O desafio das irmãs Lima da Silva
As irmãs Karina Valéria, aluna da 2ª série, Priscila Vanessa, da 8ª série e Kátia Marina, da 5ª série, todas estudantes da Escola Estadual Professora Glória Veronese, acompanham as atividades escolares através do WhatsApp. Porém, as irmãs Lima da Silva, dividem um único aparelho de celular, o que torna o aprendizado ainda mais difícil. Ana Jéssica, que já concluiu o ensino médio é quem auxilia as irmãs, quando elas não entendem o conteúdo. Conforme o diretor da escola, Osmar Siepmann, cerca de 90% dos alunos da instituição têm dificuldade de acesso, por falta de equipamento adequado ou internet. O Jornal Semanal inicia nesta semana uma série de reportagens sobre as aulas remotas nas redes estadual, municipal e particular de Três de Maio
Os desafios para quem ensina e para quem aprende
Mudança na rotina escolar afeta a vida dos professores, alunos, pais e toda a sociedade. Na rede pública estadual, o ensino remoto não alcança a totalidade dos estudantes e, em alguns casos, até dos professores. Dentre os motivos, os principais são a falta de equipamentos tecnológicos adequados e a dificuldade de acesso às ferramentas digitais
O ano letivo de 2020 ficará marcado porque é totalmente diferente, inusitado. A pandemia chegou sem avisar e, de uma hora para outra, mudou os planos e a vida de todo mundo. No ambiente escolar não foi diferente. Nem governos, escolas, professores, alunos e, muito menos as famílias, estavam preparadas para lidar com essa situação. A rotina mudou, não somente nas escolas, mas em casa, no trabalho e, essa situação afeta, direta ou indiretamente, toda a sociedade.
Enquanto as escolas adotam alternativas para ensinar os alunos, uma pesquisa feita pelo Datafolha mostrou que, ao menos 20% dos estudantes brasileiros não receberam nenhuma atividade escolar durante a pandemia da Covid-19. Os estados do Sul e do Sudeste foram os que mais ofereceram modalidades de ensino remoto aos estudantes da rede pública.
No Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, a maioria dos alunos receberam atividades para fazer em casa, enquanto as escolas continuam fechadas para evitar a transmissão do coronavírus. Ao menos 93% dos estudantes mantiveram os estudos a partir de emissões de TV, rádio, internet ou material impresso.
Nesta semana, o Jornal Semanal inicia uma série de reportagens sobre o cenário escolar das redes estadual, municipal e particular, com entrevistas de professores e alunos de Três de Maio. Na edição de hoje, a matéria abrange as aulas remotas na rede estadual – das escolas da cidade – Cardeal Pacelli, Castelo Branco e Glória Veronese (Ciep), cujas aulas presenciais foram suspensas em 19 de março.
Por orientação da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), os professores da rede estadual estão realizando formações oferecidas pela pasta para se adaptarem ao uso das ferramentas digitais (Google Classroom e Google Meet). Algumas turmas estão tendo aulas on-line por chamada de vídeo via Google Meet no horário de aula, enquanto há turmas que têm recebido atividades pelo Google Classroom, WhatsApp e e-mail. Aqueles que não possuem acesso à internet têm buscado os materiais na escola a cada 15 dias.
Em nível de RS, são mais de 800 mil estudantes distribuídos em 2,5 mil escolas estaduais presentes no Estado. Já em Três de Maio, são ao todo, mais de 1,7 mil estudantes matriculados, em seis escolas, entre Ensino Fundamental e Ensino Médio, e mais os estudantes do Neeja (Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos).
Dificuldade de acesso, por falta de equipamento adequado ou internet
Longe da sala de aula há mais de 120 dias, alunos e professores vivem uma nova realidade no processo de ensinar e aprender. Segundo a diretora do Instituto Estadual de Educação Cardeal Pacelli, Mara Rejane Scheffler Benedix, a escola está tentando atingir o máximo de alunos. Até o momento, 80% dos alunos já logaram no Google Classroom. “Para as famílias que ainda não atingimos com a tecnologia, as atividades estão sendo enviadas pelos grupos de WhatsApp ou as atividades são retiradas na escola”, explica.
