Do hobby a uma colheita de 2,3 toneladas de mel

Irmãos Schneider, de São José do Inhacorá, começaram a estudar e trabalhar com as abelhas nos momentos de folga, logo que concluíram o Ensino Médio. Hoje, a apicultura continua sendo uma atividade para as horas de folga, porém, a produção de 100 quilos na primeira safra passou para 2,3 toneladas na última colheita

Do hobby a uma colheita de 2,3 toneladas de mel
Os irmãos Olimar e Marcelo Schneider em um de seus apiários. Hobby rendeu mais de 2 toneladas na última safra

Os irmãos Olimar Schneider, 44 anos, e Marcelo Schneider, 43 anos, de São José do Inhacorá, iniciaram na apicultura por curiosidade, quando surgiu um curso da Secretaria Municipal de Agricultura, com a Emater, em Horizontina, no ano de 1995. Os dois haviam terminado o Ensino Médio, e procuravam algo para ocupar o tempo livre. Enquanto procuravam uma colocação no mercado de trabalho, trabalhavam nas terras da família. 


Desde 1996, os irmãos fazem da apicultura um hobby, pois o trabalho sempre foi feito nos horários de folga, uma vez que os dois sempre tiveram outra ocupação.
Na última safra, 25 anos depois de entrarem no ramo do mel, os irmãos fizeram a maior colheita. Foram mais de 2.300 quilos, dos quais 1.500 foram vendidos para exportação, pela primeira vez. A maior parte do trabalho é feita pelos dois, mas nos períodos de safra, as esposas entram em cena. O trabalho é realizado fora do horário comercial, já que Marcelo e a esposa Marciele Schneider são servidores públicos, e Olimar e a esposa Vera Morsch trabalham no ramo de food service. Portanto, o tempo é curto e a mão de obra precisa aumentar.
 

 

Como tudo começou

Depois de fazer o curso de apicultura na Emater, Olimar e Marcelo decidiram colocar o aprendizado em prática. “Começamos em 1996, depois de fabricarmos 30 caixas de abelha”. Os primeiros enxames foram capturados nas terras da família, na Linha Ilha, São José do Inhacorá. Logo na primeira captura, cada um levou alguns ferrões, mas o fato não assustou os irmãos que estavam entusiasmados com a apicultura. “No começo, nossas roupas para lidar com as abelhas eram improvisadas. Tínhamos um chapéu e a mãe fez uma proteção com tule para proteger o rosto, que era colocada por dentro do casaco”, lembram. “O enxame que pousa numa árvore não é agressivo, dá para mexer nele. Mas nós começamos a sacudir a árvore e algumas caíram em cima de nós, aí fomos premiados com alguns ferrões”, contam os irmãos.


Logo no começo, eles tiravam os finais de semana para ir ao mato procurar enxames. O destino era as terras da família e de vizinhos. Eles contam que, na época, a apicultura não era muito comum no município. As pessoas que tinham enxames tinham poucas caixas, no máximo 10.


No início, para aumentar o número de enxames, os irmãos dividiam os que tinham, conforme aprenderam no curso. Mas essa prática deixou de ser feita com o tempo, pois enfraquece o enxame. “É mais fácil colocar caixa isca e capturar as abelhas”, explicam.


“Nós fizemos o curso, as caixas de abelha e aí não paramos mais”, contam, lembrando que das 30 caixas que construíram em 1996, apenas duas estragaram até hoje. “Tínhamos terminado o Ensino Médio em 1995, não tínhamos emprego, trabalhávamos na lavoura da família e tínhamos mais tempo livre. Nós ficávamos até tarde da noite fazendo as caixas e sobrecaixas para investir na apicultura”, recordam. Uma curiosidade é que com a construção das caixas, Olimar acabou ganhando gosto pela marcenaria, ramo com o qual trabalhou por muitos anos. 
“Quando começamos na apicultura, não tínhamos nada. Compramos uma serra circular e uma centrífuga. Não tínhamos lugar para tirar o mel e centrifugar. O mel era tirado de noite, porque de dia, as abelhas vinham”, lembram. Marcelo e Olimar contam que o pátio de casa, iluminado por uma lâmpada fluorescente, foi o lugar onde tiraram o mel nos primeiros anos. 


A primeira safra rendeu aproximadamente 100 quilos, com cerca de 10 enxames. A venda sempre foi de “boca a boca”, para os conhecidos, que indicavam para outros amigos. Nos primeiros anos quando tiravam o mel à noite, eles levavam os favos de volta para as caixas de madrugada, porque não tinham favos reservas para trocar. “Hoje, nós fazemos diferente. Tiramos o favo cheio e já colocamos o vazio”, conta Marcelo.
 

