mesa das famílias, que garante o alimento e o sustento de casa, é essencial”, avalia a empresária Denise Nedel ao criticar o fechamento das empresas devido à bandeira preta em todo o território gaúcho. 


Anunciada no dia 27 de fevereiro a medida deve ser mantida pelo governo do Estado até o dia 21 de março, determinando o fechamento de empresas dos mais diversos setores que não são considerados essenciais. Em virtude disso, a Fecomércio-RS (Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do RS) retomou a campanha “O comércio quer trabalhar”, visando sensibilizar a sociedade para a importância do funcionamento do setor de bens, de serviços e de turismo do RS, e defender a volta permanente das lojas de portas abertas – que não são o foco da transmissão da Covid-19. Em diversas regiões do Estado houve manifestação contra o fechamento do comércio.


Em Três de Maio, ACI e Sindilojas temem o impacto financeiro no comércio, já que a maioria teve queda considerável nos últimos 12 meses e que pode ser agravado agora com mais de 20 dias fechados. Para o presidente do Sindilojas, Dilson José Mireski, todos os segmentos sofreram algum tipo de impacto, dentro de suas particularidades, entretanto o comércio varejista é o mais afetado.


“A ACI/Sindilojas, em contato com empresários de diversos segmentos de nosso munícipio, está fanzendo um levantamento dos impactos sofridos por consequência da pandemia”, explica Dilson.


Ele lamenta que quando os diversos segmentos se reestruturaram e voltaram com sua produção e atendimento normal,  foram  novamente surpreendidos com decreto estadual, que determinou o fechamento da portas e/ou com restrições em seus atendimentos. “A contaminação não ocorre dentro dos estabelecimentos comercias e no local de trabalho, tendo em vista que todo o comércio em geral está seguindo os devidos protocolos e respeitando todas as medidas de prevenção ao coronavírus”, alega o presidente do Sindilojas. 

 


Impacto da pandemia não é uniforme em todos os setores

O presidente da ACI, Fábio Da Luz ratifica a opinião do presidente do Sindilojas ao afrmar que o maior impacto foi no segmento não essencial que acumula perdas e redução no faturamento. “Todo mundo tentou se reinventar, encontrar maneiras de compensar as perdas. Usando mais as redes sociais, as tecnologias, a internet. Mas certamente o comércio não essencial teve uma queda bem acentuada no ano de 2020”, avalia. 


Da Luz considera que, numa visão geral do comércio, o impacto da pandemia de 2020  não é “uniforme” porque cada segmento tem uma realidade diferente. “Percebemos que a área do agronegócio teve um ano excelente. O preço da soja está em alta, e as commodities como um todo; e tudo indica que vamos ter uma safra boa. O setor da construção civil, também não foi tão afetado, assim como os setores que vendem produtos de primeira necessidade”, avalia.


Ele considera que o primeiro semestre do ano passado foi o mais difícil, já que as empresas ficaram três semanas fechadas – última semana de março e as duas primeiras de abril –, e depois oscilaram períodos de lojas abertas, mas com restrições de atendimento.  “No segundo semestre, o movimento andou mais próximo do normal, e dezembro foi até positivo, o que deu um fôlego para nosso empresário. Mas é muito diversificado”. 


Conforme Da Luz, outro fator negativo é a perda do potencial de compra das pessoas, causada pela inflação, com reajustes nos combustíveis e alimentos. “O consumidor perdeu o poder aquisitivo e está consumindo menos. Fazendo escolha entre um produto e outro, tendo um cuidado maior para comprar, devido à essa instabilidade da economia”, frisa o presidente da ACI.