O diretor Osmar Siepmann, da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Glória Veronese (Ciep), revela que, em média, 90% dos alunos têm dificuldade de acesso, por falta de equipamento adequado ou internet. “Nossos estudantes possuem muitas dificuldades relacionadas a equipamentos, é muito difícil, tanto para os professores como para os alunos. A escola está enviando as atividades por WhatsApp, além de imprimir para aqueles que não possuem aceso. Os professores entregam as atividades aos alunos e depois recolhemos”, informa.
Na Escola Estadual de Ensino Médio Castelo Branco, conforme a coordenadora pedagógica Lusiane Cristina Ziemann Tolomini, a alternativa encontrada para alcançar alunos da 1ª a 5ª séries do Ensino Fundamental foi entregar material físico para os pais, a cada semana. “As professoras encontram as famílias, recebem as atividades que são feitas e encaminham novas atividades”, explica. Para os demais, a escola buscou ativar os grupos de WhatsApp para passar informações aos alunos sobre as aulas e para os pais informações sobre a escola.
Além disso, no mês de junho, a Castelo Branco disponibilizou internet e computadores para os alunos que estão tendo dificuldade no acesso as aulas remotas. “Temos 75% de alunos que estão realizando todas as atividades e os outros 25% que fazem parcialmente ou que ainda não estão envolvidos com as atividades da escola”, diz Lusiane.
Para comprovar que estão fazendo as atividades enviadas pelos professores, os alunos devem dar o retorno, por meio de fotos, que servem como comprovação de que o material foi recebido e realizado, além de contar como presença em aula. Em casos em que os alunos não possuem acesso a internet, as atividades estão sendo impressas e podem ser retiradas na escola.
A rede estadual já realizou o recesso escolar, antecipadamente, do período de 4 a 29 de maio. No retorno, em junho, a Seduc repassou orientações às escolas, de acordo com a realidade de cada uma. Os professores foram desafiados a usar o Meet e o Classroom; embora nem todos consigam trabalhar com estas ferramentas e nem todos os alunos possuem acesso. Porém, onde falta estrutura, sobra vontade por parte dos professores para ensinar.
‘É desafiador, especialmente por trabalhar com alfabetização, período em que a presença do professor se faz tão importante’, observa a educadora Rosângela Schröer, da escola Glória Veronese
Professora Rosângela Schröer
“Este vem sendo um período bem desafiador. O medo e a insegurança em relação à doença, a mudança repentina de hábitos e rotinas aliada a essa tão falada ‘reinvenção’ que vem sendo cobrada dos professores, trouxe momentos angustiantes, confesso. Especialmente por trabalhar com alfabetização, período em que a presença do professor se faz tão importante”, descreve a educadora Rosângela Schröer, da E.E.E.F. Professora Glória Veronese.
Outro desafio, na avaliação dela, é a falta de comprometimento de algumas famílias quanto ao respeito às datas de retorno das atividades. “Isso também gera desgaste aos professores e equipe diretiva que precisam ligar seguidamente e, inclusive, ir a domicílio saber do andamento das atividades escolares”.
Porém, em contrapartida, ela garante que está aprendendo muito sobre o uso das tecnologias em sala de aula. “Estou em busca de formação, além da oferecida pela Seduc, no entanto, tenho receio de que a realidade de nossos alunos seja uma barreira a mais na boa qualidade deste ensino remoto. Espero que meus temores não se confirmem e que como professores consigamos ensinar melhor através dessa ferramenta e, o principal, que o nosso aluno de fato aprenda. Espero, até o final do ano letivo, alfabetizar todos os meus alunos”, diz a professora do 2º ano do Ensino Fundamental e do 1º ao 5º ano em diferentes Componentes Curriculares do Tempo Integral.
