‘Permita-se amar uma criança ou adolescente’
Esse é o conselho do casal Robson Jardel Schwarzer e Tatiana Dallavechia Schwarzer para quem pensa em adotar um filho. O casal se tornou recentemente pais do menino Daner Hector, de 11 anos. Este será o primeiro Dia dos Pais entre Robson e Daner
‘Não sei explicar com palavras o que significa ser chamado de pai’
A afirmação é de Robson Jardel Schwarzer, 34 anos, empresário.
A história de amor do casal Robson e Tatiana Dallavechia Schwarzer, 36, professora da rede municipal de ensino, teve início em 2011. Do namoro, até o casamento (há quatro anos), juntos eles comemoraram muitas alegrias e venceram muitas dificuldades. O passar dos anos só fortaleceu a união.
Há 40 dias, um dos maiores sonhos do casal se tornou realidade: a chegada do filho Daner Hector Dallavechia Schwarzer, de 11 anos. Prestes a comemorar o primeiro Dia dos Pais, Robson não contém a emoção e a felicidade com relação à adoção de Daner.
Em entrevista ao Semanal, o casal conta que adoção sempre foi um desejo desde o início do namoro.
O processo de adoção
Habilitados para adoção há três anos, o casal passou por diversas fases durante o processo, entre elas, entrevistas com psicólogas e assistentes sociais.
Na avaliação de Robson, a espera e o processo de adoção são demorados. “Mas hoje entendemos o porquê – precisa ser um processo bem minucioso, para tentar amenizar toda e qualquer frustração de ambas as partes”, afirma.
No momento em que se habilitou para o processo de adoção, o casal procurou a Vara da Infância e da Juventude, onde descreveu as características da criança desejada, como faixa etária, e a opção de adotar irmãos, bem como região de abrangência – estado ou distância que estaria disposto em se locomover para conhecer a criança.
‘Na primeira chamada de vídeo, o encanto aconteceu’, recorda o pai
No dia em que a assistente social do Fórum ligou para Robson falando que havia uma criança para adoção – mas que estaria fora da faixa etária desejada na habilitação –, surgiu a dúvida. “Ficamos sem saber o que responder, mas no momento eu disse sim. Imediatamente liguei para a minha esposa para contar. Quando ela chegou em casa nos abraçamos e choramos de emoção, afinal, depois da espera havia chegado a nossa vez”, recorda o empresário.
O sentimento de ansiedade, felicidade e emoção persistia nas entrevistas com as profissionais do Fórum. “Tudo foi conduzido por elas de forma excepcional, com responsabilidade e competência. Nos orientavam quais seriam os próximos passos e isso nos deu muita segurança”.
Após algumas semanas apresentaram o dossiê do Daner ao casal. “Me chamou a atenção uma data específica, e esta, me mostrou que era o caminho, pois o Daner foi acolhido para o lar no dia do aniversário do meu falecido pai”, lembra Robson.
Até este momento não havia contato entre o casal e o garoto. “Nem contato visual, nem por áudio, nada. Mas todas as características que nos eram apresentadas nos encantavam mais e mais”, afirma o casal.
Logo após, a aproximação se deu inicialmente por vídeos. “A gente produzia vídeos em casa e mandava para ele; e ele fazia outro e nos mandava de volta. Uma semana depois nos autorizaram a fazer o primeiro contato por vídeo chamada. "Foi uma mistura de ansiedade, medo e muita felicidade, e o que vimos nos encantou: tratava-se de uma criança querida, educada, muito amorosa à espera de uma família!”, conta emocionado o casal.
15 dias de adaptação até a chegada ao lar
O casal foi convocado a viajar até a cidade em que Daner estava para ficar por 15 dias. Nesse período, era necessário passar pelo processo de aproximação e adaptação entre o menino e os futuros pais.
Robson conta que a cada dia que passava, a cada contato, a cada momento, tudo era muito especial e único. “A simplicidade dele nos fascinou muito. Coisas que para nós eram simples e cotidianas, pra ele pareciam ser as melhores coisas da vida”, conta.