Presidente da ACI, Fábio Da Luz

 

 

Empresários três-maienses avaliam os prejuízos causados pela pandemia que já dura um ano

 

‘Sem trabalhar, o faturamento do autônomo é zero’


“O aumento dos casos de coronavírus não aconteceu nos estabelecimentos comerciais. Nós estamos dentro dos protocolos exigidos pelas autoridades competentes. Faz um ano que estamos nos cuidando, evitando muita gente dentro do salão. A nossa atividade poderia continuar, sem fechar as portas, porque se o profissional autônomo fica fechado, o faturamento é zero. Sem trabalho, sem renda. As meninas que trabalham conosco são comissionadas, então, também não têm ganho financeiro. Com a queda no faturamento nos últimos 12 meses fizemos ajustes, gastando somente o essencial. Nosso capital de giro não é grande e está se esgotando. Mas graças a Deus não precisamos vender nada; nem precisamos tomar dinheiro emprestado, apesar da queda no faturamento, e o aumento nos serviços no crediário, além da inadimplência. Mas estamos nos mantendo com recursos próprios e queremos continuar assim. Nós que somos pequenos empresários não oferecemos riscos, tomamos todos os cuidados... mas não podemos trabalhar, enquanto que grandes empresas podem permanecer abertas e com aglomerações. No nosso entender, deveria haver uma  fiscalização mais efetiva.” 


Osmar e Clarice Boiczuk, proprietários do Centro da Beleza Maninho e Clarice

 

 

‘A lei deveria ser para todos’


“Olhando pela situação devemos permanecer todos fechados, sim! Mas todos. Acho necessária a medida do governo, contanto que a lei sirva para todos. Vamos ‘nos virando’ como conseguimos... Nessas horas se cada um pensar em si próprio não vai funcionar. Por isso, na medida do possível, vamos ajudando os alunos também. Muitos dos meus alunos tentam fazer os treinos a distância, através de aulas online, e quem tem disciplina está treinando todos os dias. Nosso trabalho está sendo dobrado, pois há mais planejamento que na aula presencial. Muitos alunos relatam que falta motivação, que sentem falta dos colegas, do ambiente... e sem contar no prejuízo de todos aqueles que estão em casa com medo da pandemia.”


Gabriela Griebler, educadora física e proprietária do Centro de Treinamento Muscle Gym

 

 

‘Tento ajudar as pessoas a manterem a saúde física e mental nem que seja de forma virtual’

“Torço para que isso termine o quanto antes! Estou sem atender de forma presencial desde o início da bandeira preta. Sou educadora física e tenho um studio onde sempre priorizei atender no máximo dois alunos por horário. No início de 2021 passei a trabalhar com Yoga também, com turmas pequenas em função de evitar aglomerações. Estou dando aulas online pra quem aderiu a esta alternativa (25% dos alunos apenas). Até o momento não aderi a empréstimos bancários. Quando passamos pela primeira restrição de funcionamento da minha atividade, em 2020, eu não ofereci aulas online. Porém percebi que isto se faria necessário num futuro próximo. Então me preparei para dar aulas online quando fosse necessário. E aqui estamos! Tentando ajudar as pessoas a manterem a sua saúde física e mental nem que seja de forma virtual.”


Ana Carine Dobler, educadora física e proprietária do Stúdio de  Gyrotonic e Yoga

 

 

Queda no faturamento de quase  20% nos últimos 12 meses

“Tivemos um primeiro semestre bem difícil em 2020, porque somos um produto considerado não essencial. Sofremos com muitas restrições, e como temos lojas em quatro cidades diferentes, em algumas delas, como em Palmeira das Missões, as restrições foram ainda maiores. No entanto, usamos da criatividade e apostamos no uso das ferramentas digitais para realizar as vendas.  Já o segundo semestre foi bom, principalmente nos meses de outubro, novembro e dezembro. Porém, ainda assim, o  faturamento médio das lojas teve uma queda de quase 20% nos últimos 12 meses. Mas se comparar a média do que aconteceu com o mercado como um todo (30%), no meu segmento conseguimos nos sair um pouco melhores que a média. Mas, pelo primeiro ano – de um total de 13 anos de atividades –, tivemos uma redução no faturamento. Nos anos anteriores sempre houve crescimento. 