‘Criar uma nova rotina, organizar as atividades, gerenciar os prazos e garantir que os conteúdos passados estão sendo absorvidos de forma correta, requer muita autonomia e persistência’ , orienta o professor Airton Moisés Cesa, do Cardeal Pacelli
Airton Moisés Cesa
Professor de Estatística (1° ano do Ensino Médio); Matemática (2° e 3° anos do Ensino Médio) e Matemática Financeira (do Técnico em Administração), do Cardeal Pacelli, Airton Moisés Cesa, compreende que o período é de mudanças, preocupações, estudos, incertezas e impotência diante da pandemia.
Com a “sensação de vazio”, ele analisa que “devagar aprendemos e ensinamos”, através de mensagens, fotos, áudios e vídeos. Para o educador, a escola está fazendo o possível para o desenvolvimento com qualidade da aprendizagem. “O que preocupa, é a falta de acesso por uma boa parte dos nossos alunos, já que nem todos possuem canais de acesso (notebook, celular e internet). Com a implantação das salas virtuais e participação efetiva dos alunos, acredito que estreitaremos essa distância, refletindo positivamente em nossos educandos. O que eu realmente espero, além do fim dessa pandemia, é o avanço na aprendizagem e sucesso dos alunos”, diz.
Airton destaca que além dos professores, os alunos também têm sentido dificuldades para se adaptar ao novo modo de aprendizagem. “Alguns relatam que têm se acostumado com as aulas remotas, mas que o início foi bem difícil. Criar uma nova rotina, organizar as atividades, gerenciar os prazos e garantir que os conteúdos passados estão sendo absorvidos de forma correta, requer muita autonomia e persistência”, orienta.
Já outros alunos, segundo o professor, destacam que ainda sentem muita dificuldade em aprender a distância. “As dúvidas tiradas na sala de aula foram substituídas por vídeos no YouTube ou áudios rápidos no Whatsapp. E ainda há aqueles, que não possuem acesso às atividades e precisam dar tudo de si para não só enfrentar as dificuldades nos estudos, mas principalmente, em ter acesso aos conteúdos. Uma das coisas que os estudantes mais sentem falta é do contato com os professores, da troca de ensinamentos feita na sala de aula, além é claro, da convivência com os colegas”, finaliza Airton.
Além de professora, sou mãe de duas meninas em idade escolar, que também precisam dessa adaptação. Assim, de certa forma, a escola veio para dentro da nossa casa’ diz Jaqueline Signori, da escola Castelo Branco
Além dos desafios apresentados no novo modo de dar aula, muitos professores viram a necessidade investir financeiramente em novos recursos para realizar, da melhor forma, as aulas remotas.
Jaqueline Rogéria Petry Signori, professora de Língua Portuguesa (6º e 8º ano do Ensino Fundamental; 2º e 3º ano do Ensino Médio) na Castelo Branco declara que este período tem sido de desafio, aprendizagem e muita superação. “No início estava confusa e insegura por que não tinha conhecimento das ferramentas digitais para realizar o trabalho online. Então, meu primeiro desafio foi de buscar este conhecimento e aplicá-lo em minhas aulas”, comenta.
Depois, a educadora percebeu que não era possível realizar um trabalho realmente válido, sem haver interação humana com seus alunos. “Sentia-me frustrada em apenas encaminhar conteúdos e atividades sem realizar a explicação e correção das mesmas. Minha maior preocupação era e continua sendo, com a aprendizagem deles”, afirma.
Outro desafio, relata Jaqueline, foi o de desembolsar recursos para se adaptar à nova forma de dar aulas. “Para me adaptar com tudo isso precisei investir na compra de mais um notebook, uma impressora, além de uma câmera e um microfone para adaptar à máquina que eu já tinha em casa. Isso tudo, por que além de professora, sou mãe de duas meninas em idade escolar, que também precisam dessa adaptação. Assim, de certa forma, a escola veio para dentro da nossa casa”, resume.
