TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - O ESCRIVÃO ALBINO TOMASI
O ESCRIVÃO ALBINO TOMASI
Albino Tomasi, nascido no dia 21 de novembro de 1905, na localidade de Alfredo Chaves (hoje Veranópolis), era o quinto filho dos imigrantes italianos David Pedro Tomasi e Josefina Comacchio, que além de Albino, tiveram também como filhos: João Batista, Pedro, Guerino, Elvira, Ema, Efigênia, Ada, Genoveva, Dozulina e Mário
Nos primeiros anos de colonização da Colônia Santa Rosa, David Tomasi mudou-se com sua família para a região de Tucunduva, onde passou a fazer muito dinheiro trabalhando como madeireiro, transportando enormes toras de madeira com a ajuda da correnteza dos rios, até adquirir uma vasta área de mata na região entre Cruzeiro e 14 de Julho (hoje, município de Santa Rosa).
Por volta de 1928, Albino conheceu Dalyra Weber Rössler, nascida em 10 de janeiro de 1910, na região de Feliz, e filha de Maria Weber, mulher solteira que, devido aos costumes tradicionais da época, acabou sendo obrigada a dar sua filha para a família Rössler criá-la. Tendo Albino achado que Dalyra era tratada mais como uma empregada do que como uma filha pela família que a adotara, resolveu mudar-se para a Vila Buricá e trazê-la consigo.
Na Vila, Albino passou a trabalhar junto ao escrivão distrital do lugar, Jacob Emilio Reinehr, realizando registros de nascimentos, óbitos e casamentos.
Antes de Reinehr, quando o Cartório de Registro Civil foi instalado no povoado, no dia 26 de maio de 1917, o primeiro escrivão foi o Capitão Vilarim Rodrigues, filho do Major Joaquim Rodrigues, autoridade responsável pela região, que, no dia 02/06/1917, fez o primeiro registro de um nascimento e de um casamento ocorridos na localidade, e, dias depois, em 12/06/1917, fez o primeiro registro de um óbito. Tempos depois, Vilarim Rodrigues passou a contar com ajuda de Jacob Emílio Reinehr, como seu ajudante, até este assumir sozinho a função.
Em 1929, Albino Tomasi casou-se com Dalyra e o casal teve doze filhos: Clóvis (1930), Therezinha (1931), Albino (1933), Ignês (1934), Pedro (1936), Maria (1937), Marta (1940), Josefina (1942), José Maria (1944), José Luís (1946), João (1948) e Paulo (1949).
No dia 25 de dezembro de 1935, Jacob Emílio Reinehr foi empossado como vereador de Santa Rosa na primeira legislatura do município, após sua emancipação de Santo Ângelo (1/07/1931), depois de um longo período em que o Governo Provisório de Getúlio Vargas (1930 – 1934) proibiu o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas estaduais e municipais de atuarem, e após isso, Reinehr foi deixando os trabalhos de escrivão distrital totalmente por conta de Albino Tomasi, até ser oficialmente destituído do cargo através de uma portaria emitida pelo juiz de direito da Comarca de Cruz Alta, Joaquim Lisboa Ribeiro, no dia 26 de setembro de 1938.
Assim, Jacob Emílio Reinehr resolveu propor a Albino Tomasi a compra de seu cartório (na época os cartórios podiam ser transferidos por venda), e tendo Albino sido receptivo a proposta, logo as tratativas resultaram exitosas, sendo o negócio fechado por 30 mil réis, valor que Albino foi pagando a Reinehr parceladamente através de seu trabalho no próprio cartório.
Inicialmente, quando haviam chegado à Vila, Albino e Dalyra foram residir em uma moradia mais humilde, na Rua Horizontina, em frente ao Hotel Planalto (hoje prédio do Bar 24 Horas, também chamado à época de Hotel do Portz, por pertencer a Felipe Anibaldo Portz), mas logo se iniciaram os anos de intenso progresso econômico na Vila, quando muitas pessoas vinham se instalar em Buricá e, logo, Albino adquiriu um terreno mais amplo, onde instalou seu cartório e construiu uma casa mais espaçosa para a família.
