TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - A TECIDOS BURICÁ

A TECIDOS BURICÁ
Mariano Giacomo Loro, nascido no dia 25 de julho de 1908, no distrito de Nova Trento (hoje Flores da Cunha), foi o décimo filho de Giuseppe Loro e Domênica Brustolin, tendo seu pai, em 1920, adquirido diversas colônias de terras na região de Buricá, no chamado Quilômetro 10 e também no Quilômetro 13.
Posteriormente, os filhos e a esposa de Giuseppe foram aos poucos migrando para a região, tendo Mariano Loro -- após um breve período em que veio ajudar seu irmão mais velho na derrubada de mato a beira da autoestrada que passava por sua propriedade - chegado em definitivo aqui no dia 03 de maio de 1930.
Logo que se estabeleceu no lugar, Mariano criou um forte laço de amizade com o padre Vicente Testani, e por isso tornou-se pessoa de grande confiança do sacerdote.
Mariano Loro era um homem da mesma têmpera que Testani, inflexível em suas convicções religiosas, retilíneo ao extremo na forma de proceder e, principalmente, estava sempre pronto para ajudar a igreja, e estas qualidades todas logo lhe tornaram um dos mais fiéis discípulos do padre Testani, o que o fazia sempre seguir à risca todas as orientações de seu líder, o qual procurava imprimir em seus paroquianos todas as características de sua personalidade.
Assim, dentre as muitas iniciativas comunitárias lideradas pelo religioso, uma vislumbrava a criação de uma cooperativa. Testani tinha conhecimento de várias que funcionavam pelo Estado e entendeu que em Três de Maio também poderia haver uma.
Na localidade de Cinqüentenário (hoje Tuparendi), então pertencente a Santa Rosa, já funcionava uma Cooperativa de Consumo com grande êxito, e então Testani solicitou a Mariano e outro fiel, chamado Patricio Fin, proprietário de uma fábrica de bebidas, que acompanhasse o seu coadjutor à época, padre Guerino Bim, até aquela localidade a fim de inteirarem-se sobre como deveria funcionar uma cooperativa.
Pedro Vendrúsculo, proprietário da única caminhonete Ford 29 existente em Três de Maio, levou os três até Cinqüentenário, e na volta, os enviados trouxeram todas as informações indispensáveis para a criação de uma cooperativa na Vila Buricá.
Feita a propaganda entre os eventuais interessados, padre Testani convocou uma reunião na qual cerca de setenta pessoas se fizeram presentes e ouviram o religioso fazer uma longa explanação sobre as vantagens da criação de uma cooperativa, e após, Mariano e Patricio Fin relataram tudo o que viram em Cinqüentenário demonstrando todo o seu entusiasmo com o empreendimento.
Decidida a criação da cooperativa, Mariano Loro, Patricio Fin, e os senhores Antônio Perin e Jacob Emílio Reinehr constituíram a comissão encarregada de sua organização, sempre chefiados pelo padre Testani.
Logo, Testani fez vir de Porto Alegre o padre Leopoldo Brentano, que possuía um extenso currículo de trabalho com a classe operária e que entendia muito da matéria, e foi ele quem providenciou os estatutos da cooperativa e orientou sua criação e forma de funcionamento. Assim, em 1934 foi fundada a cooperativa com oitenta e quatro sócios, sendo nomeado Patricio Fin como seu primeiro presidente. Jacob Emílio Reinehr assumiu a direção comercial e Carlos Busanello foi o primeiro gerente, ficando Mariano Loro como integrante do conselho fiscal.
O estabelecimento passou a funcionar na carpintaria de João Callegari e, de início, o único que trabalhava era o gerente, Carlos Buzanello, pois somente se vendia para associados e, por isso, não havia trabalho para mais ninguém.
No primeiro balanço anual, constatou-se um lucro de apenas cinco mil réis, o que decepcionou a muitos, pois os sócios esperavam melhores resultados. Mas o problema que ocorria é que os sócios não colaboravam para obtê-los, entregando seus produtos e fazendo compras em outros estabelecimentos comerciais.
Então quarenta sócios se retiraram da cooperativa e o gerente, desgostoso com aquilo, demitiu-se do cargo. Assim, o sócio Antônio Perin assumiu a função de gerente e, apesar dos transtornos envolvendo os sócios retirantes, que exigiam receber no ato o valor de suas quotas, criando, inclusive, um tumulto que exigiu a intervenção da polícia para apaziguar os ânimos, no balanço seguinte, o lucro da cooperativa ascendeu a vinte e cinco mil réis.