Mesmo com a certeza de que a pandemia será superada, a professora admite que ainda temos muito a enfrentar. “Enquanto isso, procuro ter muita empatia, sem deixar de cumprir o meu papel, pois se está difícil para mim, para o outro também está. Então, paciência, planejamento e enfrentar as dificuldades de forma positiva, são os desafios para continuar realizando meu trabalho. Acredito sempre na importância da profissão que escolhi para mim: ser professora”, conclui Jaqueline.
‘Este período tem sido de desafios, aprendizagem e muita superação. No início estava confusa e insegura por que não tinha conhecimento das ferramentas digitais para realizar o trabalho online. Então, meu primeiro desafio foi de buscar este conhecimento e aplicá-lo em minhas aulas... Minha maior preocupação era e continua sendo, com a aprendizagem deles’, diz a professora Jaqueline Signori, da Castelo Branco
Professora Jaqueline Signori
Além de professora, sou mãe de duas meninas em idade escolar, que também precisam dessa adaptação. Assim, de certa forma, a escola veio para dentro da nossa casa’ diz Jaqueline Signori, da escola Castelo Branco
Além dos desafios apresentados no novo modo de dar aula, muitos professores viram a necessidade investir financeiramente em novos recursos para realizar, da melhor forma, as aulas remotas.
Jaqueline Rogéria Petry Signori, professora de Língua Portuguesa (6º e 8º ano do Ensino Fundamental; 2º e 3º ano do Ensino Médio) na Castelo Branco declara que este período tem sido de desafio, aprendizagem e muita superação. “No início estava confusa e insegura por que não tinha conhecimento das ferramentas digitais para realizar o trabalho online. Então, meu primeiro desafio foi de buscar este conhecimento e aplicá-lo em minhas aulas”, comenta.
Depois, a educadora percebeu que não era possível realizar um trabalho realmente válido, sem haver interação humana com seus alunos. “Sentia-me frustrada em apenas encaminhar conteúdos e atividades sem realizar a explicação e correção das mesmas. Minha maior preocupação era e continua sendo, com a aprendizagem deles”, afirma.
Outro desafio, relata Jaqueline, foi o de desembolsar recursos para se adaptar à nova forma de dar aulas. “Para me adaptar com tudo isso precisei investir na compra de mais um notebook, uma impressora, além de uma câmera e um microfone para adaptar à máquina que eu já tinha em casa. Isso tudo, por que além de professora, sou mãe de duas meninas em idade escolar, que também precisam dessa adaptação. Assim, de certa forma, a escola veio para dentro da nossa casa”, resume.
Mesmo com a certeza de que a pandemia será superada, a professora admite que ainda temos muito a enfrentar. “Enquanto isso, procuro ter muita empatia, sem deixar de cumprir o meu papel, pois se está difícil para mim, para o outro também está. Então, paciência, planejamento e enfrentar as dificuldades de forma positiva, são os desafios para continuar realizando meu trabalho. Acredito sempre na importância da profissão que escolhi para mim: ser professora”, conclui Jaqueline.
‘As próximas semanas ainda são uma incógnita para todos.’, avalia a professora Verenice Elisabete Hatje, do Cardeal Pacelli
Professora Verenice Elisabete Hatje
“O professor sempre busca se adaptar ao novo, as novas formas de ensinar, porém priorizamos sempre o melhor para cada um dos alunos, pensando na realidade de cada um”, destaca a professora Verenice Elisabete Hatje. Ela leciona Geografia e História no Ensino Fundamental – Séries Finais e Geografia, no Ensino Médio, no Instituto Estadual de Educação Cardeal Pacelli, em Três de Maio, e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Espírito Santo, em Horizontina.
