Falta de energia elétrica tem causado desabastecimento, diz Corsan

Faltas de água prolongadas têm gerado reclamações dos moradores de Três de Maio. Concessionária orienta instalação de reservatórios domiciliares

Falta de energia elétrica tem causado desabastecimento, diz Corsan
Interrupção do abastecimento de água ocorre pela falta de energia elétrica. Gerente da Corsan, Miguel Lugoch explica que a ‘instalação de geradores não é tão simples assim’

Diante do problema de falta de água que tem sido recorrente no município de Três de Maio, muitas pessoas têm reclamado e sugerido soluções, como a instalação de gerador. Para explicar as causas da constante falta de água e o que pode ser feito para solucionar o problema, o Semanal conversou com o gerente da Corsan em Três de Maio, Miguel Lugoch. 


O gerente frisa que as interrupções prolongadas de abastecimento são causadas por falta de energia elétrica no primeiro recalque de água bruta, em Lajeado Biriva, ou na Estação de Tratamento de Água (ETA), na Avenida Santa Rosa. “Estamos fazendo uma cobrança efetiva junto à RGE, que é a concessionária responsável pelo fornecimento da energia para nossas unidades consumidoras. Inclusive, já elaboramos planilha com demonstrativo de valores dos prejuízos causados à Corsan pela demora no restabelecimento da energia, sendo que na ocorrência do dia 26 de novembro a RGE demorou 16 horas para restabelecer a energia elétrica. Isso ocorreu devido a concessionária de energia ter poucas equipes para atender a região”, relata.


Lugoch ressalta que os problemas de abastecimento que o município tem enfrentado se devem a problemas com fornecimento de energia elétrica da RGE, concessionária responsável pela distribuição de energia para a Corsan. “A energia elétrica é um dos principais insumos para a operação dos sistemas de abastecimento de água sob responsabilidade da Corsan. Para tanto, são firmados importantes contratos de fornecimento com as distribuidoras de energia elétrica, em conformidade com diversas Resoluções da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, que têm por finalidade, entre outras, assegurar o fornecimento contínuo de energia elétrica ou com um mínimo aceitável de interrupções”, explica o gerente. Segundo ele, quando ocorrem interrupções de energia frequentes, além de limites pré-definidos, a distribuidora é advertida, como forma de assegurar o direcionamento de novos investimentos em infraestrutura para tornar os sistemas elétricos mais confiáveis.


Sempre que ocorre a falta de energia elétrica, o sistema de abastecimento de água fica ‘esvaziado’, uma vez que o volume acumulado nas tubulações e reservatórios é consumido rapidamente pelas mais de nove mil economias ligadas ao sistema. Quando a energia retorna, demora um tempo até que o processo se normalize reestabelecendo o pleno abastecimento.

 

 

Reservatório de água domiciliar é uma alternativa


O gerente alerta que, conforme previsto no Art. 48 do Regulamento de Serviços de Água e Esgoto, por motivo de ordem técnica, a Corsan poderá solicitar ao usuário a necessidade de instalação de reservatório domiciliar com o objetivo de regular o abastecimento. “Particularmente, recomendo sempre a instalação, pois, em uma eventual interrupção no abastecimento o usuário nem percebe que faltou água”, finaliza Miguel Lugoch.

 

 

Busca constante por melhoramento


Para melhorar o sistema operacional, a Corsan realiza, ao menos uma vez por ano, uma pesquisa de vazamentos invisíveis. Logo que são localizados, é providenciado o conserto. Conforme Lugoch, esta medida ajuda a melhorar a pressurização das redes de distribuição, aumentando a pressão nos setores mais altos, que são os que mais demoram a recuperar o abastecimento após várias horas de interrupção.

 

 

'Instalação de geradores não é a melhor alternativa', avalia o gerente

 

Sobre a possibilidade de instalação de grupos geradores – sugeridos por muitos usários –, como alternativa para a falta de energia frequente, Lugoch explica que para o corpo técnico da Corsan e da maioria das empresas de saneamento do país, esta não é a melhor alternativa. “A montagem, instalação, operação e manutenção de geradores de energia elétrica somente na captação de água bruta, como requerido, não seria suficiente para manter o abastecimento de água em caso de uma falta de energia generalizada, pois outras instalações são essenciais ao abastecimento. Assim, não se mostra viável a alternativa de instalação de geradores, haja vista que para o sistema operar – captação, adução, tratamento e distribuição – em uma eventual falta de energia pela distribuidora, deverão ser considerados elevadíssimos investimentos e custos”, justifica.


Para o gerente, a operação e manutenção preventiva de grupos geradores também são obstáculos, uma vez que exige muita manutenção preventiva e operações frequentes para não falhar no momento em que for necessária sua utilização. “Além disso, devemos considerar outros custos inerentes ao processo, como, o alto custo ambiental no uso dos grupos geradores diesel, instalados em áreas urbanas ou à beira de mananciais, com a emissão de gases poluentes, bem como, a poluição sonora provinda da operação. O fato de estarmos em grande parte próximos à mananciais, dificultará enormemente a aquisição de licenças de operação para estes grupos geradores, pois o risco de vazamento de óleo será considerado pelos órgãos ambientais”, destaca, ressaltando que atualmente os órgãos ambientais exigem cada vez mais a redução de emissão de gases, e a instalação de geradores a diesel viria na contramão da sustentabilidade. 


Outro ponto, segundo Lugoch, seriam os altos custos que envolveriam este sistema que  também inviabilizariam a gestão da empresa.

 

 

Cronograma de acontecimentos que levaram à falta de abastecimento de água no último dia 26


No dia 26, às 16h15min parou o bombeamento de água bruta do primeiro recalque de Três de Maio, localizado em Lajeado Biriva, devido à falta de energia (falta de fase), na UC 3082473598, impossibilitando de colocar em operação os motores. Como a luz não retornou, às 17h40min foi aberto o protocolo 9176338643 junto à RGE. Pelas 18 horas já começou a faltar água nos setores mais altos e a partir das 22 horas em toda cidade. A equipe da RGE constatou queima/rompimento de isoladores na rede de energia junto a um poste. Como estava sem peças de reposição, a equipe foi buscar em Santa Rosa e fez a substituição, mas ainda não conseguiu resolver o problema, pois ao ligar as chaves na rede de energia estas desarmavam novamente. Próximo às 23 horas, a equipe da RGE interrompeu o trabalho e retornou somente no outro dia às 7 horas.  Após 16 horas sem energia, às 9h05min retornou a energia e às 10h30 começou a operar o primeiro recalque, sendo que às 11 horas recomeçou o abastecimento nos setores mais baixos. Já nos setores mais altos o abastecimento normalizou às 2 horas do dia 28, ou seja, os setores mais altos ficaram desabastecidos por cerca de 32 horas. 


Para Lugoch é notória a falta de responsabilidade da concessionária de energia, pois abandonou o local do sinistro às 23 horas e retornou somente às 7 horas do dia seguinte, deixando o local sem energia por 16 horas.