TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - O HOSPITAL SANTO ANTÔNIO
O HOSPITAL SANTO ANTÔNIO
Quando, em 1936, iniciaram-se a obras de construção do Hospital São Vicente de Paulo no mesmo terreno do Colégio Pio XI (atual Colégio Dom Hermeto), o primeiro fabriqueiro da igreja católica, Antônio Bonfanti, começou uma grande desavença com o padre Vicente Testani por este ter desistido da compra de um terreno seu que havia oferecido para a construção do hospital, já que Bonfanti exigia o pagamento integral do terreno antes de iniciarem as obras, ao contrário do que Testani havia lhe proposto, de primeiro iniciarem as obras e a igreja ir quitando a dívida aos poucos, para assim, evitarem paralisações por falta de recursos financeiros.
E então, após outros desentendimentos com o padre a respeito do hospital, Antônio Bonfanti desvinculou-se da diretoria deste. Assim, quando fundado o Hospital São Vicente de Paulo, em 18 de outubro de 1936, alguns colonos passaram a ter receios de se internar nele, pois as irmãs que cuidavam o local deixavam tudo muito limpo, lençóis e toalhas eram extremamente brancos, o que não deixava os agricultores se sentirem à vontade, porque normalmente estavam acostumados ao trabalho diário com a terra, o que não os fazia dar tanta importância para o asseio pessoal.
Logo, Antônio Bonfanti resolveu fundar, juntamente com seu genro, Inácio Wichrowski, um hospital que construíram sobre um terreno doado por Bonfanti (muito provavelmente, o mesmo terreno onde a princípio seria construído o Hospital São Vicente de Paulo). Após isso, outros sócios passaram a ajudar na administração, como Emilio Tesche, Leopoldo Matzembacher e outros.
Assim, em 1938, teria surgido o “Hospital e Maternidade Três de Maio Ltda”, que ficaria mais conhecido como “Hospital Santo Antônio”, pois diziam haver no local uma imagem de Santo Antônio, santo do qual todos ali eram devotos.
Logo, num trabalho de grande esforço, conseguiram trazer um médico de Porto Alegre, chamado Dr. Henrique de Souza Gomes, para assumir a direção do estabelecimento. Também trouxeram um laboratorista de Passo Fundo e um proprietário de farmácia da localidade vizinha de Independência, chamado Jofles Sebastião para prestarem serviços no novo hospital.
Nos meses que se seguiram, o Dr. Souza Gomes começou a ter um bom faturamento com a sua atividade e, por isso, começou a comprar as partes na sociedade dos demais sócios, que já começavam a se desentender no negócio, tornando-se em poucos anos proprietário único do hospital e uma pessoa de grande influência na comunidade, tendo, inclusive, tendo sido escolhido pela legenda do PTB local para ser o primeiro candidato a prefeito da recém emancipada Três de Maio, em 1955. Essa eleição acabou dando a vitória para seu oponente, Walter Ullmann, candidato do PSD, por uma pequena vantagem de 60 votos.
Entretanto, a vida intensa do hospital, associada à necessidade do Dr. Henrique de Souza Gomes se deslocar constantemente até Porto Alegre por questões de cunho familiar, e mesmo profissional, passaram a se tornar uma rotina muito cansativa, devido à sua presença se fazer necessária a todo o momento no hospital.
Assim, Souza Gomes acabou contratando o jovem Dr. João Mendes da Silva, recém formado em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (em 13 de dezembro de 1958), para ajudá-lo, principalmente durante sua ausência em decorrência das viagens.
João adaptou-se rapidamente à rotina do hospital, o que acabou favorecendo o Dr. Souza Gomes tirar férias, depois de muito tempo sem fazê-lo.
Alguns anos depois, em decorrência de uma depressão, o filho do Dr. Souza Gomes atentou contra a própria vida, ficando com graves sequelas. A partir daí, o médico começou a apresentar alterações de humor e comportamento. Começou a beber mais seguidamente, a se envolver em jogatinas em Porto Alegre, e, progressivamente, a dar menos atenção às suas responsabilidades no hospital.
Logo, Souza Gomes já não demonstrava qualquer sinal de querer permanecer em Três de Maio, e João Mendes começou a comprar dele sua parte no hospital, quitando definitivamente o negócio poucos anos depois.
Foi neste período que o laboratorista faleceu e João comprou a parte do sócio dos herdeiros. Logo depois, comprou a farmácia de Jofles, tornando-se, enfim, o único proprietário do hospital.
Algum tempo após formar-se na primeira turma da Fundação Católica de Medicina de Porto Alegre, em 1966, o médico Romeu Emilio Reinehr, filho de Jacob Emílio Reinehr, escrivão por muitos anos em Três de Maio, veio trabalhar juntamente com João Mendes no Hospital Santo Antônio, tornando-se sócio do Dr. João, passando assim o hospital a ter novamente dois administradores.
Mas algum tempo depois, exigências legais obrigaram os dois a terem mais um sócio, e foi então que, em 1973, a razão social da empresa se tornou “JM da Silva Hospital”, e em 1974, o recém formado médico pediatra, José Alcides Trindade dos Santos, passou a também fazer parte do quadro de sócios do hospital, quando João Mendes e Romeu Reinehr cederam cada um uma pequena parcela de suas partes ao novo sócio. Devido ao seu carisma junto a funcionários e pacientes, esse médico logo ficaria mais conhecido como Dr. Zézinho.
Depois, outros sócios e médicos passaram também a fazer parte da história do Hospital Santo Antônio, que continuou bravamente com a sua missão junto aos mais desprovidos, até finalmente encerrar suas atividades por volta de 2001, quando uma unidade de saúde do município foi instalada por um breve período em seu imóvel.
Em 2007, um tornado se abateu sobre Três de Maio, arrancando parte de seu telhado, o que fez as intempéries começassem a invadir o imóvel, acelerando sua deterioração.
Em 2008, o prédio foi totalmente demolido, restando hoje apenas um terreno (onde hoje está instalada a Lojas Becker), terreno este que para muitos que passam pelo local ainda traz as lembranças de um hospital que recebia a todos, indistintamente, mesmo que muitas vezes tivesse poucas condições financeiras para isso.
Revisão do professor, Dr. Leomar Tesche e do dentista Orlando Vanin Trage.
Primeiro prédio do Hospital Santo Antônio
Corpo clínico dos últimos anos do hospital, entre eles: Dr. João Mendes, Dr. Centeno, Jurandi Hettwer, dra. Carmem Jussara Wachter,
Dra. Carminha Flach, Dr. Altair Copatti, Dr. Diego Zorrilla
Dr. Henrique de Souza Gomes (à direita) ao lado do industrialista Frederico Willig, durante a comemoração pela passagem
do Jubileu Comercial da Fundição Willig
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