A cada quatro atendimentos no setor, três não entram na classificação de urgência ou emergência
Hospital segue a classificação do Protocolo de Manchester. De janeiro a maio, houve um aumento de 45,3% nos atendimentos

Dos 2.652 atendimentos do setor de Urgência/Emergência do Hospital São Vicente de Paulo no mês de maio de 2023, apenas 25,23% foram classificados com as cores vermelho, laranja e amarelo, que significa urgência e emergência segundo o Protocolo de Manchester, adotado pela entidade.
De acordo com informações repassadas pelo HSVP à reportagem do Semanal, o percentual tem caído ao longo de 2023 à medida que os atendimentos verdes e azuis (não urgentes) têm crescido em proporção. Em janeiro, 29,32% dos atendimentos foram considerados de urgência ou emergência. Já atendimentos considerados não urgentes saíram de 70,68% no primeiro mês do ano para 74,77% em maio.
Os números indicam que os atendimentos têm aumentado significativamente neste ano. Em janeiro, foram 1.825 atendimentos, passando para 2.652 em maio, um aumento de 45,3%.
Conforme a coordenadora assistencial do HSVP, Franciele Wehner, os principais fatores que elevaram a quantidade de atendimentos foram os casos de arboviroses e gripes. “Em especial ao surto de dengue que ocorreu em nosso município e por doenças respiratórias, decorrentes do outono e das baixas temperaturas”, explica. Atendimentos por infartos e Acidente Vascular Cerebral - AVCs, também têm aumentado desde o início do outono e tendem a acentuar no inverno.
Alguns pacientes necessitam de atendimento de mais de um profissional
Para Franciele também é necessário ressaltar que uma parcela dos pacientes recebe dois ou mais atendimentos quando ingressam no setor de Urgência/Emergência, dependendo de sua situação clínica. Isso porque alguns pacientes podem necessitar de uma avaliação específica após o primeiro atendimento do médico plantonista. “Nesse caso é chamado o médico especialista de plantão, entre cirurgia geral, obstetrícia, pediatria e oftalmologia, que realiza um novo atendimento para àquele paciente. Embora esses casos têm representado, em média menos que 5% dos atendimentos do setor, esse paciente exige uma maior demanda de tempo e profissionais”, explica.
A maioria dos atendimentos na Urgência/Emergência são decorrentes de fraturas, quedas, acidentes de moto/carro, queixas cardiológicas, alterações neurológicas e convulsões.
Já a maioria dos casos não urgentes são queixas de dor corporal, tosse, febre, dor de cabeça há vários dias, pacientes crônicos com queixas relacionadas à diabetes, hipertensão, dores de coluna, infecção urinária, dor lombar há dias devido ao excesso de força, traumas menores, sintomas gripais, dores odontológicas, entre outras que poderiam ser resolvidas nas Unidades de Saúde.
Ampliação da equipe para melhorar o atendimento
Atualmente a equipe do Urgência/Emergência conta com sete médicos plantonistas, sete enfermeiros, 17 técnicos de enfermagem, seis recepcionistas, duas higienizadoras, dois profissionais de segurança, um auxiliar de farmácia, um assistente social, um faturista, uma farmacêutica e demais serviços de apoio como Manutenção, Lavanderia, Nutrição, Centro de Diagnóstico por Imagem e Laboratório.
Segundo a coordenadora assistencial, recentemente foi feita a contratação de mais um enfermeiro para o setor. “A direção tem estudado outras alternativas para melhorar o atendimento à população”, explica Franciele.
O hospital também entende que é necessário melhorar a comunicação com o público. “Nós pretendemos repassar à comunidade o que realmente é emergência e urgência. Mas também deixamos claro que as pessoas que chegarem até o serviço serão atendidas, mesmo que possa ocorrer demora neste atendimento”, salienta Franciele.
Alguns horários chegam a registrar picos superiores a 10 atendimentos em uma hora e que, na maioria dos casos, acabam sendo classificados como verde e azuis, ou seja, não urgentes. “Esses pacientes poderiam ter buscado atendimento na sua Unidade de Saúde”, aconselha.