Para superar os desafios do atual momento, ela procura elaborar atividades em que os alunos tenham mais facilidade em desenvolver, ou seja, tenham autonomia de buscar o conhecimento geográfico sem a presença do professor. “E, alguns alunos que sentem mais dificuldades, nos procuram para tirar dúvidas via WhatsApp”, explica.
Na avaliação de Verenice, os próximos meses ainda são uma incógnita para todos. “Mas temos a esperança que possamos logo voltar ao convívio diário com nossos alunos. O ensinar não é simplesmente repassar conteúdos, e sim envolve também um diálogo e uma relação mútua entre professor e aluno”.
A educadora faz um desabafo. “Hoje, a maior dificuldade que sinto como professora é não saber se realmente os meus alunos estão aprendendo ou atingindo os objetivos propostos através do ensino a distância. Sinto-me angustiada, também, por aqueles alunos que demonstraram dificuldade de aprendizagem durante as aulas presenciais e que, através do ensino remoto, acredito que se tornaram ainda mais difíceis, uma vez que estes alunos precisam do acompanhamento de perto do seu professor”, lamenta.
‘Na rede estadual ainda contamos com a realidade da escola pública onde parte do processo encontra a barreira da falta de estrutura’, enfatiza o professor Kleber Martins, da Castelo Branco
O professor Kleber José Goularte Martins, da escola Castelo Branco, que leciona para o Ensino Médio, nas disciplinas de História, Sociologia e Desenvolvimento Pessoal, reforça a opinião de que o momento não tem sido fácil para ninguém. “Comigo não é diferente, estou me adaptando, assim como todos, desde alunos, direção e professores”.
E, na rede estadual, a situação fica ainda mais difícil, segundo ele. “Ainda contamos com a realidade da escola pública onde parte do processo encontra a barreira da falta de estrutura. Dentro da realidade que temos, eu diria que estamos fazendo o possível, buscando conhecimento, técnicas novas e ferramentas na tentativa de atingir os objetivos que tínhamos quando estávamos em sala de aula”.
Quanto às dificuldades, Kleber destaca que toda essa mudança foi muito repentina e vai levar tempo até que todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem possam se adaptar e que uma normalidade seja algo real na Educação.
Como professor da área das Ciências Humanas, e tendo conhecimento de outros momentos em que inúmeras sociedades passaram por dificuldades semelhantes, ele afirma que esse momento vai se tornar um marco. “O antes da pandemia e o pós-pandemia, ou seja, a vida não será mais como era antes. Na Educação precisamos ter em mente que isso é uma realidade e espero atravessar as dificuldades que ainda poderão vir, vencer as adaptações e poder continuar contribuindo com meu papel social, visto que eu entendo que neste momento parte dele está comprometido”, avalia.
O ensino remoto da rede estadual no RS
– A rede estadual conta com cerca de um milhão de professores, alunos e servidores estaduais em condições de utilizarem o Classroom, do Google for Education, para realizar aulas remotas.
– Até o fim de junho, em todo o RS, mais de 37 mil turmas estavam realizando atividades remotas, com mais de 300 mil ambientes virtuais, dividivos por disciplinas.
– A ferramenta Classroom foi escolhida pelo governo gaúcho para viabilizar o ensino virtual nas escolas públicas estaduais durante o período em que as escolas públicas permanecem fechadas em razão do coronavírus.
– Cerca de 60 mil professores da rede pública foram capacitados por meio do chamado Letramento Digital, conjunto de metodologias para elaboração de aulas remotas, que contempla oficinas práticas sobre os recursos e ferramentas do Google for Education.
– Na primeira etapa do ensino remoto, em março e em abril, 440 mil dos 812 mil alunos de colégios estaduais acessaram plataformas digitais, o que corresponde a 54,18%. A Seduc avaliou, na época, que pelo menos 60 mil estavam “fora da sala de aula”, não no sentido literal, mas no prático: são estudantes que já não estavam participando das atividades escolares.