Ainda assim os sócios contribuíam pouco e Testani achou que o motivo disto era que Antônio Perin não demonstrava muita habilidade, e mesmo simpatia no trato com os sócios, que acabavam desgostosos e não colaboravam.
Foi então que Testani decidiu colocar para trabalhar na cooperativa seu homem de confiança, Mariano Loro, sócio fundador e membro do conselho fiscal. Mariano era dinâmico e atendia bem os sócios, e assim, aos poucos, tudo na cooperativa passou a convergir para ele.
Então, finalmente no dia 04 de maio de 1937, Mariano Giacomo Loro foi nomeado gerente da cooperativa, e já no ano seguinte, resolveu transformar o negócio em uma sociedade por quotas de responsabilidade limitada, com a razão social de “Sociedade Comercial Três de Maio Ltda”, que, a seguir, ganhou nova sede em uma casa alugada de José Salomão, na Avenida Uruguai (proximidades de onde atualmente existe a Rádio Cidade Canção).
Em 1942, foi comprada a propriedade de Leopoldo Vontobel, em frente à igreja matriz católica, na esquina da Avenida Uruguai com a Rua Santa Cruz (Lat. -27.782037 Long. -54.234824 DD), e ali Mariano Loro projetou e construiu, sem a interferência de qualquer engenheiro ou arquiteto, um prédio amplo para os padrões da época, de dois pavimentos, investindo nesta obra a considerável soma de noventa contos de reis, e neste imóvel passou a funcionar a sede da Casa Comercial Três de Maio Ltda.
Mas como o povo continuava a chamar a casa comercial de “cooperativa”, logo a solução encontrada foi alterar o nome fantasia da empresa para “Tecidos Buricá Ltda”.
A partir de 1948, com a chegada dos padres do Instituto Missões Consolata a Três de Maio, a Tecidos Buricá passou a ser conhecida também como a “casa dos padres” pois eram constantes as visitas dos padres ao local para tomar chimarrão e conversar sobre assuntos relacionados a igreja, além de se reunirem no local para jogarem canastra e mesmo confraternizarem com almoços e jantares preparados pela esposa de Mariano, a atenciosa Dona Gilda.
Ainda em 1948, quando se iniciaram as obras de construção do Ginásio Pio XII – ginásio que estava sendo construído com a intenção de separar-se meninos e meninas que desde 1946 quando foi criado o Ginásio Pio XI(hoje Dom Hermeto) estudavam em turmas mistas – Mariano Loro foi eleito presidente da comissão de construção do ginásio, além de cuidar da administração financeira da obra, sempre se precavendo para que não faltassem os recursos necessários para pagamento de materiais e mão de obra, evitando assim a paralisação dos trabalhos.
Mas como o dinheiro que era arrecadado através de doações de particulares e das mensalidades do Ginásio Pio XI não conseguiam suprir os custos da obra, muito dinheiro da Tecidos Buricá foi empregado na construção do ginásio a título de empréstimo, mas sem que os demais sócios soubessem, para evitar-se possíveis descontentamentos, e tudo amparado por Monsenhor Testani e pelo contador da empresa, Walter Ullmann, o que acabou viabilizando sua construção em tempo hábil, e depois o dinheiro foi aos poucos sendo restituído ao caixa da empresa.
A Tecidos Buricá ocupava apenas o piso térreo do imóvel e o andar superior permanecia quase sempre ocioso, e com a emancipação de Três de Maio no dia 15 de dezembro de 1954, Mariano, que esteve envolvido diretamente com os trabalhos da campanha de emancipação, reuniu os sócios e resolveu ceder o andar superior e parte do armazém no andar térreo para a instalação do Executivo e do Legislativo municipal.
No primeiro ano houve a cessão do espaço a título gratuito, e no ano seguinte foi aprovado o pagamento de um pequeno aluguel pela ocupação da parte superior do imóvel, sendo que a parte do armazém continuou a título gratuito.
Mariano Giacomo Loro gerenciou a Tecidos Buricá Ltda (contando com os tempos em que a mesma ainda era uma cooperativa) por vinte e nove anos, até que em 1966, desgostoso com as dificuldades que vinha enfrentando com uma nova diretoria, retirou-se da sociedade.
O imóvel em frente à Igreja Matriz Católica foi sede da empresa durante 58 anos, até seu fechamento definitivo no ano de 2000.
Revisão do Dr. Prof. Leomar Tesche e do Historiador Orlando Vanin Trague
A cooperativa, que deu início a Tecidos Buricá, foi fundada em 1934 por um grupo de
80 sócios, tendo o padre Vicente Testani como seu idealizador
Sentados da esquerda para a direita: Mariano Loro, Walter Ullmann e o padre João Garbolino juntamente com diversos outros sócios da cooperativa.
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