TRÊS DE MAIO E SUA HISTÓRIA - O HOTEL FLECK

18 Mar 2024 | 10:03 892 0

O HOTEL FLECK

Ernesto Fleck, nascido no dia 3 de maio de 1889, era filho de Konrad Fleck e Elizabeth Für, e por volta de 1919 casou-se com Rosalina Janke, nascida em 17 de fevereiro de 1898, filha de Fernando e Amália Janke.
Em 4 de abril de 1920, nasceu a primeira filha do casal, Elly, e quando o bebê contava com um ano de idade, Ernesto e Rosalina vieram de carroça de Neu-Württemberg (hoje Panambi) até a Vila Buricá, e aqui se estabeleceram num terreno de baixada, próximo a uma olaria (local onde hoje se encontra o estádio do Oriental), e, num imóvel de dois pavimentos, começaram a trabalhar com o ramo da hotelaria. Em seguida nasceram Irene, Evaldo, Osvaldo, e após, ainda adotaram uma menina, Irma.
Em 1924, decididos a montar um hotel num local mais central da Vila, Ernesto e Rosalina iniciaram a construção de um imóvel na Rua Horizontina, próximo à esquina com a Rua Mato Grosso, e venderam sua propriedade para um senhor chamado Reinoldo Selzler, recém chegado ao povoado com sua esposa e dois filhos ainda bebês.
Mas com dinheiro curto e uma família grande para sustentar, as obras do hotel quase não andavam, até que, em 1926, quando o Dr. Frederico Krebser (médico natural da Suíça que havia se mudado para Buricá um ano antes), mudou-se para sua nova residência, situada do outro lado da rua, quase em frente ao hotel, e montou ali um escritório médico, passando a atender diversos pacientes que vinham de longe para se tratar com ele, e muitas vezes, estes pacientes necessitavam ficar internados por alguns dias.
Assim, Frederico Krebser preparou alguns quartinhos no sótão de sua residência, que passaram a funcionar como alas de internação, mas com o aumento do número de pacientes e a falta de quartos para internar estes (eram apenas quatro quartos no sótão), Krebser conversou com Ernesto e Rosalina Fleck, que já haviam construído alguns quartos e um banheiro nas obras do hotel, e propôs a eles utilizar esta estrutura já pronta como hospital, e assim, com o valor que os pacientes pudessem pagar a eles pelo tempo que permanecessem internados ali, eles poderiam continuar com as obras pois, ainda não haviam conseguido construir a cozinha e demais suportes necessários para o hotel.
O casal concordou com o proposto e então os pacientes do Dr. Krebser passaram a ficar em observação nos quartos daquele que futuramente viria a se tornar o Hotel Fleck.
Nos anos que se seguiram, Ernesto, Rosalina e os filhos passaram a trabalhar todos nas dependências do hotel, cuidando da limpeza, da cozinha, dos quartos, da lavanderia e tudo o que precisasse.
Na parte da manhã, Ernesto costumava atender o bolicho que ficava na parte da frente do estabelecimento, e onde funcionava também a recepção do hotel, organizada em uma mesinha colocada mais ao canto, contra a parede.
Ali, naquele espaço da frente, haviam dois quartos para pessoas que se hospedavam por poucas horas, e mais atrás, depois do refeitório, ficava o quarto de Ernesto e Rosalina, e mais adiante, ficavam os demais quartos (no terreno onde hoje situa-se a Casa da Pintura e o Supermercado Tem Tem), contando o hotel com um total de 14 quartos para hospedagem.
À tarde, Ernesto gostava de se reunir em uma mesa no refeitório do hotel com outros senhores das redondezas para jogarem cartas, como o Sr. Winter, que morava a poucos metros dali.
No porão do hotel, além da lavanderia, tinha também uma despensa, onde guardavam os mantimentos, como "poliões" com carne na banha e conservas de legumes, com pepinos e repolhos.
Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, Ernesto e estes senhores se reuniam à noite neste porão para tentar ouvir, através de um aparelho de rádio (raros na época), notícias da guerra. Aquele era um tempo de desconfianças e muitos imigrantes alemães e seus descendentes sofreram perseguições pelas autoridades que desconfiavam que eles pudessem estar transmitindo mensagens por aparelhos de rádio para as forças inimigas e, por isso, se alguém fosse pego conversando em alemão, era imediatamente preso e levado para uma cadeia onde aguardava para ser levado a Santa Rosa e passar por interrogatórios.
Seguidamente chegavam pessoas ao hotel, pois este era ponto de parada para os ônibus que traziam passageiros de lugares distantes, como Lajeado, e como muitos vinham para arrumar trabalho, acabavam hospedando-se no hotel. Assim, com o tempo, surgiu outro hotel nas proximidades, o Hotel Portz, de propriedade do Sr. Felipe Anibaldo Portz, (localizado no imóvel onde hoje funciona o Bar 24 horas).
O motorista do ônibus que vinha de Lajeado se chamava Luís Castro, e num destes comboios, certa vez trouxe com ele um jovem de 17 anos, chamado Edgar Mathias Kochhann (nascido em 19.02.1926), que vinha para trabalhar na fábrica de óleo de mamona que ficava do outro lado da rua do hotel (hoje, prédio onde está localizado o Restaurante Tio Arno), de propriedade de Odilo Uhry, irmão de Elvira Uhry, esposa do Dr. Frederico Krebser, que também era natural de Lajeado.
Mas Edgar não se hospedou no Hotel Fleck, e sim, na residência da família Krebser, em um dos quartinhos já mencionados, localizados no sótão da casa, e que não estavam mais sendo utilizados como local para internação de pacientes (neste momento já haviam dois hospitais em Três de Maio).
Mesmo assim, Edgar acabou conhecendo Elly, filha mais velha de Ernesto e Rosalina Fleck, e os dois se casaram no dia 27 de junho de 1943.
Ernesto Fleck faleceu no dia 29 de março de 1950, e após isso, seu irmão, Luís Fleck, que possuía uma barbearia no prédio já desativado da antiga fábrica de óleos, assumiu a administração do hotel.
Rosalina foi morar com a filha Elly e o genro Edgar num imóvel ao lado do hotel, vindo a falecer anos depois, no dia 11 de junho de 1980.
O estabelecimento encerrou oficialmente suas atividades nos anos de 1970, tornando-se hoje uma lembrança quase esquecida de um tempo em que o Hotel Fleck era o primeiro porto-seguro para todos aqueles que chegavam ou passavam de viagem por Três de Maio.