Homem devoto, frequentava a igreja todos os dias, além de rezar o terço todas as noites, mostrando sempre empatia e compaixão pelos menos favorecidos, dos quais não cobrava por seus serviços, principalmente em batizados e, tempos depois, brincava dizendo que tinha mais de cem afilhados espalhados pela localidade
Assim, nos dias de Natal e Páscoa, apareciam crianças de todos os lados para buscar algum doce de seu padrinho. Nos dias que antecediam a estas datas, Albino colocava as filhas para montar cestinhas onde depois colocavam doces e bolachas feitas por Dalyra em seu forno. Mas se da maioria foi padrinho de arranjo, foi padrinho de fato do filho de outro escrivão, que trabalhava na localidade de Ivagaci, chamado Estansilão Onorio da Silva, o qual nasceu no dia 26 de junho de 1932 e recebeu o nome de João Mendes da Silva, e este, anos depois, se tornaria um médico de bastante prestígio em Três de Maio.
Também muitos casamentos eram celebrados na Vila, quando carroças com cavalos enfeitados com fitas coloridas vinham até o cartório para registrar o momento mais importante da vida dos noivos, e nestes momentos, as filhas de Albino aproximavam-se curiosas para ver de perto os nubentes sorridentes e ansiosos para darem um desfecho ao cerimonial.
Quando Albino comprou seu primeiro aparelho de rádio, a empolgação era grande até descobrir que não sabia como ligá-lo, e então chamou Chico Weck, mecânico da Vila, para tentar dar um jeito. Quando Chico finalmente ligou o aparelho e os primeiros sons começaram a sair da enorme caixa, a alegria voltou ao semblante de todos. Aproveitavam a luz elétrica até as 22 horas, e depois, quando a chave geral era desligada na Vila, tudo se apagava e todos iam dormir.
Tempos depois, a chave passou a ser desligada à meia-noite, e então, os mais resistentes passaram a ir dormir mais tarde. Somente a partir de 1957, depois que a CEEE instalou seus cabos de transmissão sobre a cidade, a luz elétrica passou a ser fornecida continuamente. Foi então que Albino comprou aquela que teria sido a primeira geladeira da Vila.
Mas seu maior prazer mesmo era pescar. Por isso, sempre que podia, pegava seus equipamentos e, juntamente com seus companheiros, Walter Dockhorn, Eimar Winotz e Chico Weck, endireitavam caminho até o Rio Uruguai para pescar.
Já no Verão, gostava de montar barracas à beira do rio e acampar com a família, permanecendo um mês inteiro por lá. Albino se sentia tão à vontade naquele ambiente que nem fazia questão de tirar a gravata e o colete antes de subir no barco e se ir com suas varas para o meio do rio lançar algumas linhas sobre a água.
No dia 09 de julho de 1958, através da portaria n° 10/58 do Poder Judiciário, o juiz da Comarca de Três de Maio, Dr. Walter Gomes de Almeida, nomeou Albino Tomasi “Tabelião e Oficial do Registro Civil desta comarca, e Escrivão da Provedoria”, função que Albino exerceu com toda a sua dedicação até vir a falecer no dia 02 de novembro de 1960, quando então, seu filho mais velho, Clóvis José Tomasi, assumiu a função no período de 1962 a 1988, ano em que também veio a falecer, e como a lei na época determinava que quem atuava por cinco anos como ajudante neste trabalho tinha o direito de assumir o cartório na vacância, o irmão mais jovem de Clovis, Paulo Tomasi, acabou assumindo os trabalhos de 1988 até a sexta-feira do dia 28 de agosto de 2020, quando sua caminhada neste mundo chegou ao seu termo aos 70 anos de idade, sendo oficialmente destituído do cargo na segunda-feira do dia 31 de agosto, encerrando naquele dia uma história de mais de 80 anos em que o cartório da família Tomasi era o lugar em que alguns dos momentos mais importantes da vida dos cidadãos três-maienses, tornavam-se oficiais.
Albino Tomasi falava três idiomas: português, italiano e guarani
Albino Tomasi foi o escrivão que mais tempo permaneceu à frente do Cartório de
Registro Civil de Três de Maio
Albino Tomasi e sua esposa, Dalyra Weber Rössler
TENS ALGO PARA ACRESCENTAR A ESSA HISTÓRIA? ENVIE UMA MENSAGEM PARA (55) 99706-0456 - WhatsApp ou pelo E-mail: clemar637@gmail.com
Comentários (0)