 

Longa experiência fez produção aumentar 
 

Para verificar a capacidade de produção, os irmãos fizeram um teste: tiraram o mel e colocaram os favos de volta no mesmo dia. “Colocamos uma sobrecaixa vazia em cima e, em cinco dias, as abelhas fizeram 10 quilos de mel, ou seja, elas produziram 2 quilos de mel por dia. Isso foi bem na florada da uva japonesa e o tempo ajudou”, lembra Marcelo.


“Quando vemos que a caixa está cheia, colocamos outra em cima. Dá para colocar até seis sobrecaixas. É melhor do que tirar o mel, porque quando o mel é tirado, a abelha estranha e para de colocar ovos por dois dias, o que enfraquece o enxame”, revelam. Eles contam que no manejo correto, é indicado trocar a rainha todos os anos. “Nós não fazemos isso, porque para isso teríamos que nos dedicar às abelhas em tempo integral, o que não é possível, no momento”. 


Em 2013, os irmãos construíram a ‘casa do mel’, na propriedade dos pais, Antonio Valério e Ely Terezinha Schneider, em Linha Ilha, onde tudo começou. Lá está tudo instalado e funciona a pleno vapor em período de safra.


Os irmãos dizem que se largassem tudo para trabalhar apenas com apicultura, poderiam colher até 100 toneladas, mas como o trabalho é feito apenas nos horários de folga, fica inviável. Para tirar 500 quilos de mel, os irmãos precisam, no máximo, de dois dias de trabalho.
 

 

Durante a safra, reforço no trabalho vem da família

O trabalho na apicultura é feito por Olimar e Marcelo nos finais de tarde, sábados, domingos e feriados. Desde o início, há 25 anos, sempre foi assim. Na colheita de mel, como o trabalho aumenta bastante, eles recebem um reforço especial. Entram em cena Vera Morsch, esposa do Olimar e Marciele Schneider, esposa do Marcelo. Muitas vezes, até mãe Ely Schneider e outros familiares também ajudam na hora de tirar o mel dos favos. 

 

Olimar e a esposa Vera, Marcelo e a esposa Marciele, trabalham juntos no pico da produção

 

 

Safra 2020/2021 foi a maior da história

Hoje, os irmãos têm 90 caixas de abelha em São José do Inhacorá e Boa Vista do Buricá. A principal flor da produção é a uva japonesa, que floresce entre a segunda quinzena de outubro e a primeira quinzena de novembro, e é responsável por mais de 50% da safra. Quanto menos chuva neste período, mais mel as abelhas produzem. “No último ano deu bastante mel porque choveu pouco.”


A última safra rendeu mais de 2.300 quilos e foi a melhor em 25 anos e além da supersafra, foi também a primeira vez, que os irmãos venderam mel para exportação. “Ao todo foram 1.500 quilos comprados por uma empresa de Jaguarí/RS, que processa e exporta o mel. Até então, as vendas eram feitas apenas para conhecidos e encomendas que chegavam de diversas partes do Estado”, dizem os irmãos entusiasmados com a nova possibilidade. 


Segundo os irmãos, a mudança se deu, quando um outro apicultor do município soube, por um amigo de Três de Maio, que havia essa empresa que comprava mel. “Ele entrou em contato com o comprador e, como sabia que tínhamos bastante mel, falou para vendermos o nosso mel também. Foi ele quem negociou tudo, nós só entregamos nosso mel”, explica Olimar. 


Ao todo foram duas cargas de mel para exportação. “O preço do mel vendido para exportação é um pouco menor do que o vendido diretamente, mas compensa, já que é vendido em grande quantidade. Esse ano a procura do mel foi grande para exportação por causa do dólar alto”, consideram.

 

Última colheita levou a novos investimentos
Entusiasmados com a venda garantida do mel, o que não havia em safras anteriores, os irmãos estão investindo para produzir ainda mais. “Agora vamos aumentar o número de caixas para aumentar a produção. Podemos investir, pois sabemos que a venda é certa. Nesta safra compramos uma camionete para trabalhar com o mel. Nos lugares mais próximos vamos de trator, mas longe não tem como, se perde muito tempo na estrada”, explicam. O próximo passo é trocar a centrífuga manual por uma elétrica.


Os irmãos destacam que para criar abelhas não é necessário ter terra, basta ter vontade de trabalhar com isso e estudar sobre o assunto. “Nos lugares arrendados onde temos apiário, nós pagamos com uma porcentagem sobre a produção e isso funciona muito bem”.

 

Próxima safra terá disputa pelo mel, avaliam os irmãos
No início de 2021, uma empresa anunciou investimento em uma indústria beneficiadora de mel em Porto Mauá. Os irmãos participaram da reunião que a empresa fez com os apicultores de São José do Inhacorá e ficaram empolgados com a ideia de ter mais uma possibilidade de venda para o produto. “Eles vieram aqui e querem comprar o mel já na próxima safra”, contam empolgados. 
Mas a negociação vai ser feita apenas em novembro, quando os irmãos avaliarão para quem irão vender o produto, uma vez que a empresa de Jaguari já deixou tonéis para comprar a próxima safra.