– Assim, cerca de 300 mil (36,94%) ficaram sem participar do ambiente online por falta de acesso.
– Pesquisa do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) Educação 2019, divulgada em junho, aponta que 39% dos estudantes de escolas públicas urbanas não têm computador ou tablet em casa no Brasil. Nas escolas particulares, o índice é de 9%. Os dados mostram o cenário em que a educação entrou na pandemia em 2020 e indicam o tamanho do desafio no ensino remoto, montado às pressas quando houve necessidade de fechamento das escolas para evitar a propagação do coronavírus.
Avaliação dos alunos sobre as aulas retomas
“As aulas remotas tem sido bem legais, eu até tenho gostado deste período. Alguns professores mandam o conteúdo e outros fazem aula online. Quando eu tenho alguma dúvida, procuro ajuda, mando mensagem, e eles sempre me respondem. Eu tenho me adaptado muito bem, me organizo para fazer meus temas e manter os conteúdos em dia. Apesar de tudo, eu queria que as aulas presenciais voltassem, por que é muito mais fácil tirar as dúvidas e aprender, também por que eu sinto muita falta de estar com os meus amigos”.
Nadine Simone Mazurkevicz, 12 anos, aluna da 6a série da Escola Estadual de Ensino Médio Castelo Branco.
“Para mim, as aulas remotas estão um pouco complicadas, mas vejo que os alunos estão se esforçando bastante para dar conta. Recebemos fotos por WhatsApp de todos os professores no horário de aula e também, logo começarão as aulas online por chamada de vídeo. Tenho acompanhado bem os conteúdos, criei uma rotina para conseguir manter os estudos em dia, ajudar meus pais em casa e também, para ter um momento de lazer. Nas matérias que tenho dificuldade, busco vídeos na internet para conseguir entender. Estou esperançoso para que as aulas presenciais voltem, sinto muita falta dos meus amigos, de ter contato com os professores e de estar na sala de aula, até de apresentar os trabalhos, já que agora só mandamos fotos”.
Guilherme da Motta Krever, 13 anos, aluno da 8º série do IEE Cardeal Pacelli
“As aulas remotas estão sendo bem difíceis, é algo novo tanto para os alunos quanto para os professores, principalmente para os professores, que estão tendo que se reinventar no seu modo de dar aula. Até então, (meados de julho) eu não tive aula por chamada de vídeo, apenas atividades que são enviadas pelos grupos de WhatsApp e que retorno dentro do prazo estabelecido. Tem sido difícil me adaptar e criar uma rotina, acredito que com as aulas online (por chamada de vídeo), vai ajudar muito, será mais fácil tirar as dúvidas e, também, me organizar em relação as outras atividades que temos, além da escola. Apesar de sentir muito medo em relação à pandemia, ficaria extremamente feliz se as aulas presenciais voltassem, estou no terceiro ano e acredito que estou perdendo muita coisa. Sinto falta de estar na sala de aula e poder falar com os professores ao vivo”.
Izzy Renata dos Santos, 17 anos, aluna do 3° ano, do IEE Cardeal Pacelli
“No começo as aulas remotas foram bem difíceis, mas neste momento eu estou me acostumando. Tenho me adaptado, criando uma nova rotina para fazer as atividades e conseguir manter meus estudos em dia. A organização dos professores e as aulas no período da manhã foram fundamentais para que eu conseguisse, de fato, me organizar e focar. Assim, durante a aula, vou fazendo anotações e administrando o prazo das atividades para que nada fique para trás. Quando eu não consigo entender algo ou tenho dificuldade, tenho buscado recursos além do que o professor explica, esta é, também, uma forma de garantir que a minha efetividade nos estudos se mantenha. As dificuldades que tenho enfrentado com as aulas remotas são em relação as distrações, estamos em casa então é preciso ter cuidado para separar as coisas. Apesar de tudo, sinto que eu e meus colegas nos aproximamos ainda mais, estamos ajudando uns aos outros e mantendo contato”.