Agora, passados 40 dias de convivência no lar, em Três de Maio, o casal afirma que tem aprendido muito e tentado ensinar também. “Estamos morando juntos, no nosso lar agora tem alegria e estamos descobrindo um amor incondicional. As dificuldades são amenizadas pelo tamanho do sentimento que temos por ele”, destaca o pai.
‘Felicidade que não cabe no peito’
Robson não havia experimentado a felicidade de ser chamado de pai e agora está na expectativa de comemorar o primeiro Dia dos Pais, no próximo domingo. “Não sei explicar com palavras, pois quando meus amigos que já são pais falavam do quão boa era essa sensação, eu apenas imaginava. Mas nem perto consegui chegar na imaginação. Hoje me sinto feliz em proporções imensas; felicidade que não cabe no peito”, diz, feliz da vida.
Robson comemora a realização deste sonho com a esposa, que juntos aprendem todos os dias e se dedicam nessa missão especial. “Tento passar um pouco do que me foi passado e busco mostrar pra ele as opções que o mundo nos oferece”, frisa.
Assim, Robson quer ajudar ao filho a construir uma vida digna. “Me esforço todos os dias pra ser um bom pai, e estou aprendendo a ser. O cansaço do dia a dia já não importa mais. O que importa é o exemplo que vou deixar ao meu filho. Agradeço a Deus, todos os dias, pelo presente que a vida nos deu”, conclui o pai.
'Permita-se amar uma criança ou adolescente'
Esse é o conselho dos pais Tatiana e Robson dão para quem tem o desejo adotar de um filho. “Ainda há muito preconceito na sociedade e informações que não condizem com a realidade de uma adoção. Se existe o interesse na adoção, procure conversar com famílias que já realizaram essa experiência”, aconselham.
Para o casal, o apoio dos familiares e amigos é fundamental nesse processo. “A principal dica é: permita-se amar uma criança ou adolescente. Você irá descobrir o amor mais puro, sincero e entender que o amor não vem somente do sangue e sim do coração”.
‘Agora tenho uma família’, diz Daner
Ainda em processo de adaptação ao lar, Daner é tímido ao falar o que está sentindo, mas já expressa a gratidão ao ter sido escolhido pelos pais.
“Ter uma família é muito legal. A mãe e o pai me levam para a escola. Meus avós brincam comigo; os dindos também, são muito legais. A escola também estou gostando muito. Agora tenho uma família, uma casa e um quarto só pra mim. O pai brinca de 'cosquinha' .... e gosto muito da comida da minha mãe. Também gosto de brincar com a Belinha e a Pretinha (cachorrinhas da família)”, diz o menino.
O melhor de tudo, segundo Daner é ter amor e carinho dos pais e da família. “Todas as noites, antes de dormir, fazemos uma oração pedindo a proteção de Deus, saúde, alimento”, conta Daner.
Quase 70% das crianças aptas para adoção no Brasil têm mais de oito anos, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça
De um lado, 3.751 crianças e adolescentes disponíveis para adoção no Brasil. Do outro, 33.046 famílias habilitadas à adoção, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça. E por que a fila de quem espera por uma família não acaba, se o país tem oito vezes mais pretendentes para adoção do que crianças e famílias que procuram uma família?
Para o juiz da 4ª Vara da Infância e Juventude da cidade do Rio de Janeiro, Sérgio Ribeiro de Souza, a resposta é o perfil. “Os pretendentes trazem aquela criança idealizada. Contudo, a partir de oito anos de idade, já começa a ficar mais difícil da criança ser adotada. Quanto mais a idade avança, mais fica difícil”.
Em relação à idade, os dados do Conselho Nacional de Justiça mostram que 279 crianças disponíveis para adoção têm até dois anos. Mais de 2,6 mil têm oito anos ou mais, sendo que a principal faixa é dos adolescentes com mais de 16 anos – 742.
No caso da etnia, 54,1% dos que aguardam por uma família são pardos, 27,3% são brancos, 16,8% são pretos e 0,8% não tiveram a etnia informada.
Os números do CNJ ainda apontam que 17,6% do total enfrentam problemas de saúde e 17,4% possuem algum tipo de deficiência. Além disso, mais da metade das crianças e adolescentes têm irmãos.









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