Franciele também revela que o HSVP deve receber R$ 90 mil pelo período de três meses através do programa Inverno Gaúcho do Governo do Estado, voltado para investimentos em equipe, medicamentos ou equipamentos. A portaria foi publicada e a entidade deve receber os recursos nos próximos dias. “O HSVP irá utilizar esse recurso para investir na equipe para atender a demanda elevada que ocorre no período”, adianta a coordenadora.
ATENDIMENTOS EM 2023 CONFORME
PROTOCOLO DE MANCHESTER EM PERCENTUAL
Cor | Janeiro | Fevereiro | Março | Abril | Maio |
Vermelho | 1,73% | 2,06% | 1,95% | 0,88% | 0,61% |
Laranja | 5,06% | 3,22% | 3,85% | 4,01% | 5,22% |
Amarelo | 22,53% | 23,12% | 21,97% | 21,53% | 19,40% |
Verde | 67,10% | 68,45% | 69,77% | 71,37% | 72,34% |
Azul | 3,58% | 3,16% | 2,45% | 2,21% | 2,43% |
CLASSIFICAÇÕES DO PROTOCOLO
VERMELHO: pacientes em que o atendimento é imediato
LARANJA: paciente deve ser atendido em até 10 minutos
AMARELO: paciente deverá ser atendido em até 60 minutos
VERDE: paciente tem até duas horas para ser atendido
AZUL: paciente tem até quatro horas para ser atendido
EXEMPLOS DE URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS:
Obstrução de vias aéreas, convulsões, choque elétrico, picada de animais peçonhentos, lesão ocular química, hemorragias, fraturas expostas ou fraturas com deformidades, traumas, acidentes de moto/carro/bicicleta, queda de altura, vômito ou fezes com presença de sangue, dor no peito, vertigem, alteração do nível de consciência, confusão mental, dificuldade de pronunciar palavras, perda de força motora, ferimento com arma branca ou com arma de fogo, empalamento (objetos penetrados no corpo), sangramento vaginal ou dor em baixo ventre em gestantes, queimaduras de pele ou de vias aéreas (após inalar fumaça), evisceração de órgãos, entre outros.
PACIENTES NÃO URGENTES (VERDE E AZUL) são considerados aqueles que não possuem urgência na conduta acerca dos sinais e sintomas. Podem ser classificados como não urgentes: quadros gripais, dor de cabeça há mais de sete dias, dor muscular, curativos, retirada de pontos, entre outros.
*A classificação conforme a cor ocorre de acordo com a avaliação que o paciente recebe na entrada no hospital.
Nos últimos dois anos, a procura por atendimento aumentou 40%
Os dados de média mensal referentes ao ano de 2021 apontam que o setor realizou 1.565 atendimentos. No ano de 2022, a média subiu para 2.099. Já nos cinco primeiros meses de 2023, a média é de 2.198 atendimentos. Ou seja, de 2021 a 2023, a média mensal cresceu 40,45%.
Os dados por município apontam que a maioria dos atendimentos são de pacientes de Três de Maio. Em 2021 foram 81,51% dos atendimentos, 2022 83,23% e, em 2023, até o momento, 83,22%. Independência é o segundo município em atendimentos. 11,22% em 2021, 10,44% em 2022 e 9,85% em 2023. Boa Vista do Buricá teve 2,43% dos atendimentos em 2021. Em 2022 passou para 2,09% e neste ano, corresponde a 2,37% dos atendimentos realizados.
Apesar de Boa Vista do Buricá ter uma população superior a de Independência, proporcionalmente o município tem menos atendimentos no HSVP. O principal motivo é de que os boa-vistenses recebem um primeiro atendimento no hospital da cidade, assim, um menor número de pessoas precisa vir para Três de Maio. “Este hospital é a primeira referência de atendimento. Ou seja, chega ao Urgência/Emergência os casos em que não foi possível diagnosticar ou que não há capacidade técnica ou estrutural de atender. O mesmo ocorre com os pacientes de Nova Candelária, que são referenciados nesta entidade”, explica Franciele.
Os pacientes alegrienses representaram 2,64% do total de atendimentos em 2021. No ano passado foram 2% e este ano, 2,17%. De São José do Inhacorá, foram 1,1% dos atendimentos em 2021, 0,99% em 2022 e 1,24% nos primeiros meses de 2023. Por fim, de Nova Candelária, em 2021 foram 1,1% dos atendimentos, em 2022 1,25% e 1,16% neste ano.
