Memorial Saúde: um lugar para lembrar a vida

Memorial inaugurado no último dia 28, remete à luta contra a pandemia no município e o plantio de 45 ipês representa as 45 vidas perdidas pela Covid-19

Memorial Saúde: um lugar para lembrar a vida
O local escolhido foi uma área verde, no loteamento Verdes Campos, que já recebeu alguns bancos e outros serão colocados. As famílias podem adotar uma árvore para simbolizar o ente querido que partiu vítima da Covid

No lugar de tristeza e morte, lembranças de vida, saudade, amor e esperança. É dessa forma que o Memorial Saúde quer ser lembrado, como um local para preservar a memória de quem partiu, em decorrência da Covid-19; a luta daqueles que sobreviveram à doença e o trabalho que os profissionais de saúde realizaram durante a pandemia.


Em Três de Maio, o coronavírus provocou 45 mortes, mas o impacto da doença não se limita apenas às vítimas, mas sim aos familiares, amigos, enfim, toda a comunidade que sofreu, chorou, lutou e torceu para que cada pessoa infectada fosse curada e tivesse sua saúde restabelecida.


Neste sentido, o governo municipal, por meio da Secretaria de Saúde, inaugurou na tarde de 28 de outubro, o Memorial Saúde – e uma placa com os dizeres “Memorial Saúde. Dedicado às pessoas que venceram à Covid-19, aos profissionais da Saúde, a chegada das vacinas e aos três-maienses que perderam a vida na pandemia”. 


Segundo a secretária municipal de Saúde, Jacira Taborda, o Memorial  é uma  uma forma para lembrar o trabalho dos profissionais de saúde, toda a dificuldade que tiveram, o medo que passaram, porque as pessoas se resguardaram, mas os profissionais de saúde tiveram que ficar atendendo, mesmo sem saber ao certo o que iria acontecer. “E também fazer uma referência às pessoas que foram contaminadas pelo vírus, venceram e estão aí; aos familiares que sofreram com a doença ou com uma perda e em especial para aquelas pessoas que perderam a vida, pois foram 45 mortes no município”, afirmou.


Jacira destaca que o local não quer remeter à tristeza, ou uma lembrança de forma negativa, já que os mortos pela Covid-19 não puderam ser velados pelos familiares devido aos protocolos. “O cemitério é algo triste, lembra morte. O Memorial e os ipês plantados lembram vida”.


Sobre os ipês plantados - 23 roxos – para lembrar as vítimas mulheres; e 22 amarelos – para os homens, a secretária declara que a árvore irá florescer e dará um colorido, no sentido de dar vida ao local e uma nova esperança às famílias. 

 

‘Não conseguimos contato com todas as famílias’, diz secretaria

Sobre o fato de algumas famílias que perderam entes queridos não terem participado do ato – algumas ficaram sabendo da cerimônia pelas redes sociais ou amigos –, Jacira afirma que a secretaria não conseguiu contato de todos os familiares. “Alguns o telefone não atendia, outros disseram que não teriam como vir, outros pediram que plantassem em nome deles. Pegamos o endereço, fomos várias vezes e não tinha ninguém em casa e a gente não quis deixar o convite debaixo da porta sem explicar nada. Dei uma entrevista na Rádio Colonial explicando que as pessoas poderiam participar independente de terem sido convidadas ou não”, justifica a secretária.


Aqueles familiares que não estiveram presentes, tiveram as arvores plantadas pelos  profissionais da saúde. 

 

Familiares podem adotar uma árvore

A partir de agora, as mudas serão cuidadas pela Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente e a Secretaria de Saúde vai deixar à disposição das famílias a identificação das árvores. Para tanto é preciso procurar a Secretaria de Saúde para mais informações, orientou a secretária.
A ideia, segundo Jacira, é no próximo ano, na mesma data, 28 de outubro, estar lembrando do plantio e realizar alguma atividade, convidando as famílias. “As famílias aderiram, gostaram, porque com o tempo vão poder ir lá, sentar, lembrar de filhos, esposas, maridos, mães que faleceram... A sombra e as flores que vão estar lá, simbolizam essas vidas que se perderam, mas lembrando que estiveram aqui conosco e fizeram parte da nossa história”, avalia Jacira. 

 

‘Memorial e os ipês simbolizam manter viva a história do Ricardo’

O jovem Ricardo Zucatto Fischer, 37 anos, foi outra vítima da Covid-19 em Três de Maio. Falecido em 27 de fevereiro, ele foi homenageado pela família que compareceu ao ato simbólico do memorial: os pais Pedro Paulo e Eliane Fischer, a irmã Andressa, a esposa Thaís Amorim e o filho Gabriel. 


A mãe Eliane classificou o momento como de muita emoção. “Nossos entes queridos serão para sempre lembrados. Infelizmente não da forma como queríamos ou gostaríamos. Mas, é um local que marcará toda a passagem da pandemia no nosso município. Lembraremos, além dos nossos falecidos, de todos os profissionais da Saúde que incansavelmente estiveram na linha de frente; da chegada das vacinas, da imunização dos munícipes e a esperança na redução de casos e mortes. É um legado que ficará marcado na história de cada família, na história do município e do mundo”, afirmou.


Para a família Zucatto Fischer, o memorial e os ipês ali plantados representam manter viva a história de Ricardo. “Ele, assim como os demais tinham sonhos, planos, projetos de vida que, a partir de agora, serão representados e cultivados simbolicamente, pelos ipês que ali irão crescer e florescer.  Iremos cuidar deste espaço com todo amor e dedicação, assim como ele zelava pela sua família, pelo seu trabalho e pelos seus amigos”, diz a mãe, que ainda está aprendendo a lidar com a dor da perda do filho.

 

‘Será um local para visitar e ter boas recordações’

O pai de Daniela Fátima Freddo, 43 anos, faleceu no dia 17 de maio em decorrência da Covid-19. Entre o diagnóstico da doença, em 2 de maio, a morte de Antonio Freddo, 66 anos, ocorreu em 15 dias.
Tudo muito rápido, avalia Daniela. “Ainda é muito difícil superar. Recordo todos os dias do meu pai. Mas penso que devemos viver um dia por vez e nos agarrarmos às boas lembranças”. 
Para ela, o memorial e o plantio de ipês representam renascimento e vida. “A árvore vai crescer e florescer. Ao visitar o memorial, será um local para boas recordações”, avalia Daniela, lembrando que a dor da perda só o tempo, e a fé em Deus, vão ajudar a suportar e amenizar a dor.