‘Um dos melhores cenários possíveis para a safra de soja’

Afirmação é do chefe do Escritório da Emater de Três de Maio, Leonardo Rustick. Em um ano o valor pago pela saca de soja dobrou

‘Um dos melhores cenários possíveis para a safra de soja’
Colheita avança no centro do País e, no Rio Grande do Sul, produção deverá ser a maior da história - Foto: FOTO WENDERSON ARAUJO/TRILUX/DIVULGAÇÃO CNA

De março de 2020, com a cotação de R$ 85 a saca de soja de 60 quilos, passando para R$ 105 em meados de julho e R$ 135 em dezembro, nesta semana, a cotação do grão já chega a média de R$ 170. Os valores comprovam que o cenário da safra de soja de 2021 é um dos melhores possíveis.


“É um preço histórico, nunca alcançado anteriormente”, afirma o chefe do Escritório da Emater de Três de Maio, Leonardo Rustick.  


No município, a área cultivada com o grão chega a 20.200 hectares. A maior parte da cultura encontra-se na fase final de enchimento de grãos. Após, vem a maturação e a colheita, que deve ocorrer entre 25 de março a 15 de abril. Isso porque, a semeadura ocorreu mais tarde. 
A falta de umidade causou atraso na semeadura do grão (em dezembro), contudo, o clima foi e está sendo bastante favorável ao desenvolvimento da cultura. “A safra está ocorrendo dentro de uma normalidade, com uma expectativa de produção média de 3.300 quilos por hectare, ou seja, 55 sacas por hectare”, informa.

 


Injeção na economia regional


Na região, o valor pago aos produtores varia entre R$ 166 e R$ 172 a saca. Porém, conforme Leonardo, alguns produtores já fizeram contratos com preços mais baixos do que os atualmente praticados. “Isso preocupa alguns produtores. Mas ninguém tinha essa informação de que o preço iria subir tanto. Foi a procura do grão, comercialmente, que fez o preço disparar. Acredito que aquele que não fez contatro, vai aguardar o preço de balcão para comercializar”, compara.


Segundo Leonardo, o cenário é muito positivo para a região.  “Um estudo preliminar aponta que a safra de soja de 2021 deve injetar de R$ 160 a R$ 180 milhões na economia regional. Pois a soja é o principal produto da economia familiar, é o que mais movimenta economicamente a nossa região. As expectativas são as melhores possíveis diante do cenário mundialmente que estamos enfrentando, com a pandemia e várias incertezas.”, ressalta.

 

 

RS deve ter colheita recorde

 

Apesar de ser um mercado que trabalhe com muitas variáveis (como produção global, taxas de câmbio e altos e baixos das commodities) o cenário é promissor para os sojicultores, que no Rio Grande do Sul devem colher em 2021 a maior safra da história, cerca de 20 milhões de toneladas de soja.


O volume é superior aos 19,861 milhões do levantamento anterior e também ao recorde de 2018/2019, quando produção somou 19,187 milhões de toneladas. No ano passado, com a falta de chuva, a colheita de soja sequer alcançou 12 milhões de toneladas.


Evandro Oliveira, consultor da Safras & Mercado, reforça que o momento é atípico e tem muitos fatores influenciando nos preços, inclusive a cotação do dólar no Brasil e os preços na Bolsa de Chicago, mas que a demanda firme dos chineses pelo grão e os escassos estoques brasileiros trazem um horizonte positivo aos preços. 


Segundo levantamento da Safras & Mercados, a venda da safra 20/21 já foi mais da metade comercializada. Oliveira destaca que há Estados que já venderam quase 70% da safra, e agora tem que cumprir os contratos. Ou seja, esse grão que está sendo colhido é direcionado a contratos do passado e não irão recompor significativamente os estoques. “Não vamos ter baixas cotações como os registrados no início de 2020 (menos de R$ 90, ante os atuais R$ 157). Para contratos futuros e entrega entre maio e junho os preços estão equilibrados com os atuais, próximos de R$ 155.”

 

 

Na década, agropecuária cresceu 10 vezes mais que a média do país

 

Se a economia brasileira teve uma década perdida entre 2011 e 2020, a agropecuária foi no caminho inverso e viveu um dos seus melhores ciclos na história. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,3% ao ano, em média, o setor primário se expandiu 3% a cada temporada. Ou seja, no período, a atividade rural dentro das porteiras se expandiu em ritmo 10 vezes superior à média do país.  


“Não há dúvida de que a década foi um desastre para a economia brasileira. Por outro lado, a agropecuária ampliou produção, visando o Exterior, entrou em novos mercados e se consolidou nos quais já estava. O desempenho do setor hoje está mais atrelado ao crescimento mundial do que ao brasileiro”, destaca Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do RS (Farsul).  


Entre os três grandes setores da economia, a agropecuária é o de menor peso (representa em torno de 7% do PIB), mas a atividade teve alta de 2% e foi a única a fechar no azul em 2020, quando a pandemia de coronavírus derrubou o desempenho de serviços (-4,5%) e indústria (-3,5%). Mesmo em uma década também marcada pela recessão entre 2015 e 2016, a agropecuária se retraiu somente quando houve quebra de safra provocada pelo clima (2012 e, coincidentemente, 2016).  


Coordenador da Central Internacional de Análises Econômicas e Estudos de Mercado Agropecuário da Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijuí), Argemiro Brum destaca que a tecnologia alavancou a produtividade das lavouras, com sucessivas safras recordes, e o crescimento das exportações do agronegócio sustentaram a expansão do setor primário. “Não fosse a performance da agropecuária, o comportamento geral da economia brasileira na década seria ainda pior”, aponta  Brum, lembrando os reflexos do campo em diversos ramos dos serviços e da indústria, como os frigoríficos de carnes.  


Por outro lado, o pesquisador mostra preocupação com a crescente dependência da China na pauta de exportações. Além  da pressão internacional em relação à preservação da Amazônia que poderá influenciar as relações comerciais brasileiras nesta década e impactar as vendas de grãos e carnes, entre outros itens.