ECOS DO TEMPO: A menina dos bonecos de sabugo e dos bailes

ECOS DO TEMPO: A menina dos bonecos de sabugo e dos bailes
Anilda Muller, 79 anos, teve uma infância feliz e usou toda sua criatividade , na companhia de seus 13 irmãos

Anilda Müller nasceu em Boa Vista do Buricá, no interior de Ivagaci, há 79 anos. E foi por lá mesmo que aprendeu a brincar e usar de toda sua criatividade  com o que a vida oferecia: bonecas feitas por ela mesma, algumas de sabugo de milho,  outras de paninhos ou retalhos. Quando não estava cuidando das “filhas” de brinquedo, era só correr: jogava caçador, esconde-esconde e pega-pega com seus 13 irmãos — isso mesmo, treze! 

Hoje, restaram apenas duas sobreviventes desse time animado: ela e uma irmã que mora no Paraná.

Desde pequena, Anilda já era do time trabalhador. Ia para a roça com os pais e ajudava a cuidar das vacas. Estudou só por um ano e meio — e não por vontade, mas por falta de professor. Quando os professores voltaram, o pai decretou: “agora tu não vai mais na aula, tu já é grande, tu vai é nos bailes!” E foi nos bailes que o destino dançou com ela.

Foi ali, entre uma música e outra, que conheceu seu futuro marido — que era vizinho, mas só virou amor de verdade na pista de dança. Namoraram por cinco anos até se casarem. Nada de festa grande, mas um casamento cheio de parceria. 

Anilda diz que ele era um bom homem, ajudava nas tarefas da casa, ainda mais quando ela estava atolada de trabalho. Tiveram apenas uma filha.

Depois de casados, moraram na “colônia”, em Santa Lúcia. A filha cresceu por lá, casou, teve duas meninas — que hoje já são casadas — e por muito tempo todos moraram juntos. 

Mas a saúde de Anilda foi apertando, e ela acabou precisando de cuidados mais intensos, devido a sua dificuldade de locomoção. Já era necessário cadeira de rodas, de andador e ainda de pessoas para erguê-la e auxiliá-la no deslocamento.  A dor nas pernas, joelhos e quadril já eram constantes e intensas. 

Diante dessa situação, a família foi em busca de ajuda, para o bem-estar dela, e encontrou no lar o apoio e acolhimento digno e necessário. E sabe o que ela diz? “Me sinto muito bem aqui. As meninas são boas comigo, gosto de todos! Agora essa é minha casa”.

A memória de Anilda guarda risos, mas também lágrimas. Como quando seu pai quebrou uma costela ao ser derrubado por um cavalo e não pôde ir ao casamento da filha. Ou a história que ela nunca esqueceu: a sogra, tomada pela tristeza, tirou a própria vida quando o filho — seu futuro marido — tinha apenas 8 anos. Foi ele quem aprendeu a cozinhar, lavar e cuidar da casa desde menino, com a ajuda do pai.

Mas Anilda, com sua risada leve e seu coração tranquilo, não se deixa levar pelas lembranças tristes. 

Todas as segundas-feiras, recebe a visita da filha, do genro e, frequentemente, das netas e bisnetas. Fala com carinho da vida que teve — entre roças, bonecas feitas à mão, bailes e muita dança. 

Hoje, a menina que um dia correu descalça por Ivagaci, dança com a vida no compasso da gratidão.

 

PROJETO ECOS DO TEMPO
APOIADORES:
Diretoria da Associação Tresmaiense dos Amigos dos Idosos
Amara Werle - Jornal Semanal 
Betina Cesa - Nossa Revista
Narjana Pedroso - 
@npagenciacriativa - gravação e edição dos vídeos
Luciana Thomé Chedid (Luka) Loja O Boticário  - cabelo e maquiagem 
Arlene Bender - entrevistas 
Miréia Bohnen - edição escrita das histórias 
OBS: as entrevistas e publicações foram autorizadas pelos familiares.