Com relação ao Pronampe, acredito que houve muita dificuldade de acesso ao programa. Os bancos tinham um limite pequeno de recursos disponíveis, então acabaram ‘fazendo um leilão’. E a crítica que faço é que alguns bancos que me ofereceram os recursos, queriam vender um produto junto. Então, quem estava disposto a comprar o produto, o banco até fazia o empréstimo. Era pouco valor para muita necessidade de empréstimo do empresariado em geral. Eles ‘escolhiam’ para quem entregar o dinheiro e sempre existia a contrapartida.”


Fábio Da Luz, sócio-proprietário da rede de lojas Da Luz Calçados

 

 

‘Comércio sem cliente é muito triste’
“Estamos respeitando o decreto do governo estadual, com a loja fechada, e atendimento apenas pelo whatsapp e com serviços de tele-entrega. O cliente que precisa alguma coisa, nós levamos até ele.  Em termos de venda, caiu muito, mais de 70%. O que a gente vendia num dia, agora levamos uma  semana toda para vender. Tem procura de material escolar, já que os alunos precisam de material para fazer as atividades e acompanhar as aulas online. 


Consideramos uma decisão precipitada do governo do Estado. Não faz sentido, pelo fato de os mercados estarem abertos, e quase sempre  lotados, assim como outras lojas (relojoaria, por exemplo) estar funcionando normalmente.”
Daniela Christ, gerente do Lojão Econômico

 

 

‘Todo trabalho digno e honesto é essencial’
“Todo trabalho digno e honesto, que leva o pão para a mesa das famílias, que garante o alimento e o sustento de casa, é essencial. Por isso não concordo com as restrições impostas com a bandeira preta, já que tomamos todos os cuidados. A queda no faturamento nos dias em que tivemos que  atender com restrições chega a 50%. Já a queda no faturamento nos últimos 12 meses, é de menos de 10%. Precisei aderir ao Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) para manter a saúde financeira da minha loja. No ano passado, no início da pandemia, tive que demitir uma funcionária; mas depois de alguns meses contratei um novo colaborador. Também foi diminuída a carga horária de outra colaboradora.”

Denise Nedel, proprietária da Lojas Denise
 

 

‘Crédito do governo federal não chegou para quem mais precisou’
“No meu entender, as restrições impostas pela bandeira preta estão sendo feitas para responsabilizar alguém. Não acho que é dentro das nossas empresas - onde todos tomam os devidos cuidados - que acontece o contágio epidêmico. 


Teve momentos que o impacto no nosso faturamento foi total, pois estivemos em várias oportunidades com a loja fechada. Mas, mesmo com o comércio aberto as vendas caíram de forma expressiva.


Infelizmente, o crédito do governo federal não chegou para quem mais precisou, pelos critérios que os bancos utilizaram para a distribuição destes recursos. Mas com o prolongamento da crise epidêmica, quem utilizou desses financiamentos terá dificuldades para realizar os pagamentos, já que tudo está fechado novamente.” 


Maristela Garrafa, proprietária da Novidades Presentes e Floricultura

 

 

‘Estamos nos virando nos 30; mas a situação é bem complicada’
“A pandemia – e o fechamento do comércio – está impactando em torno de 90% no faturamento da minha empresa. Pelo menos à noite, o movimento caiu lá embaixo, porque estamos atendendo somente com tele-entrega, especialmente de hambúrgueres. 


É uma medida meio precipitada, porque não é só somente nas empresas e nas atividades não essenciais que está o problema. Acho que poderia ficar como antes, com atendimento até 22 horas. Daí o pessoal poderia sair; bares e restaurantes permaneceriam abertos; porque tudo estava sendo controlado nestes locais, com distanciamento social, e tudo mais.


No momento não aderimos a nenhum empréstimo, mas posteriormente, pode ser, porque sem investimento não tem crescimento no negócio. Estamos nos virando nos 30 para tentar dar o giro, mas é complicado.” 


André Carlos Cezar Cardoso, proprietário da KP Hamburgueria e Doceria