Cadeia produtiva do leite tem como desafio internacionalizar setor
Doutor em Desenvolvimento, Jesildo Lima, diz que para o setor se tornar ainda mais competitivo precisa avançar em termos de produção, inovação e tecnologia para proporcionar menos esforços para os produtores e animais, e gerar mais qualidade ao produto

A cadeia produtiva do leite é pauta de diversos eventos e debates em nossa região, principalmente pela relevância que possui dentro do setor primário local, aliado a presença de indústrias que processam a matéria-prima para diversos produtos. A temática foi o centro de um evento-técnico da Expo Terneira 2024, no dia 5 de maio, quando o doutor em Desenvolvimento, Jesildo Lima, ministrou a palestra “Cadeia Produtiva do Leite Fronteira Noroeste: De onde viemos e para onde vamos”.
Durante sua explanação, Jesildo trouxe números da cadeia leiteira da Região Fronteira Noroeste, fornecidos pelo Escritório Regional da Emater-RS/Ascar. Um dos estudos aponta que, no período de 2017 a 2024, o percentual de agricultores que trabalhavam com pecuária de leite entre os 20 municípios da região e que tinham um volume de produção diária de até 300 litros ao dia caiu de 84,39% para 62,20%. Em Três de Maio, somente no ano de 2017, o percentual dessa faixa de produção diária era de 87,21% e que caiu para 46,77% em 2024.
Para Jesildo, essa nova configuração se deve a diversos fatores. “O que a gente observa é que no volume total de leite não ocorreu redução significativa. Assim, a cadeia está concentrando produção. Esse é um processo sem volta, como ocorre em qualquer outra cadeia produtiva. Nós tivemos uma aceleração na profissionalização. Hoje temos uma menor quantidade de produtores, mas que alcançam um volume de produção maior, justamente porque as margens de lucro não são tão grandes como no passado. Tudo isso se soma para ocorrer este fenômeno”, explica.
Jesildo Lima, doutor em Desenvolvimento, palestrou sobre o tema durante Expo Terneira 2024
Produtores mais jovens na atividade
Outros aspectos considerados pelo doutor em Desenvolvimento, tem a ver com a baixa rentabilidade da atividade e consequentemente a saída dos produtores da atividade. “Tivemos um período em que as culturas (como soja) se tornaram bastante rentáveis e os produtores avançaram nessa direção”
Jesildo diz ainda que é preciso considerar fatores ligados à carência na mão de obra e a aposentadoria do produtor rural. “Há alguns anos, quem estava na atividade era aquele produtor com uma idade mais avançada, e neste momento, observamos que temos produtores mais jovens, com volumes de produção maiores, com sucessão na propriedade, etc. Essa é a dinâmica da cadeia do leite que está ocorrendo em nossa região”, acrescenta.
Outra informação trazida por Jesildo é com relação à relevância que a Região Sul tem com relação ao percentual da produção brasileira. Dados do Outlook Fiesp, elaborados pela Fiesp/Deagro e Mbagro, mostram que a produção brasileira saiu de 33 bilhões de litros de leite ao ano, em 2012, para 47 bilhões de litros em 2023. Além disso, a Região Sul passou a ser a maior produtora de leite.
Em 2012, o Sudeste detinha 35% do total produzido no país, enquanto o Sul concentrava 32% da produção. Agora, o Sul possui 37% da produção nacional, enquanto que o Sudeste tem 31,5%.
Quais os caminhos para o setor?
O aumento na produtividade, conforme aponta Jesildo Lima, faz parte da profissionalização da cadeia do leite. “Quando nós falamos da cadeia do leite ‘para onde vamos?’, nós partimos de uma sequência de profissionalismo, de aumento de produção por unidade, de produção por propriedade, o que é um processo normal e que outras cadeias já fizeram. Nós precisamos avançar em internacionalizar nossa cadeia, conectando-a com o mundo, para que possamos ser competitivos. Hoje, infelizmente, nós não somos competitivos na cadeia do leite”, ponderou.
Uma das alternativas entendidas pelo palestrante está em uma perspectiva de aumento de renda do brasileiro, para que ocorra uma maior demanda pelo produto. “Aumentando a renda dos brasileiros nos próximos anos – o que é uma tendência – nós aumentamos o consumo. Isso porque o consumo de leite está diretamente ligado à renda; reduzindo a renda das pessoas, se reduz o consumo per capita do produto. Hoje, nós chegamos nos melhores patamares, a 160 a 170 litros de leite consumidos por pessoa ao ano no Brasil, sendo que a própria ONU recomenda que sejam 200 litros de leite ao ano. Nos países de maior população, por exemplo a China, vem crescendo significativamente o consumo do leite e, por consequência, a demanda pelo produto”, ressalta.
Dessa forma, Jesildo acredita que é necessário avançar em alguns pontos na cadeia para que nosso produto seja mais competitivo. “Dentro da cadeia do leite, em termos de produção, inovação e tecnologia, precisamos proporcionar menos esforço aos agricultores, menos esforço aos animais, mais qualidade, controle de temperatura, por exemplo. Assim, nós conseguiremos melhorar ainda mais os nossos índices. Temos um bom nível tecnológico de genética nos animais de nossa região e isso é perceptível pelas principais indústrias do setor estarem na região. Temos uma cadeia que vem se mantendo como uma das mais importantes do Brasil”, finaliza.
PERCENTUAL DE PRODUTORES COM PRODUÇÃO DIÁRIA DE ATÉ 300 LITROS DE LEITE NOS MUNICÍPIOS DA FRONTEIRA NOROESTE
Município | 2017 | 2024 |
Alecrim | 94,21% | 79,31% |
Alegria | 91,11% | 70,21% |
Boa Vista do Buricá | 72,12% | 47,89% |
Campina das Missões | 83,07% | 59,06% |
Cândido Godói | 81,38% | 64,14% |
Dr. Maurício Cardoso | 86,83% | 77,50% |
Horizontina | 85,18% | 65,38% |
Independência | 85,32% | 51,92% |
Nova Candelária | 72,21% | 55,14% |
Novo Machado | 77,63% | 73,97% |
Porto Lucena | 97,22% | 85,29% |
Porto Mauá | 92,60% | 71,43% |
Porto Vera Cruz | 97,22% | 88,37% |
Santa Rosa | 87,73% | 61,63% |
Santo Cristo | 79,39% | 45,55% |
São José do Inhacorá | 74,52% | 59,77% |
Senador Salgado Filho | 85,29% | 78,72% |
Três de Maio | 87,21% | 46,77% |
Tucunduva | 93,41% | 84,62% |
Tuparendi | 81,01% | 68,71% |
Total | 84,40% | 62,20% |
Fonte: Emater-RS/Ascar regional Santa Rosa
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