TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - FLOR DE MAIO

FLOR DE MAIO
Após a assinatura do Decreto Estadual de 5 de janeiro de 1915, pelo então presidente do Estado, Antônio Borges de Medeiros, autorizando o início da colonização da região de Santa Rosa, inúmeras famílias de colonos de origem alemã, italiana e polaca começaram a se deslocar para a área, vindas principalmente de Ijuhy, fundada em 19 de outubro de 1890, a qual foi a primeira colônia aberta no Estado após a instalação da República, tendo ela, na época, recebido diversas levas de emigrantes que já não estavam mais conseguindo se manter nas chamadas colônias velhas, devido à escassez de terras disponíveis.
Nos anos anteriores a 1915, já muitos moradores haviam se estabelecido em locais ao longo do percurso que seguia na direção da região do Santa Rosa – Buricá (chamada assim por situar-se entre os rios de mesmo nome), sendo a localidade de Esquina Schultz, em Independência, o local mais distante de Ijuhy com um pequeno povoamento, onde era possível chegar com muita dificuldade de carroça. A partir desse ponto, o caminho que seguia adiante se estreitava tanto que somente era possível percorrê-lo montado a cavalo, andando em fila.
A região do Santa Rosa - Buricá era habitada apenas por silvícolas isolados, provavelmente remanescentes dos povos guaranis que outrora habitavam a região e que foram dizimados durante as guerras guaraníticas, além de servir também como refúgio de fugitivos da justiça. Por isso, uma frase conhecida na época apregoava: “Santa Rosa – Buricá, quem não presta vai pra lá”.
Relatos de família dão conta que o primeiro colono a se aventurar na região foi o italiano Marino Giraldi, em 1913, o qual, quando aqui chegou, deparou-se com um índio chamado José Bernardo habitando no local onde hoje existe a cidade, e foi dele que Marino comprou, por alguns trocados, sua primeira morada e uma área já limpa e roçada, com uma pequena plantação de mandioca.
Mas foi mesmo a partir de 1915 que começou uma intensa movimentação de colonos para a região, havendo relatos de que o primeiro morador a se estabelecer no local que passaria a ser chamado de “Flor de Maio”, um imigrante alemão de nome desconhecido, tinha por objetivo montar um bolicho pelo caminho por onde outros já começavam a seguir, a alguns quilômetros de distância da Esquina Schultz, onde o caminho fazia uma curva acentuada (e que talvez por isso fosse um ponto de referência).
No lugar, chamava a atenção a quantidade de flores da espécie schlumbergera truncata, mais conhecida como “flor de maio” (espécie chamada assim por florescer apenas uma vez no ano durante o mês de maio), e por isso a flor passou a denominar a região.
A partir daí, outras famílias de origem alemã que paravam para pernoitar no lugar, conversando com esse comerciante, acabavam não encontrando motivos para seguir adiante, já que, na nova colônia que estava surgindo além do Rio Santa Rosa, o governo estava priorizando e dando apoio e trabalho apenas aos colonos nacionais, diferentemente do que havia ocorrido nas colônias velhas, onde o governo dava terras, sementes e todo o amparo possível para os colonos estrangeiros.
Foi neste ano que se instalou em Flor de Maio o ferreiro Frederico Willig, nascido em 3 de setembro de 1892, em Bietigheim, na Alemanha, que pouco tempo depois se tornaria o primeiro industrialista de Três de Maio ao dar início a uma fundição no povoado nascente de Buricá, e que muito logo se casaria com a jovem Blondina Pless, filha de Germano e Carolina Pless, uma das primeiras famílias a virem morar na localidade.
Em 1916, a região foi elevada a 7° Distrito de Santo Ângelo, e Flor de Maio se tornou a 1° Secção de Santa Rosa, quando, após sua área ter sido demarcada, registrou-se a primeira compra de uma colônia de terra no local em nome de Godofredo Wüst, com data de 04 de junho de 1917.
Naqueles primeiros anos, em que começaram a formar uma comunidade naquela região, os moradores construíram a primeira escola do lugar, que passou a funcionar também como igreja da IELB, ligada à Lutheran Church – Missouri Synod, a qual já estava estabelecida em Ijuhy desde 1904, a convite da Congregação São Paulo da Linha 8, que até então era atendida por pastores itinerantes ligados ao Sínodo Riograndense, mas que, segundo registros históricos, estavam gerando “controvérsias, descontentamentos e desordem na congregação”.
