‘Somos mulheres multitarefas e isso é motivo de orgulho’, diz agricultora que se mantém na propriedade em que família vive há quatro gerações
Leidiane Móri, 37 anos, de Colônia Medeiros, interior de Independência, está dando continuidade à propriedade rural porque se sente realizada na profissão que escolheu. Casada e mãe de dois filhos, é formada em Técnico em Gerência Empresarial, pela Setrem, e atualmente cursa o 5° semestre de Agronomia, pela Unopar, e o Curso de Auxiliar Veterinário de Grande Porte, pela Mais Futuro Central de Cursos, além de participar de movimentos em favor do Agro
A história da agricultora Leidiane Móri, 37 anos, resume um pouco a vida das mulheres nos dias atuais. Elas lutam pelos seus sonhos, desenvolvem projetos, traçam metas e são realizadas com a vida que escolheram levar. “Minha realidade é a mesma de muitas mulheres que vivem na agricultura, que dão conta dos trabalhos domésticos e da família, da ordenha e trato animal e na lavoura. Auxiliamos na organização das propriedades e da família em todos os aspectos. Participamos ativamente das decisões, cuidamos da comunidade onde vivemos e de projetos extras, como estudo e cursos, e destinamos tempo para nos divertir, afinal, ninguém é de ferro. Parece muito, mas com ajuda da família e amigos tudo é possível. Somos mulheres multitarefas e isso é motivo de orgulho”, diz a produtora rural, filha de Sérgio Móri e Loizabete Puhl Móri, mãe de Murilo, de 17 anos, e Eloiza, de 7, casada com Cláudio Witczak Reis, há 3 anos. Ele trabalha como metalúrgico na AgroMann, em Independência. Nas horas vagas, Cláudio também auxilia na propriedade.

A agricultora e pecuarista segue trabalhando na propriedade em
que a família vive desde 1959, no interior de Independência
Sempre em busca de conhecimento para aprimorar o trabalho
O trabalho começa cedo na propriedade, com a ordenha das vacas. Em seguida a família se mobiliza para alimentar o rebanho. Na lavoura são plantados milho para silagem, aveia, trigo e pastagens para alimentar o rebanho. A área restante é destinada à soja para comercialização.
Leidiane é fiel companheira do pai nos trabalhos da lavoura, desde o plantio à colheita, seja no trator, plantadeira ou caminhão. “Minha formação e a busca pelo conhecimento estão sempre voltados às necessidades cotidianas. O trabalho em uma propriedade rural, independentemente de sua extensão, exige esforço e dedicação. Aliamos conhecimento e trabalho em prol da produtividade e viabilidade econômica da nossa propriedade familiar”, reforça a jovem agricultora.
A propriedade tem pouco menos de 40 hectares. São 50 animais no rebanho leiteiro, entre vacas em lactação, novilhas e bezerras. “Nos orgulha saber que, além das porteiras da propriedade, nossa produção agrícola e pecuária chega à mesa de muitas outras famílias Brasil afora”, diz, ressaltando que o trabalho é executado exclusivamente pela família.
Em 1959 a propriedade Móri nasceu, quando foi adquirida pelos avós de Leidiane, Alcides Móri, já falecido, e Irondina Móri. São quatro gerações que vivem no mesmo local, trabalhando com agricultura e pecuária.
Leidiane também faz questão de se envolver com a comunidade em que mora. Ela é secretária da diretoria da associação de Colônia Medeiros, além de participar da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Independência, como secretária.
'Quero permanecer na propriedade; amo o que faço’
A garantia de sustento e renda são alguns dos motivos dela permanecer na atividade. “Tivemos ocasiões, como ano passado, em que o clima inviabilizou a safra agrícola. A seca dizimou lavouras inteiras, mas pequenas propriedades, como a nossa, com atividades diversificadas, conseguiram se manter viáveis, porque a produção leiteira ajudou a equilibrar a balança. Quando uma atividade perece a outra sustenta. Viver da terra é um grande desafio, mas sempre nos proporcionou estabilidade e tranquilidade quanto à segurança da família. Trabalhamos e vivemos do que produzimos, e isso nos motiva a sempre melhorar”, diz.
A agricultora ainda complementa que poder ver os filhos crescendo na mesma propriedade em que ela cresceu e estar com eles no dia a dia não tem preço. "Tê-los à nossa volta aprendendo e crescendo é muito gratificante. Permaneço na atividade primeiramente porque amo o que faço, depois pelos meus filhos, pela segurança deles, pelos meus pais e avós que têm dedicado suas vidas pelo trabalho e pela família. Que eu possa honrá-los”.
Avó Irondina Móri, mãe Loizabete Móri, Leidiane e a filha Eloiza: as quatro gerações de mulheres que vivem na mesma área há 64 anos
‘Nem tudo é força’
Para Leidiane, as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço e respeito em todos os segmentos da sociedade. “As distâncias estão se encurtando no impasse entre os sexos; estamos conquistamos liberdade e independência financeira, não precisamos mais disputar espaços para nos encaixar. Estamos mostrando que somos capazes de realizar qualquer atividade. Nem tudo é força. Na maioria das vezes é jeito, e o mesmo problema pode ser resolvido de diversas maneiras”, avalia.
A agricultora também observa que cada vez mais as mulheres estão cuidando de si, prestando atenção ao espelho e se valorizando. "Para mim, essa atitude vem transformando vidas para melhor. No meio em que vivo, homens e mulheres estão lado a lado nos direitos e deveres. Vejo mais harmonia e consideração entre ambos. Não é um conto de fadas com final feliz em todos os episódios, mas é uma história linda para ser vivida e ensinada para as gerações que nos sucedem. Queria eu que nossa realidade fosse de todas as mulheres mundo afora”, complementa. Ela ainda acrescenta que “cabe a cada um de nós fazer a nossa parte em prol de um mundo mais humano, em que valores como honestidade, honra e respeito sejam regra e não exceção”.


