Cultura de trigo é prejudicada pela geada

A geada que cobriu as lavouras da região nas madrugadas de sexta-feira, sábado e de domingo trazem perdas nas plantações de trigo. Especialistas do agronegócio apontam que, ao menos 35? produção de trigo no Estado foi perdida após o fenômeno climático e, com isso, a expectativa inicial de 3,2 milhões de toneladas terá um desfalque de 1 milhão. Em Três de Maio, as perdas são bastante variáveis, conforme o chefe do Escritório Municipal da Emater, Leonardo Rustick. As maiores perdas ocorreram nas lavouras na fase de espigamento ou floração. Nos 30 hectares destinados ao cereal do produtor rural Paulo Daniel, as perdas podem chegar a 70%. Além do trigo, também foram registradas perdas na lavoura de milho.

Cultura de trigo é prejudicada pela geada
Geada cobriu as lavouras da região nas madrugadas de sexta-feira, sábado e domingo

Geada prejudicou potencial produtivo das lavouras de trigo da região

Perdas foram bastante variáveis; em algumas lavouras de Três de Maio podem ter chegado a 100% 

Segundo maior produtor brasileiro de trigo e com mais de 20% de seu mapa suscetível ao frio, o Rio Grande do Sul deve contabilizar nos próximos dias os prejuízos agrícolas causados pela formação de geada na sexta-feira, 21, e no sábado, 22. Especialistas do agronegócio apontam que ao menos 35% da produção de trigo no Estado foi perdida após o fenômeno climático e, com isso, a expectativa inicial de 3,2 milhões de toneladas terá um desfalque de 1 milhão, o que representa a diminuição de R$ 1,1 bilhão circulando na economia gaúcha.
De acordo com o engenheiro agrônomo e consultor técnico, José Domingos Teixeira, essa foi uma das piores geadas da história da triticultura no RS. O reflexo desta perda na produção será o aumento do custo do trigo e de seus produtos, como o pão, ao consumidor final.
Em Três de Maio, as perdas são bastante variáveis, explica o chefe do Escritório Municipal da Emater, Leonardo Rustick. “A geada de maior intensidade, na sexta, 21, prejudicou as principais culturas de inverno, como trigo e aveia. No trigo, causando maior perda, porque está na fase de florescimento e enchimento de grãos, em que se define o potencial produtivo”, justifica. 
Até essa fase, o trigo é muito resistente a intempéries climáticas, principalmente a geada. “Porém, desse estágio em diante, o cereal é muito sensível. A Emater está indo a campo, visitando inúmeras lavouras, apurando caso a caso. Mas o tamanho do prejuízo depende da cultivar, da posição geográfica da lavoura, da exposição à maior incidência de geada; são vários fatores. Em algumas lavouras as perdas podem chegar a 100%, enquanto em outras, as perdas foram mínimas.” 

Embora as adversidades climáticas, trigo é a cultura de inverno mais cultivada e que predomina nas lavouras do município e microrregião 

 

Momento de preocupação, mas não de precipitação
Leonardo ressalta que além dos produtores, a Emater também está preocupada, pois os 9,5 mil hectares destinados à cultura – 500 hectares a mais que a safra passada –, estavam apresentando um bom desenvolvimento. “A expectativa era de uma boa safra, comparada com as anteriores. A planta estava muito bonita, com sanidade muito boa e um potencial muito bom”. 
Conforme o chefe da Emater, a maioria das lavouras da região tem seguro agrícola, então, os produtores devem ficar atentos. “A orientação é monitorar as lavouras, com assistência técnica, Emater, e outros escritórios. Ir à campo verificar se a lavoura teve perda acentuada. O agricultor tem direito a encaminhar o seguro agrícola para cobrir os custos de produção. O efeito da geada vai aparecer, posteriormente, em uma ou duas semanas, quando o estrago pode ser visto de forma mais nítida. E, com certeza, se a lavoura teve grande perda, é um direito do produtor encaminhar o seguro agrícola”, aconselha. 
Outras culturas prejudicadas foram a aveia e o milho. “Sobre a cultura de aveia a situação é menos drástica. Já as lavouras de milho, vimos até o momento, estão rebrotando. A geada queimou a planta, mas na maioria das áreas já está acontecendo o rebrote”. 

 

‘A gente planta para produzir. Sem produção, se torna inviável o cultivo’, diz agricultor 

Produtores rurais consultados pelo Semanal reforçam a avaliação da Emater local, que fala que as perdas são muito variáveis nas lavouras de trigo de Três de Maio e região. 
Segundo o agricultor Paulo Daniel, “o trigo já estava 'granando', e ficou bastante prejudicado”. Ele plantou 30 hectares do cereal, sendo que as perdas podem chegar a 70% da área cultivada. Além disso, também foram registradas perdas na lavoura de milho. “A geada queimou o milho também; tem partes que não rebrota mais.”
Já para o agricultor Vilmar Schröer, a geada não afetou as lavouras, pois, tendo plantado em julho, depois de colher o milho safrinha, o trigo ainda está pequeno. O produtor tem seguro agrícola. 
Vilmar cultiva 16 hectares de trigo e 14,5 hectares de milho. “O milho como era pequeno vai rebrotar. Imagino que aquele que estava espigado tenha perda total. Mas só vai dar para ver depois que chover”, disse o agricultor. 
Já para outros produtores rurais, que têm lavouras com grandes áreas, as perdas podem chegar a 95% nos quase mil hectares cultivados nas lavouras de Três de Maio e região. 
Eles, que preferem não se identificar, comentam que a safra vinha tendo bom desenvolvimento, com estimativa de colheita de até 70 sacas por hectare. “Ainda bem que temos seguro em praticamente 90% da área. Essa colheita será pior que a do ano passado”.
Segundo os agricultores, a perspectiva de lucro dessa safra era em torno de 25 sacas por hectare (cálculo estimado). “Para quem investe em tecnologia, como nós investimos, a cultura do trigo se torna inviável. A gente planta para produzir. Sem produção, se torna inviável o cultivo.”

 

‘Na região, não temos outro produto agrícola para substituir o trigo’, diz chefe da Emater 

O chefe do Escritório da Emater revela que um estudo realizado pelo Ministério da Agricultura sugeriu que fosse banido o plantio de trigo na região Noroeste do RS, tendo em vista o alto risco climático da cultura. Ele complementa, ainda, lembrando que, no histórico do cultivo de trigo, de 10 anos, teve perdas por geadas, por chuvas excessivas... nas últimas três colheitas houve problemas. "São muitas adversidades", cita. 
Para Leonardo o seguro agrícola é fundamental, pois cobre os custos de produção evitando que o agricultor fique com dívida no agente financeiro. “O agricultor familiar tem o amparo do seguro agrícola. Porque ao perder a safra e não ter um seguro, ele teria que se desfazer de bens para pagar dívidas. Porém, o produtor sempre planta pensando em colher, em ter uma lucratividade”.
Contudo, ele destaca que a decisão de não apostar mais no cultivo do trigo deve ser bem planejada e avaliada. “Na região não temos outro produto agrícola para substituir o trigo. Temos toda cadeia logística, condições de plantar, adquirir insumos. Hoje se o agricultor decidir não plantar mais trigo na região, toda a economia vai estar comprometida”.