ECOS DO TEMPO: Entre tijolos e sorrisos: a vida de Hilda

ECOS DO TEMPO: Entre tijolos e sorrisos:  a vida de Hilda
Hilda guarda com carinho as memórias vividas em seus 90 anos

Com seus 90 anos de sabedoria e lembranças, Hilda Terezinha Baum abre o sorriso e volta no tempo para contar como foi sua vida. Natural de Bom Jardim, em Boa Vista do Buricá, ela guarda memórias cheias de simplicidade e trabalho — mas também de muita alegria.

Filha mais nova de uma família de quatro irmãos, Hilda ajudava o pai na olaria. Ainda menina, empilhava tijolos e tocava os bois, tudo manual, como ela mesma lembra. O frio era de gelar os ossos, mas nem isso a fazia desanimar. Quando o trabalho dava uma folga, corria para brincar de boneca. Um dia, achou que a boneca também precisava “se aquecer” e colocou-a perto do fogão à lenha… só esqueceu de tirar a tempo. Resultado: a boneca pegou fogo! Hoje, Hilda ri com gosto dessa travessura.

As dificuldades daquela época eram muitas: não havia cadernos, então as lições da escola eram feitas em uma tábua (lousa). Para estudar, caminhava longas distâncias, de Bom Jardim até Araçá. Entre um aprendizado e outro, ajudava o pai na roça: capinava, plantava milho, feijão, arroz e até fumo. Entre tantas memórias, tem aquelas que ficam: “meu pai fumava charutos, muitos”. Aí vem aquela risada gostosa, que só as lembranças boas são capazes de provocar. Também cuidava dos porcos e ajudava a preparar as carnes que eram guardadas em latas com banha. Tudo era feito com esforço e em trabalho coletivo.

Hilda também se recorda de um dia especial e raro: o ano em que nevou! A paisagem ficou branca como açúcar, mas as galinhas não resistiram ao frio. Ainda assim, o fogão à lenha aquecia a casa e trazia conforto.

Foi num baile, desses animados de interior, que conheceu Nelson, seu futuro marido. Vizinho dela, conquistou o coração de Hilda na dança. O casamento foi simples: apenas os padrinhos e um churrasco, sem festa grande, mas cheio de significado. 

Juntos, viveram em Bom Jardim, trabalharam duro na lavoura e criaram seis filhos: Nélio, Valdemiro (já falecido), Irineu, Célia, Amélia e Maria.  Hoje, a família cresceu — são 22 netos espalhando carinho e afetos.

Há 12 anos, o amado Nelson partiu, e a vida de Hilda tomou outros rumos. Nos últimos nove anos, ela vive no Lar dos Idosos, depois que morar com a filha se tornou difícil, por não ter cuidadores disponíveis. “Eu vim conhecer o Lar com a mãe e gostei. A mãe também gostou de cara da comida, do lugar, de tudo e sempre perguntava: Quando você vai me levar lá?”, conta a filha que acompanhou a entrevista, dizendo que em alguns momentos a mãe acredita estar em um hospital.  Mesmo com momentos em que a lucidez lhe escapa, conserva a doçura e a serenidade que sempre a acompanharam.

Com um jeito doce e cheio de lembranças que misturam trabalho, simplicidade e alegria, Hilda segue mostrando que a vida é feita de histórias para contar — e de sorrisos para repartir.