"Somos capazes de realizar qualquer atividade", reforça a agricultora e pecuarista
Participação no Movimento AgroLigadas une mulheres em prol do Agro
Leidiane destaca a importância de a mulher participar de movimentos ou associações da área que está trabalhando. Desde julho de 2019, ela participa do Movimento AgroLigadas, o qual conheceu através da cunhada, Edenize Perin, que reside em Mato Grosso. O movimento teve início naquele estado e a expansão em nível nacional era um projeto da diretoria, assim, Leidiane foi desafiada a abrir um núcleo gaúcho. “Assumi o compromisso e juntamente com mais oito integrantes aqui da região, que abraçaram a ideia junto comigo, abrimos o primeiro Núcleo Regional AgroLigadas do Rio Grande do Sul. Comecei como coordenadora regional do movimento e hoje participo como membro”, revela.
Conforme ela, o movimento de mulheres do agro visa disseminar informação e educação sobre o Agro Nacional. “Ele nasceu do sonho da presidente Geni Schenkel, em levar as verdades e a realidade do agronegócio para o maior número de pessoas possível”, conta.
Ela reforça que muitas informações falsas ou erradas sobre o agro são divulgadas nas redes sociais e muitas pessoas desconhecem coisas simples, como, por exemplo, no que são utilizados os produtos oriundos das produções agrícola e pecuária, ou crianças que não sabem que o leite é produzido pela vaca; que a melancia nasce de uma plantinha lá na lavoura e não brota na prateleira do supermercado, sendo que até muitos adultos não se dão conta de que tudo que a gente consome vem da terra”.
AgroLigadas veio para mostrar o agro como ele é. “Para isso, diversas ações são realizadas durante todo o ano, em diferentes locais do país, com dias de campo; palestras e atividades interativas e educativas com crianças em escolas e feiras; programas de rádio AgroLigadas com entrevistas com os mais diferentes profissionais do setor. Ainda há ações nas redes sociais, através da divulgação de conteúdos explicativos e informativos do agronegócio, de forma simples para que todos os públicos possam entender e conhecer mais o agro. ‘Conectando o Campo e a Cidade’ é o lema do movimento e os pilares são educação e comunicação”, explica. Em Independência, ocorreu o projeto Pequenas Propriedades X Grandes Oportunidades, com encontros que proporcionaram momentos de interação e troca de experiências.
Todas as integrantes são mulheres que tem alguma ligação com o agronegócio e o compromisso de levar o agro de verdade a quem quiser conhecer. “Já parou para pensar que esse jornal que estamos manuseando um dia foi parte de uma árvore? Dentre milhares de coisas que mostramos de onde vem e como é produzido e processado, até chegar ao consumidor final. Diversos projetos estão em andamento através do movimento”, ressalta.
Conheça um pouco mais através do site www.agroligadas.com.br ou através das redes sociais @AgroLigadas.

Algumas integrantes do AgroLigadas da região: Da esquerda para direita: Tatiana Santos, Ana L. Dreyer, Rosane Fim, Alessandra Fim, Tânia Dal Forno, Gabriela Nichel e Leidiane Móri









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