Marielly Beier da Cruz, 15 anos, Escola Estadual de Ensino Médio Castelo Branco, 1º ano do ensino médio.
Um celular para três irmãs
Priscila, estudante da 8a série da escola Glória Veronese, está no mesmo grupo das turmas de suas irmãs, Karina Valéria, 2a série e Kátia Marina, 5a série. É ela quem controla as atividades enviadas pelo whatsApp.
As três irmãs dividem um único aparelho de celular
Priscila Vanessa Lima da Silva, estudante da 8a série da escola Glória Veronese e as duas irmãs Karina Valéria , estudante da 2a série e Kátia Marina, da 5a série estão recebendo todas as atividades por um único celular. Quando necessário, as irmãs pegam um computador emprestado para auxiliar nos estudos. Esta é a realidade das irmãs Lima da Silva.
Priscila está no grupo das turmas de suas irmãs, Karina Valéria, 2a série e Kátia Marina, 5a série. É ela quem controla as atividades e passa adiante. Por serem mais novas, a adolescente relata que precisa ajudar as irmãs a realizar as atividades, por isso procura sempre se organizar para conseguir conciliar tempo para ajudar as irmãs e ainda fazer suas próprias tarefas. As três irmãs, além dos trabalhos pelo celular, ainda têm atividades que estão sendo buscadas na escola.
“Às vezes, quando possuímos alguma dúvida, mando mensagem para os professores, mas não é sempre que eles têm disponibilidade para responder, então eu evito. Nesses casos, peço ajuda para minha irmã mais velha, que já saiu da escola. Ela consegue nos auxiliar muito bem”.
As maiores dificuldades enfrentadas pelas irmãs está em aprender, principalmente as mais novas que estão nas séries iniciais e precisam do contato com os professores e colegas. Priscila ressalta que, apesar de ser mais velha e já saber boa parte dos conteúdos que as irmãs estão aprendendo, tem sido muito difícil ensinar a elas, ainda mais quando se depara com conteúdos que não lembra.
“Eu tenho tentado aprender, me esforçado. Porém, há muita coisa que eu não entendo e que não tenho resposta imediata dos professores, sendo assim, acabo entregando as atividades incompletas, isso faz com que eu me sinta impotente. Eu sei que os professores têm muitos alunos e que também estão passando por dificuldades para se adaptar, mas a questão é que tem aluno precisando de ajuda e não está recebendo.”
A irmã mais velha, Ana Jéssica, de 22 anos, que tem auxiliado nas atividades, revela que está sendo um período muito difícil e que não é fácil ver as irmãs passando por dificuldades na aprendizagem, principalmente por não terem os equipamentos necessários. “Eu não me sinto bem vendo elas sofrendo por não conseguirem entender os conteúdos, nós não temos acesso à internet de boa qualidade e eu sei que neste momento isso influencia para que elas possam ter um bom rendimento nos estudos. No que eu posso, ajudo, mas é claro, é totalmente diferente da explicação de um professor. Eu espero, de coração, que tudo isso seja passageiro, queria que as coisas fossem diferente, mas como não temos outra alternativa, temos que nos virar com o que temos”.
As irmãs finalizam com um pedido: “Esperamos que as pessoas que não estão dando importância para esta situação, que se cuidem mais, que se preservem mais e que pensem, antes de fazer algo. A saúde de todos está em risco, peço que as pessoas fiquem em casa e que só saiam em caso de necessidade”.
‘Hoje a maior dificuldade que sinto como professora é não saber se realmente a maioria dos meus alunos está aprendendo ou atingindo os objetivos propostos pela realização das atividades através do ensino à distância’, desabafa a educadora Verenice Elisabete Hatje
OBS: Todas as entrevistas da reportagem sobre as aulas retomas foram feitas via WhatsApp e e-mail, respeitando os protocolos de segurança em função da pandemia do coronavírus.
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