Atendimentos por mês no setor
Mês | 2021 | 2022 | 2023 |
Janeiro | 1.591 | 2.250 | 1.825 |
Fevereiro | 1.411 | 1.899 | 1.762 |
Março | 1.289 | 2.148 | 2.245 |
Abril | 1.448 | 2.388 | 2.506 |
Maio | 1.752 | 2.277 | 2.652 |
Junho | 1.330 | 2.085 | |
Julho | 1.272 | 2.149 | |
Agosto | 1.508 | 1.806 | |
Setembro | 1.535 | 1.779 | |
Outubro | 1.939 | 1.908 | |
Novembro | 1.770 | 1.770 | |
Dezembro | 1.944 | 2.407 | |
Total | 18.789 | 25.193 | 10.990 |
Média mês | 1.565 | 2.099 | 2.198 |
Total de atendimentos por município
Município | 2021 | 2022 | 2023 |
Três de Maio | 15.789 | 20.968 | 9.146 |
Independência | 2.109 | 2.630 | 1.082 |
Boa Vista do Buricá | 457 | 527 | 261 |
Alegria | 496 | 505 | 238 |
São José do Inhacorá | 207 | 249 | 136 |
Nova Candelária | 207 | 314 | 127 |
Total | 18.798 | 18.798 | 10.990 |
Cogestão tem auxiliado o setor a melhorar o atendimento
Desde janeiro de 2022, o hospital conta com um sistema hospitalar, desenvolvido pelo setor de TI, Chamadoweb. Esse sistema possibilita monitorar as informações sobre o setor, como horários de pico de atendimentos, tempo de espera para ser atendido, tempo em que o paciente permanece no hospital, entre outros dados. Assim, é possível traçar estratégias para melhor atender os pacientes.
Aliado a isso, foi criada a cogestão, em outubro de 2021, que possibilita reuniões quinzenais entre entidade e secretários municipais de Saúde da microrregião, para discutir as demandas e pontos que podem ser aprimorados.
Desde então, algumas ações já foram realizadas, como a contratação de mais um médico plantonista no horário das 17h às 23h, período do dia em que ocorrem os maiores picos de atendimento no setor. “Com essa medida houve uma melhora significativa no atendimento. O pagamento desse profissional ocorre através dos repasses dos municípios pela cogestão”, detalha Franciele. Desde janeiro de 2022 os dois médicos atendem neste horário.
Segundo a coordenadora explicou ao Semanal, a comunicação com os pacientes que estão aguardando na sala de espera também é algo que a entidade visa qualificar. “Se um paciente em emergência dá entrada no hospital, uma tarja vermelha aparece no monitor da recepção identificando que há um paciente grave em atendimento, necessitando de mais profissionais para atendê-lo. Assim os pacientes que estão aguardando conseguem saber que está ocorrendo um atendimento”, explica.
A coordenadora informa ainda que o HSVP criou um relatório mensal em que a enfermeira de referência da Urgência repassa dados para sinalizar informações de pacientes que mais acessaram o serviço naquele mês e faz um comparativo com o ano. “Por exemplo, se de janeiro até agora a mesma pessoa já acessou dez vezes o serviço de urgência e emergência, é feito um apontamento para que se investigue o porquê de ele estar buscando serviços com tanta frequência”, relata.
Dessa forma, segundo Franciele, já foi possível identificar casos e encaminhá-los às Secretarias de Saúde dos municípios. Alguns pacientes precisavam de cirurgia eletiva que não havia sido realizada, mas que, em decorrência de complicações da doença, acessavam frequentemente o serviço do hospital em busca de analgesia para aliviar suas dores ou outros procedimentos. “Houve um mês que tivemos sete casos nesse sentido. Depois dos devidos encaminhamentos, alguns pacientes retornaram à urgência e emergência somente uma vez”, conta.
Franciele completa dizendo que com a ligação entre rede hospitalar e rede básica de saúde do município, é possível resolver diversos casos que estavam com demandas a serem atendidas, principalmente pós-pandemia do Covid-19.
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