Talvez por esse motivo, a comunidade luterana alemã de Ijuhy tenha se dividido, e alguns integrantes de uma parte dela, que se mantiveram ligados ao Sínodo Rio-Grandense, tenham se estabelecido um pouco mais adiante de Flor de Maio e fundado em 29 de dezembro de 1918 a Comunidade Evangélica Luterana São Paulo de Buricá.
Outras famílias pioneiras em Flor de Maio foram as de Frederico Frank e Carlos Hentschke, que se estabeleceram no local com bolicho e casa comercial. Nos anos de intensa movimentação do comércio de Flor de Maio, também o dentista prático Albino Rieck escolheu o lugar para residir e montar um moderníssimo gabinete dentário, o qual passou a ser referência em toda a região.
Albino Frederico Guilherme Rieck, nascido em 13 de julho de 1895, era natural de Santa Cruz do Sul, onde, na localidade de Rio Pardinho, casou-se no dia 13 de julho de 1921 com Frieda Bender (nasc. 30.09.1901). O casal teve três filhos: Annemarie (1926), Ingeburg (1929) e Geraldo (1931).
Foi nos anos que se seguiram a essa união que o casal mudou-se para localidade de Flor de Maio, onde Albino Rieck construiu uma bela residência de dois pavimentos para sua família, reservando o primeiro pavimento para seu gabinete dentário, o que logo o tornou um profissional de grande prestígio, que passou a atrair pessoas de lugares distantes, as quais se amontoavam pelas sombras das árvores no entorno de seu consultório para serem atendidas por ele.
Em 1919, a Companhia de Colonização estabelecida na sede 14 de Julho (hoje Santa Rosa), enviou para a região o único engenheiro fluente no idioma falado pela maioria das famílias que moravam na localidade, o engenheiro alemão Frederico Jorge Logemann, que decidiu iniciar os trabalhos de urbanização do povoamento num local mais apropriado, a cerca de dois quilômetros da região que abrangia a localidade de Flor de Maio, na continuidade do percurso do chamado “estradão do Uruguai” (no mesmo trecho que hoje corresponde à Avenida Uruguai), onde diversas outras famílias que não haviam se estabelecido em Flor de Maio já estavam residindo.
Como uma das primeiras necessidades de uma área de colonização exigia a existência de uma ferraria para o conserto e fabricação de ferramentas, Frederico Jorge Logemann repassou para o ferreiro Frederico Willig diversas áreas de terras no lado mais oriental do povoamento que havia estruturado (um destes lotes, Frederico Willig doou para a IELB do Sínodo de Missouri, onde foi construída a Igreja Evangélica Luterana do Brasil da congregação de São Pedro, na Rua Planalto n° 268), provavelmente, a fim de fazê-lo mudar-se com sua ferraria de Flor de Maio para a nova sede de Santa Rosa – Buricá, a qual recebeu o nome, já naquele tempo, de ”Três de Maio”, denominação que, inicialmente, não caiu na graça dos moradores que preferiram continuar chamando o lugar apenas de “Buricá”.
Assim, iniciou-se, de fato, o povoamento do local que viria a se tornar a cidade de Três de Maio, e Flor de Maio, apesar de nos anos seguintes ter tido significativo progresso, com o surgimento de diversas casas comerciais, salões de baile, moinho, serrarias e fábrica de rações, não resistiu a proximidade com a Vila Buricá e, com o tempo, foi gradualmente perdendo moradores e se tornando apenas o lugar que os mais antigos ainda gostam de lembrar e dizer que “é o lugar onde era para ter sido a cidade de Três de Maio”. Mas como o destino adora fazer curvas para direções difíceis de adivinhar, hoje Flor de Maio resta apenas como o lugar que floresceu para receber por um breve período os primeiros moradores de Três de Maio.
Moradores reunidos em frente à primeira igreja luterana de Flor de Maio
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Residência e gabinete dentário de Albino Rieck, localizado na área mais central de Flor de Maio
Albino Rieck e esposa, Frieda Bender, com os filhos, Ingeburg (esquerda), Geraldo (centro), e Annemarie (direita)
Revisão do professor
Dr. Leomar Tesche e do dentista e historiador Orlando Vanin Trage
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