No ritmo do Banco, no tempo da vida A história de Antônio Inácio Unser

No ritmo do Banco, no tempo da vida A história de Antônio Inácio Unser
Mesmo que nem tudo tenha acontecido como planejado, Antônio tem a alma leve e feliz

Quando Antônio Inácio Unser  chegou para a entrevista, os olhos estavam um pouco apreensivos e o jeito contido davam pistas de quem não sabia bem o que esperar. Mas bastou um "boa tarde" mais demorado, uma pergunta com jeitinho, e logo a conversa deslanchou. Em segundos, o nervosismo deu lugar ao riso solto, ao brilho nos olhos, e àquela vontade boa de contar histórias que quem viveu muito sempre tem guardada no peito.

Antônio tem 67 anos e nasceu em São Martinho. De família grande — seis irmãos no total, dois homens e quatro mulheres — cresceu entre a lida e o riso, e logo cedo aprendeu que a vida não espera.

Mas nem só de trabalho vivia o menino Antônio. Jogava futebol, e aos domingos, religiosamente, ia à missa. A mãe, que cantava no coral da igreja há incríveis 43 anos, enchia a casa de música e fé. “Já são falecidos”, diz ele, com aquele silêncio breve de quem lembra com ternura.

Aos 15 anos, a vida levou Antônio para Coronel Bicaco, onde foi trabalhar na oficina mecânica do cunhado. Em São Martinho não havia segundo grau, e estudar era prioridade. Trabalhava de dia, estudava à noite. 

Depois, com o surgimento do segundo grau em São Martinho, voltou para concluir os estudos e aos 18 anos ingressou na empresa asfáltica Camargo Corrêa, onde coletava britas e solo para testes de qualidade. Aprendeu na prática o valor do esforço — e da brita também.

O próximo capítulo da vida de Antônio se abriu quando ele passou a trabalhar como contínuo no Banrisul. Foi crescendo dentro do banco: títulos, cobranças, contabilidade... e um coração que batia por uma nova paixão. Justamente quando pleiteava transferência para Santo Ângelo, conheceu aquela que viria a ser sua esposa. “O amor é lindo!”, ele diz, rindo como quem ainda sente o coração bater diferente ao lembrar.

Casaram-se. Tiveram dois filhos, Jader e Alan. Tudo ia bem, até que os desafios da vida adulta — com os tropeços familiares e as exigências profissionais — acabaram por gerar um stress agudo. Precisou cuidar da saúde num hospital em Porto Alegre. Com coragem e apoio, enfrentou a dor e seguiu adiante.

Depois da separação, voltou a morar com a mãe e trabalhou como cambista. Até que um dia, acompanhado pelo filho e pela nora, conheceu o Lar dos Idosos. A proposta era ficar 30 dias — se não gostasse, voltaria para casa. Mas se encontrou. Está no Lar dos Idosos há cinco anos e confessa com um sorriso: “Tem dias que dá vontade de sair, mas logo passa. Aqui é o meu segundo lar.”

E que figura ele é por lá! Conhecido como o contador de piadas oficial do lar, espalha alegria pelos corredores. Lembra com carinho de uma história do tempo de banco: “Tinha um colega muito alto. Media mais de dois metros de altura. Um dia frio, perguntei para ele: ‘Como tá a temperatura aí em cima?’ — e caímos na risada!”. Dá pra imaginar a cena.

Hoje, se emociona ao falar dos filhos, ambos concursados da Prefeitura de Boa Vista Buricá, trabalham e moram naquele município. Mas o que o emociona mesmo é quando fala dos netos Sophie, Bernardo e Gabriela, que lhe enchem de orgulho. As visitas são frequentes e cheias de carinho. 

Ao ser perguntado sobre o que faria diferente, é direto: “Teria estudado mais. Sonhava em fazer Direito em Santo Ângelo. Mas aí me apaixonei e... larguei tudo. O amor é bonito, né?”, diz, com aquele riso que mistura saudade e aceitação.

Deixa uma mensagem clara para os jovens, para os filhos e netos: “Estudem. Aproveitem as oportunidades. E fiquem longe das drogas. Isso é a pior coisa que existe.”

Entre risos, saudades e conselhos, Antônio vai vivendo — com alma leve, coração aberto e a certeza de que, mesmo que nem tudo tenha saído como ele planejou, a vida, do seu jeito simples e surpreendente, acabou lhe presenteando com histórias que valem a pena ser contadas.