A vida dos três-maienses pelo mundo afora
Paula Dürks Cassol, 31 anos, está morando em Portugal desde 2021. Formada em Direito, a jovem ingressou em programa de doutorado em Direitos Humanos nas Sociedades Contemporâneas, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, na cidade de Coimbra.
Escolha por Portugal
O país escolhido foi uma consequência de seu programa de doutorado. “Apesar de ser em Portugal, é um programa internacional, as aulas, textos e trabalhos são em inglês, e tenho colegas do mundo todo. Além disso, é um programa interdisciplinar, que trata sobre direitos humanos a partir de uma perspectiva crítica”, comenta.
Paula conta que precisou de muito preparo para conseguir ingressar no doutorado e que levou dois anos com várias tentativas para atingir o sonho. Hoje, Paula se considera muito mais uma acadêmica do que advogada, pela sua trajetória no meio que estuda.
Desde criança, a três-maiense teve o desejo de conhecer outros lugares, mas nunca havia saído da América Latina antes de morar em Portugal. “Acredito que para uma menina do Interior, pensar em estudar fora sempre vinha acompanhado de muitos obstáculos, inclusive financeiros, mas principalmente uma síndrome da impostora, em que achava que nunca seria boa o suficiente”, avalia.
Paula foi para o exterior com o marido Andrei, que também tinha o desejo de sair do Brasil e tentar outros caminhos profissionais. “Estamos nós dois aqui, mas queremos trazer nossas gatas, Elis e Dolores, que ainda estão no Brasil. Elas já estão com toda a documentação pronta para viajar, só não as trouxemos ainda pois estávamos esperando ver onde nos estabeleceríamos”, conta.
Em junho ou julho o casal irá fixar residência na França, devido à atividade profissional de Andrei.
Adaptação no país
Paula considera que o maior desafio no país, assim como em outros lugares da Europa, é a burocracia, que é desgastante e testa a força de vontade frequentemente. “Além disso, a saudade da família e dos amigos, das referências de lugares e cultura, é um desafio nos momentos em que estamos mais frágeis”, revela Paula. Ao menos ela conseguiu encontrar erva-mate no país, o que transmite um laço de proximidade com a terra natal.
O país não tem muitas diferenças culturais, de alimentação ou clima comparado ao Brasil. “Portugal com certeza é o país da Europa mais semelhante ao Brasil, e o mais fácil de se adaptar nesse sentido”, compara.
Dia a dia
A doutoranda passa várias horas na biblioteca e encara muitas escadas no seu dia a dia. “Como estou no primeiro ano do doutorado, tenho tido muitas aulas, leituras e trabalhos”, comenta.
Ela revela, que eventualmente sobra tempo pra passear um pouco e sair com os amigos que estão fazendo na cidade. "Confesso que tem sido raro nesse momento”, conclui.
Receptividade aos brasileiros
Para a jovem, o maior impacto em sua chegada foi a xenofobia contra os brasileiros. “O colonialismo ainda é muito forte na maior parte dos portugueses”, conta.
Ela ainda percebe que, muitas vezes, quando fala o português brasileiro, considerado incorreto por muitos portugueses, há uma mudança na forma a qual é tratada.
Andrei e Paula na estátua de Fernando Pessoa, na capital Lisboa
Sistema de saúde
A jovem três-maiense compara a saúde portuguesa semelhante ao SUS brasileiro, público, universal e gratuito, porém, segundo ela, o Sistema Único de Saúde do Brasil é melhor.
Como o Brasil e Portugal tem um acordo mútuo para prestação de assistência médica através do serviço público, Paula tem um número de usuária do Sistema Nacional de Saúde-SNS. Por esse número, ela consegue frequentar a Unidade de Saúde Familiar-USF próxima de sua casa. Na USF ela pode fazer acompanhamento médico e tomar a vacina contra Covid-19. “Eu também tenho acesso à assistência médica da Universidade de Coimbra, onde faço meu doutoramento, e que possui um custo simbólico. Há também a Emergência do Hospital Universitário, que seria o lugar mais indicado para quem não é residente e precisa fazer uso de algum atendimento médico”, relata.
Salário mínimo
Paula revela que, por ter o custo de vida mais baixo de todo o continente europeu, Portugal também tem o menor salário mínimo, atualmente de 705 euros (cerca de R$ 3.640,00). Ela ainda conta que a média salarial varia pela profissão e cidade onde trabalha. “Lisboa e Porto têm os maiores salários, mas também maior custo de vida comparado com o interior, como Coimbra”, avalia.
Paula na Ponte de Santa Clara, sobre o Rio Mondego, que atravessa a cidade de Coimbra
Conselho para quem deseja morar fora do Brasil
Paula imagina que morar fora do Brasil possa ser o desejo de muitos brasileiros hoje, diante das dificuldades que o país enfrenta. “Acredito que depende muito do que cada um entende por sucesso, mas posso dizer que emigrar exige pelo menos um pouco de planejamento e muita força de vontade. As dificuldades de ser migrante se somam as dificuldades já existentes no dia a dia, fora a saudade, que sempre se faz presente. Mas o mais essencial, que mais me ajudou na escolha, além de um planejamento financeiro, foi conversar com pessoas que já fizeram isso, entender os caminhos, e me agarrar ao meu propósito pessoal”, acrescenta.
Morar na Europa deve ser definitivo
A três-maiense revela que a ideia é ficar na Europa em definitivo. “Andrei fez uma mudança de carreira, saindo da universidade pública, indo para a iniciativa privada e eu busco construir uma carreira por aqui”.
No momento, o casal ainda não sabe quando conseguirá visitar o país natal. “Meu esposo foi contratado recentemente por uma empresa francesa. Com todas as mudanças e com o meu doutorado, provavelmente só no próximo ano consigamos passar uns dias no Brasil”, finaliza.
Paula contemplando a cidade do Miradouro em Coimbra
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